Depoimento
Alessandra Caruso, 39 anos, administradora e mãe de Tatiana, 19, Luciana, 14 e Gabriela, 12.
"Cada um tem seu jeito de estudar"
Cada criança tem uma forma de estudo e de ter responsabilidade com a lição de casa. Não adianta, nós como pais, acharmos que existe uma fórmula. No início me bati um pouco com as meninas. No meu tempo a educação era muito mais rígida e eu criei metas que elas tinham de cumprir. Chegou num ponto em que tudo se perdeu. Elas cumpriam o que eu pedia, mas não estavam felizes. Foi quando eu decidi procurar ajuda. A minha filha do meio era muito agitada e gosta de fazer esportes. Criei uma regra de que ela só poderia fazer algo diferente se as notas estivessem muito boas. Sem perceber a estava prejudicando, pois para que ela se concentrasse melhor nos estudos, precisava fazer muita atividade física. Já a minha filha mais velha só conseguia se concentrar com música. Quantas vezes eu me estressei mandando ela tirar o fone do ouvido. A minha filha mais nova só consegue se concentrar quando fica sozinha fechada no quarto e eu exigia que ela deixasse a porta aberta.
Agora entendo que cada uma delas tem uma necessidade para superar os obstáculos. Só aprendi a respeitar a diferença de cada uma delas depois de me bater muito. Tudo que aprendi com as duas filhas mais velhas aplico com a mais nova. Eu chegava a ser chata com elas e a gente se desgastava muito. Agora é tudo muito mais fácil. Nunca impus meta para a minha filha mais nova. Nunca precisei pedir ou exigir coisas dela. Sozinha ela foi construindo a sua autonomia.
Qual o limite?
A ajuda da família pode até atrapalhar o desenvolvimento escolar dos filhos. Veja algumas orientações.
Crie hábito
- Desde cedo comece a criar o hábito de estudar em casa com seu filho. Comece a fazer a tarefa de casa junto com ele e explique o objetivo de se estudar em casa.
Estimule a autonomia
- Com o tempo vá se distanciando da criança. Comece a deixá-la sozinha fazendo a tarefa e interfira somente quando seu filho pedir ajuda.
Não queira ser professor
- Os pais não têm obrigação de dominar os conteúdos escolares. Em caso de dúvida, que não seja sanada com pesquisas, deixe a resposta em branco como uma orientação ao professor.
Nada de memorização
- Os tempos mudaram e os métodos de estudos não contemplam mais a memorização. Então nada de aplicar provar caseiras ou tomar a matéria das crianças.
A tarefa é do filho
- Não responda nem faça a tarefa do seu filho. Você pode estar atrapalhando o desenvolvimento escolar dele. Ao invés disso estimule-o a interpretar as questões.
Fontes: Evelise Portilho, doutora em educação e professora do Mestrado em Educação PUC-PR; Laura Monte Serrat, pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação; Jucemara da Costa Carvalho, pedagoga do Centro e Pesquisas do Colégio Bom Jesus; Vera Julião, pedagoga e diretora do Colégio Novo Ateneu.
As donas de casa Sônia Perpétua Fogiato, e Lialis Linhares, ambas de 44 anos, não dão folga quando o assunto é acompanhar os estudos de seus filhos. As duas chegam a sofrer junto com eles em época de provas. Além de praticamente "estudar" ao lado das crianças, as duas têm o costume de tomar a matéria e auxiliar com pesquisas na internet.
Sônia é mãe de Juliana, de 11 anos, que estuda na 6.ª série do Colégio Novo Ateneu. A mãe chega a elaborar provas caseiras, passa matérias para o computador e estuda cerca de três horas por dia ao lado da filha. "Ela não reclama. A gente se entende bem e o estudo ajuda na nossa relação de mãe e filha. Não é estressante e ela não é dependente. Ela também estuda sozinha no quarto", ressalta. Sônia diz que a fórmula tem dado certo e o desempenho de Juliana está cada vez melhor na escola. "Não cobro nota dez dela, mas ela é muito perfeccionista e acha que sempre precisa melhorar", afirma a mãe.
Já Lialis é mãe de Lucas, 10, e Léo, 7, que estudam no Colégio Positivo. A rotina dela é terminar o almoço e após um pequeno descanso colocar os meninos para fazer a tarefa de casa. "Sou considerada por eles uma mãe muito chata. Sou muito presente e cobro responsabilidade", diz. Nesta semana de provas finais, a rotina dos três é um pouco mais estressante. Além da tarefa de casa, os meninos precisam revisar todo o conteúdo abordado da matéria que será alvo de avaliação no dia seguinte. "Ontem o Léo teve prova de inglês e eu tomei a matéria na cama, antes dele dormir para conferir se ele sabia tudo mesmo", diz.
Mas até que ponto a ajuda dos pais pode atrapalhar nos estudos? Segundo especialistas, o ideal é ensinar a criança a ter autonomia e hábitos de estudos desde cedo. Para a doutora em Educação e especialista em Psicopedagogia Evelise Portilho, professora de Pedagogia e do Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR), a família deve ajudar o filho a aprender a se organizar, verificar como está o ritmo da criança e ajudar que ele escolha o horário e local para estudar. "A família tem de ser parceira não só da escola, mas também da criança. Quando a criança precisar de ajuda para a compreensão de algum conteúdo, os pais podem auxiliar, mas nunca fazer a tarefa pela criança", diz.
A pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação Laura Monte Serrat lembra que quando há questões que a criança ou os pais não conseguem responder durante a tarefa de casa, o correto é retornar para a escola e sanar as dúvidas com o professor, em sala de aula. "O importante não é só entregar a tarefa correta e pronta. O importante é aprender e é papel da escola auxiliar na aprendizagem", diz. A pedagoga e diretora do Colégio Novo Ateneu, Vera Julião, ressalta que os pais têm de entender que não são professores dos alunos e que essa falta de compreensão pode gerar alguns conflitos. "É aí que os filhos começam a dizer que a professora ensinou diferente. As dúvidas precisam ser resolvidas com o professor", diz.
Mesmo sem morar na mesma casa do filho, o empresário Fábio Postiglione, 44, cobra a responsabilidade de fazer a tarefa de casa de Gabriel, 12, que estuda na 6.ª série do Colégio Sion. O garoto passa os fins de semana e almoça duas vezes por semana na casa do pai. "Quero sempre saber como ele está na escola. Sempre peço para ele exercitar aquilo que aprendeu na sala para eu acompanhar", comenta. Fábio conta que Gabriel tirou uma nota vermelha em Matemática neste ano. "Fiquei bem em cima, fui conversar com a coordenadora e deu resultado. A nota melhorou e o boletim veio até com elogio", diz.
A pedagoga Jucemara da Costa Carvalho, do Centro de Pesquisas do Colégio Bom Jesus, afirma que nos casos de dificuldade de aprendizagem por parte da criança, a família tem de buscar ajuda na escola e, se for o caso, ser encaminhada para um profissional.