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Como no século 19: nossas salas de aula pararam no tempo

 | Albari RosaGazeta do Povo
(Foto: Albari RosaGazeta do Povo)

Carteiras enfileiradas, quadro-negro na frente, professor de pé discursando e alunos sentados escutando. A sala de aula como conhecemos na maior parte do mundo teve sua origem na era da Revolução Industrial: foi concebida com a ideia de aplicar o modelo das fábricas no ambiente escolar. 

Apesar das mudanças na sociedade durante esse período, o modelo permanece o mesmo – e pode não ser mais a melhor opção: “Nosso sistema educacional não está quebrado; está fundamentalmente obsoleto”, avalia Naveen Jain, fundador da Bluecora e filantropo em educação. 

Para ele, uma das alternativas ao modelo tradicional é a aprendizagem ativa, na qual as habilidades dos alunos são colocadas no centro do processo. Nesse modelo, alunos têm acesso a videoaulas, que podem assistir a qualquer momento e com a frequência que considerarem necessário, e o tempo em sala é ocupado com atividades dinâmicas em grupo que visam englobar conteúdos interdisciplinares para o desenvolvimento de habilidades e competências. 

“A sala de aula precisa englobar mais do que apenas repassar informação – precisa ser um lugar em que as crianças se agrupam e resolvem problemas de modo interdisciplinar”, diz. 

E, se de um lado, a informação não se limita mais aos livros e está disponível de modo digital e com acesso universal; do outro, salas de aula são ocupadas por uma geração cada vez mais integrada às novas tecnologias, sinalizando mudanças para um modelo mais adequado ao perfil dos estudantes. 

“A aprendizagem na maior parte das escolas e universidades é totalmente obsoleta, porque insistem em produzir uma pedagogia baseada na transmissão de informação. Não precisamos de transmissão de informação, porque a informação está toda na internet”, afirma o sociólogo espanhol Manuel Castells. 

Modelo defasado 

O sistema atual de ensino deixa de atender às expectativas não apenas dos estudantes, mas também dos profissionais do século 21. Enquanto no modelo industrial de sala de aula, inspirado pelo sistema fordista de linha de produção, os estudantes eram formados para se adaptarem ao trabalho nas fábricas, o mercado atual, voltado para a inovação, não está sendo abastecido do mesmo modo e suas novas necessidades não estão sendo acompanhadas pelo ambiente educacional. 

“É um grande desafio entender que o protagonismo da sala de aula agora é compartilhado entre professores e alunos, integrando o mercado definitivamente aos conteúdos, e utilizando o que existe de vanguarda em tecnologia, para proporcionar acesso rápido e eficaz às informações necessárias para construção do conhecimento de qualidade”, pondera Marcelo Peruzzo, coordenador dos MBAs com ênfase em Neurociência da Universidade Positivo (UP).  

Na linha de frente dessas mudanças está o professor, que pode ser uma figura central na busca por novas práticas e soluções que atendam às necessidades dos alunos. “Os modelos de provas, obrigação de presença física em sala de aula e aulas no formato de monólogo estão fadados ao fracasso”, enfatiza Peruzzo. 

Novo papel 

O professor precisa desenvolver soluções para o uso das novas tecnologias para uma nova aprendizagem mais alinhada ao perfil e às demandas da nova geração de alunos. 

“O importante é conhecer o potencial das tecnologias na melhoria da qualidade da aprendizagem, desde que estejam vinculadas a objetivos claros e com métodos adequados à sua aplicação”, aponta a professora e pesquisadora Luccianne Guedes da Luz Martins, em pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Santa Maria. “O papel de destaque é o do professor que utiliza estas ferramentas para interagir com o seu aluno e colaborar na construção do conhecimento”. 

Já o papel central da escola continua sendo na formação, com a possibilidade de adaptação para novas necessidades e novos perfis de estudantes. “Quem teimar em ainda utilizar métodos do século passado, apenas estará dando um passo acelerado ao fim de uma história”, conclui Peruzzo.

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