Na era do uso massivo das redes sociais e de aplicativos de comunicação que facilitam espalhar informações a centenas de usuários com apenas um dedo na tela ou clique no mouse, nada tem se espalhado mais rápido do que as notícias falsas.
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O tema foi inclusive alvo de um alerta em carta escrita pelo físico britânico Tim Berners-Lee, que idealizou e inventou a World Wide Web há 28 anos. Para ele, o hábito de se informar pela internet e o uso de algoritmos acabam favorecendo a desinformação. “O resultado é que esses sites nos mostram conteúdo que acreditam que nós vamos querer clicar – o que significa que desinformação ou “notícias falsas” (as chamadas fake news), que têm títulos surpreendentes, chocantes, criados para apelar aos nossos preconceitos, podem se espalhar como fogo”.
Para Tai Nalon, diretora do Aos Fatos, site brasileiro que faz a checagem de notícias, uma regra importante é desconfiar sempre. “Os algoritmos são de certa forma recompensadores, para estimular que o usuário fique mais tempo na rede social. Tudo foi feito do ponto de vista de tornar aquilo mais convidativo e não necessariamente verídico”, explica.
Segundo a representante do Aos Fatos, o primeiro passo é verificar a atribuição de fonte para saber de onde a informação veio, isto é, de um site jornalístico ou de uma universidade reconhecidos. Em outras ocasiões, explica Tai, os indícios estão mais evidentes, com a publicidade poluindo o conteúdo. Entretanto, o terreno é tão movediço que muitos sites tentam imitar as páginas de entrada de sites tradicionais, usando inclusive nomes muito parecidos, o que cria um problema para quem desconhece o contexto dos veículos ou não acompanha o noticiário com tanta frequência.
Uma parte do trabalho de checagem da veracidade das notícias que pode atrair a atenção e facilitar a vida dos alunos diz respeito à identificação do alto grau de adjetivação em títulos e textos. “Os manuais de jornalismo tem diretrizes para não adjetivar absolutamente nada. Se existe uma quantidade de exageros como “o maior escândalo de corrupção da face da terra”, é um sinal claro que o compromisso com a exatidão das informações não é exatamente uma prioridade”, diz a jornalista.
Tai ressalta ainda que o cuidado com tudo o que é compartilhado nas redes sociais extrapola o ambiente escolar e acadêmico e pode trazer impacto na vida profissional. “A rede social funciona como uma vitrine e, no futuro, as empresas podem prestar atenção nisso. Se você postar notícias falsas, pode ser um diagnóstico de sua formação e da falta de senso crítico”.
Estratégias
O ambiente mediado por curtidas e compartilhamentos que determinam o que se consome de notícias nas redes sociais também traz reflexos à academia. Sonia Livingstone, professora de psicologia social no departamento de mídia e comunicação da LSE (London School of Economics) diz ter mudado de opinião a respeito do tema e das práticas.
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“Eu costumava pensar que era suficiente ensinar às crianças maneiras de identificar o que é verdadeiro e o que é persuasivo ou distorcido. Agora, considero essa tarefa muito mais complexa, porque os julgamentos necessários não são tão simples a ponto de serem reduzidos a verdadeiro ou falso e, por isso, o letramento midiático vai além do letramento informacional”. A professora da LSE diz ver a necessidade de se ampliar a discussão e levar à sala de aula conceitos básicos do mundo dos negócios, para que crianças e jovens entendam o que vem antes das notícias.
“É vital ensinar quem comanda a imprensa – mesmo de maneira simples –, quais são os interesses comerciais e as motivações por trás das notícias que eles recebem, e como crianças e jovens podem navegar criticamente dentro de um ambiente altamente comercial. Eu temo também que adultos não possuem mais contexto suficiente e experiência para orientar as crianças”, explica. Essa situação é decorrente do novo cenário (mais fragmentado) da mídia e, segundo a professora da LSE, é preciso mudar a chave e assumir um novo papel. “Eles [pais e professores] devem ser menos uma fonte de saber para a criança e mais mentores e parceiros em um processo colaborativo e de investigação”.
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Claudemir Viana professor de licenciatura em educomunicação e coordenador do Núcleo de Comunicação em Educação da USP (Universidade de São Paulo) concorda e não vê motivo para grande preocupação. “Não é que eles tenham que saber para poder ensinar. É conversar a respeito. É ter outra atitude educativa, que não é de transmissão e memorização de conteúdos clássicos, mas sim dialética, a partir da relação do sujeito com o contexto para incorporar novos conhecimentos e entender o mundo em que ele vive”.
O professor de educomunicação sugere que uma ponte para esse tipo de compreensão pode vir de atividades e desafios em sala de aula com a edição verbetes da Wikipedia, que proporcionaram a integração de conhecimentos.