A maior parte das escolas brasileiras conta com computadores, e o anúncio de investimentos em tecnologia para as salas de aula já virou um hábito do governo. Mesmo assim, estudiosos afirmam que o Brasil está atrasado no aproveitamento de novas tecnologias na educação. A simples compra de aparelhos parece não estar contribuindo efetivamente para a aprendizagem. Além disso, a habilidade dos professores com as novidades tecnológicas tende a ser inferior à dos alunos, a quem deviam ensinar.
Boa parte dos docentes admite que a formação acadêmica que receberam não os preparou suficientemente para lidar com tecnologias. Uma pesquisa realizada pelo Movimento Família Mais Segura na Internet, que coletou dados de mil escolas públicas e privadas espalhadas pelo país, mostrou que somente 16% dos professores consultados afirmam que a faculdade os capacitou o bastante para trabalhar com tecnologia da informação em sala de aula.
O desequilíbrio entre o potencial dos instrumentos e o conhecimento dos professores a respeito desses recursos acaba levando a um
subaproveitamento da tecnologia que pode até atrapalhar. "Fornecer um computador é parecido com dar um carro. Não adianta entregá-lo, é preciso que a pessoa que o recebe saiba dirigir", diz a advogada e especialista em Direito Digital Sandra Tomazi, que participa do movimento.
Segundo ela, no decorrer da pesquisa, vários professores revelaram ter dúvidas sobre como fazer uma busca avançada no Google, como citar o crédito de um vídeo ou mesmo que desconheciam o alcance de uma publicação nas redes sociais.
Exemplo
A coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fabiana Andreoli, concorda que o problema do Brasil já não é tanto a falta de equipamento. "Nós temos tecnologia de ponta, mas estamos atrasados em metodologias de aprendizagem mais significativas", diz.
Em setembro de 2012, Fabiana recebeu o Prêmio de Excelência da Associação Brasileira de Educação a Distância, graças à tese de doutorado, aplicada numa das disciplinas do curso de Engenharia Ambiental. Os alunos cumpriam várias atividades em ambientes virtuais, escolhendo a opção digital com que mais se identificavam (como listas de discussão, vídeos etc), e chegavam para as aulas presenciais com boa parte do conteúdo já dominado.
"Os alunos de hoje são multimídia, habituados a conversar pelo Skype enquanto acompanham o Twitter e checam novidades do Facebook com o Google aberto para concluir uma pesquisa", define.
Computador vira fonte de diversão
A falta de estímulo para usar a tecnologia como fonte de aprendizagem leva os estudantes a verem no computador apenas um instrumento de diversão. Segundo o professor de informática Fernando Santana Júnior, a maioria dos alunos só explora todo o potencial da máquina em atividades de entretenimento, como jogos e interatividade nas redes sociais.
"Na hora de fazer trabalhos, em vez de usar os recursos que permitem uma pesquisa mais aprofundada, eles se limitam a buscas que exijam menos esforço", diz Santana, que já trabalhou na rede estadual, em um Liceu dos Ofícios e hoje ministra aulas de informática na ONG Rede Esperança.
O professor concorda com a necessidade de mais treinamento para os docentes, mas faz a ressalva de que vários recursos digitais ainda não estão disponíveis no ensino público. "Seria ótimo poder contar com softwares como o Google Earth para estudo de história e geografia, por exemplo".
A especialista em Direito Digital Sandra Tomazi diz que o hábito dos alunos de tratar pesquisas na internet como uma banalidade acaba colocando as próprias escolas em risco. Em alguns casos de desrespeito a direitos autorais, a instituição que aceita um trabalho plagiado também pode ser punida.