• Carregando...
Sônia estuda diariamente com a filha Juliana durante três horas: “Ela não reclama. A gente se entende bem e o estudo ajuda nossa relação de mãe e filha” | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Sônia estuda diariamente com a filha Juliana durante três horas: “Ela não reclama. A gente se entende bem e o estudo ajuda nossa relação de mãe e filha”| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Depoimento

Alessandra Caruso, 39 anos, administradora e mãe de Tatiana, 19, Luciana, 14 e Gabriela, 12.

"Cada um tem seu jeito de estudar"

Cada criança tem uma forma de estudo e de ter responsabilidade com a lição de casa. Não adianta, nós como pais, acharmos que existe uma fórmula. No início me bati um pouco com as meninas. No meu tempo a educação era muito mais rígida e eu criei metas que elas tinham de cumprir. Chegou num ponto em que tudo se perdeu. Elas cumpriam o que eu pedia, mas não estavam felizes. Foi quando eu decidi procurar ajuda. A minha filha do meio era muito agitada e gosta de fazer esportes. Criei uma regra de que ela só poderia fazer algo diferente se as notas estivessem muito boas. Sem perceber a estava prejudicando, pois para que ela se concentrasse melhor nos estudos, precisava fazer muita atividade física. Já a minha filha mais velha só conseguia se concentrar com música. Quantas vezes eu me estressei mandando ela tirar o fone do ouvido. A minha filha mais nova só consegue se concentrar quando fica sozinha fechada no quarto e eu exigia que ela deixasse a porta aberta.

Agora entendo que cada uma delas tem uma necessidade para superar os obstáculos. Só aprendi a respeitar a diferença de cada uma delas depois de me bater muito. Tudo que aprendi com as duas filhas mais velhas aplico com a mais nova. Eu chegava a ser chata com elas e a gente se desgastava muito. Agora é tudo muito mais fácil. Nunca impus meta para a minha filha mais nova. Nunca precisei pedir ou exigir coisas dela. Sozinha ela foi construindo a sua autonomia.

Qual o limite?

A ajuda da família pode até atrapalhar o desenvolvimento escolar dos filhos. Veja algumas orientações.

Crie hábito

- Desde cedo comece a criar o hábito de estudar em casa com seu filho. Comece a fazer a tarefa de casa junto com ele e explique o objetivo de se estudar em casa.

Estimule a autonomia

- Com o tempo vá se distanciando da criança. Comece a deixá-la sozinha fazendo a tarefa e interfira somente quando seu filho pedir ajuda.

Não queira ser professor

- Os pais não têm obrigação de dominar os conteúdos escolares. Em caso de dúvida, que não seja sanada com pesquisas, deixe a resposta em branco como uma orientação ao professor.

Nada de memorização

- Os tempos mudaram e os métodos de estudos não contemplam mais a memorização. Então nada de aplicar provar caseiras ou tomar a matéria das crianças.

A tarefa é do filho

- Não responda nem faça a tarefa do seu filho. Você pode estar atrapa­lhando o desenvolvimento escolar dele. Ao invés disso estimule-o a interpretar as questões.

Fontes: Evelise Portilho, doutora em educação e professora do Mestrado em Educação PUC-PR; Laura Monte Serrat, pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação; Jucemara da Costa Carvalho, pedagoga do Centro e Pesquisas do Colégio Bom Jesus; Vera Julião, pedagoga e diretora do Colégio Novo Ateneu.

As donas de casa Sônia Perpétua Fogiato, e Lialis Linhares, ambas de 44 anos, não dão folga quando o assunto é acompanhar os estudos de seus filhos. As duas chegam a sofrer junto com eles em época de provas. Além de praticamente "estudar" ao lado das crianças, as duas têm o costume de tomar a matéria e auxiliar com pesquisas na internet.

Sônia é mãe de Juliana, de 11 anos, que estuda na 6.ª série do Colégio Novo Ateneu. A mãe chega a elaborar provas caseiras, passa matérias para o computador e estuda cerca de três horas por dia ao lado da filha. "Ela não reclama. A gente se entende bem e o estudo ajuda na nossa relação de mãe e filha. Não é estressante e ela não é dependente. Ela também estuda sozinha no quarto", ressalta. Sônia diz que a fórmula tem dado certo e o desempenho de Juliana está cada vez melhor na escola. "Não cobro nota dez dela, mas ela é muito perfeccionista e acha que sempre precisa melhorar", afirma a mãe.

Já Lialis é mãe de Lucas, 10, e Léo, 7, que estudam no Colégio Positivo. A rotina dela é terminar o almoço e após um pequeno descanso colocar os meninos para fazer a tarefa de casa. "Sou considerada por eles uma mãe muito chata. Sou muito presente e cobro responsabilidade", diz. Nesta semana de provas finais, a rotina dos três é um pouco mais estressante. Além da tarefa de casa, os meninos precisam revisar todo o conteúdo abordado da matéria que será alvo de avaliação no dia seguinte. "Ontem o Léo teve prova de inglês e eu tomei a matéria na cama, antes dele dormir para conferir se ele sabia tudo mesmo", diz.

Mas até que ponto a ajuda dos pais pode atrapalhar nos estudos? Segundo especialistas, o ideal é ensinar a criança a ter autonomia e hábitos de estudos desde cedo. Para a doutora em Educação e especialista em Psicopedagogia Evelise Portilho, professora de Pedagogia e do Mestrado em Educação da Pontifícia Univer­sidade Católica (PUCPR), a família deve ajudar o filho a aprender a se organizar, verificar como está o ritmo da criança e ajudar que ele escolha o horário e local para estudar. "A família tem de ser parceira não só da escola, mas também da criança. Quando a criança precisar de ajuda para a compreensão de algum conteúdo, os pais podem auxiliar, mas nunca fazer a tarefa pela criança", diz.

A pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação Laura Monte Serrat lembra que quando há questões que a criança ou os pais não conseguem responder durante a tarefa de casa, o correto é retornar para a escola e sanar as dúvidas com o professor, em sala de aula. "O importante não é só entregar a tarefa correta e pronta. O importante é aprender e é papel da escola auxiliar na aprendizagem", diz. A pedagoga e diretora do Colégio Novo Ateneu, Vera Julião, ressalta que os pais têm de entender que não são professores dos alunos e que essa falta de compreensão pode gerar alguns conflitos. "É aí que os filhos começam a dizer que a professora ensinou diferente. As dúvidas precisam ser resolvidas com o professor", diz.

Mesmo sem morar na mesma casa do filho, o empresário Fábio Pos­­tiglione, 44, cobra a responsabilidade de fazer a tarefa de casa de Gabriel, 12, que estuda na 6.ª série do Colégio Sion. O garoto passa os fins de semana e almoça duas ve­­zes por semana na casa do pai. "Quero sempre saber como ele está na escola. Sempre peço para ele exer­­citar aquilo que aprendeu na sala para eu acompanhar", comenta. Fábio conta que Gabriel tirou uma nota vermelha em Mate­mática neste ano. "Fiquei bem em cima, fui conversar com a coordenadora e deu resultado. A nota melhorou e o boletim veio até com elogio", diz.

A pedagoga Jucemara da Costa Carvalho, do Centro de Pesquisas do Colégio Bom Jesus, afirma que nos casos de dificuldade de aprendizagem por parte da criança, a família tem de buscar ajuda na escola e, se for o caso, ser encaminhada para um profissional.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]