Ashley Chapman dirige a fábrica de sorvetes dos seus pais: “Não me importa como gastam meu dinheiro, contanto que o gastem nesta comunidade, nesta escola”.| Foto: Aaron Vincent Elkaim/NYT

Como centenas de pequenas cidades em Ontário (Canadá), Markdale recebeu a má notícia do governo provincial no ano passado: sua escola fundamental teria que fechar, vítima de corte de custos. Foi então que um salvador improvável apareceu: a Chapman's Ice Cream, empresa caseira que ofereceu 2 milhões CAD (1,58 milhã de dólares) para manter as crianças da cidade na Escola Comunitária Beavercrest, a única no local. 

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Se tudo der certo, a oferta vai evitar que o pequeno povoado, com 1.400 habitantes, se torne mais uma vítima do êxodo rural – porque, sem uma escola primária, qualquer cidade murcha lentamente. 

"Não é como viver em Toronto onde, se uma escola for fechada, existe outra a dois quarteirões de distância. É preciso ter famílias jovens para manter a comunidade viva; se você acabar com a escola daqui, elas vão embora", disse Murray Fraser, 56 anos, dono de uma pequena gráfica na cidade com sua esposa, Sharon, e que estudou em Beavercrest, assim como seus dois filhos adultos.

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Empreitada difícil

Encontrar uma maneira de injetar o dinheiro do setor privado de Chapman no sistema de ensino público provou ser uma empreitada difícil, envolvendo manobras políticas e burocráticas. Markdale é uma das muitas cidades ao longo da Rodovia 10, entre Toronto e as praias da Baía Georgian, no Lago Huron. No século 19, a ferrovia Toronto, Grey and Bruce, hoje uma ciclovia, deu a Markdale seu primeiro grande impulso, ligando-a à capital da província, a cerca de 160 quilômetros a sudeste.

Mas agora, não há atrações que façam os moradores da cidade grande que vão para a praia pararem aqui, apenas um café e um restaurante no antigo prédio do corpo de bombeiros. 

Markdale perdeu alguns empregadores nos últimos anos, mas a Chapman's é a essência dos sonhos de uma cidade pequena. Uma placa no final da rua que leva até seu complexo pede aos transeuntes que parem e se inscrevam para uma vaga de emprego. 

A empresa é, pelos padrões locais, uma novata. Em 1973, David e Penny Chapman trabalhavam em uma pequena fábrica de sorvetes de Toronto, quando decidiram abrir seu próprio negócio, o que exigia acesso ao fornecimento de leite, limitado pelo rígido sistema canadense de controle de laticínios. 

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Markadel tem 1.400 habitantes e apenas uma escola de ensino fundamental, que seria fechada por falta de verba pública. 

Ao se concentrar em produtos de nicho, como marcas caseiras para supermercados, a Chapman's se tornou a maior fabricante de sorvetes por volume do Canadá. Então, quase oito anos atrás, um incêndio destruiu a fábrica. E esse quase foi o fim da empresa em Markdale. 

Outras cidades e vilas ofereceram acordos fiscais e outros incentivos para a reconstrução, mas Ashley Chapman, de 38 anos, que agora dirige a empresa com seus pais, disse que nunca pensaram em se mudar. "Esta cidade é que nos fez ser quem somos. Mudar para um lugar diferente era muito difícil de aceitar", disse ele em seu escritório na fábrica reconstruída.  

Identidade local 

A identidade da cidade também está intimamente ligada à sua escola fundamental. Revestida de tijolos amarelos e com quase 50 anos de idade, Beavercrest não é um marco arquitetônico. Motz, do Conselho Educacional, disse que ela estava na lista de fechamentos porque havia caído abaixo dos níveis de capacidade mínimos da província e precisava de reparos. 

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Chapman percebeu que, sem uma escola, teria problemas para atrair os 300 trabalhadores adicionais necessários para seu plano de expansão do negócio, que já emprega cerca de 700 pessoas. Ele prefere que os funcionários morem em Markdale ou nas proximidades, porque as tempestades de neve de inverno na área do Lago Huron frequentemente fecham a Rodovia 10, que tem basicamente duas pistas, impedindo o tráfego. 

O dono da fábrica sorvetes primeiro se ofereceu para construir uma nova escola e alugá-la para o Conselho Educacional por um valor simbólico. A ideia foi rejeitada, pois foi vista como privatização. Então ele disse que doaria o dinheiro, mas o conselho também recusou. 

Só que sua oferta transformou a escola de Markdale no centro das atenções da província. A ministra da Educação veio de Toronto para uma reunião pública. Em vez de mencionar a necessidade de fechar escolas, ela falou sobre transformá-las em "centros comunitários", que ofereceriam vários serviços com custos compartilhados. 

Agora, a oferta de Chapman foi coberta por um incorporador imobiliário. Em junho, o conselho apresentou à província um plano usando o modelo de centro comunitário para aprovação. 

Chapman, como muitos na cidade, espera que o plano seja aprovado. E que a experiência da cidade mude o modo com que o governo vê as escolas rurais. "Não me importa como gastam meu dinheiro, contanto que o gastem nesta comunidade, nesta escola", disse ele.

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