O conhecimento sobre linguagem de programação e o pensamento computacional devem ser incentivados tanto quanto o aprendizado de uma língua estrangeira.
Quem defende essa opinião é Todd Ensign, diretor do Centro de Recurso de Educadores da NASA em West Virginia, Estados Unidos. O especialista, que também é professor da Fairmount Station University, esteve em Curitiba nesta semana para participar do Let's Go Festival, evento que debateu o ambiente escolar para os próximos 20 anos.
A agência espacial norte-americana desenvolve um programa junto a estudantes e professores com o objetivo de incentivar o interesse pela área de “Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática” (STEM, na sigla em inglês). Cabe a Ensign viajar o mundo participando de Campeonatos de Robótica e divulgando informações relacionadas à área.
Confira outras declarações do especialista em entrevista concedida à Gazeta do Povo.
Quais são os maiores desafios para a educação no Século XXI?
Embora os desafios sejam únicos dependendo do local onde você está, existem alguns contextos que são comuns em qualquer país. Atualmente, nós estamos passando pela revolução da Indústria 4.0. No futuro, carros autônomos, inteligência artificial e outras inovações devem impactar a sociedade, criando novas carreiras.
O desafio dos educadores é engajar os cidadãos para que sejam letrados em tecnologia, possuam pensamento computacional e entendam como usar a linguagem da programação. A linguagem de programação deve ser reconhecida como um novo idioma, a ser respeitado e encorajado, assim como ocorre no aprendizado de uma língua estrangeira.
Qual é o objetivo da Nasa ao manter um programa voltado para professores e estudantes?
O nosso trabalho é treinar, engajar e inspirar estudantes para que sigam carreiras na área de STEM. Nós também treinamos professores, funcionários de escolas e líderes, com o objetivo de oferecer, para crianças de escolas públicas e privadas, ou de qualquer outro modelo de educação, oportunidades que provavelmente elas não teriam de outra maneira.
Ainda financiamos a aquisição de quaisquer ferramentas que as escolas precisem para a implantação dos projetos relacionadas à área. Já financiamos, por exemplo, planetário, telescópios e robôs.
Quais os principais recursos e ferramentas utilizados pela agência espacial nesse programa?
Nós oferecemos mais de 30 workshops diferentes. Quando os professores participam desses treinamentos, eles são capacitados a emprestar mais de 60 kits de sala de aula. Nós possuímos 7 milhões de dólares em equipamentos, que foram financiados para determinadas escolas e que podem ser utilizados novamente por outras escolas.
Entre as ferramentas utilizadas, eu destaco a educação robótica, que é muito poderosa porque captura a imaginação das crianças e prende o interesse delas. A robótica envolve ensinar os estudantes a entender um problema, a entender como estudar e analisar dados, como trabalhar em grupo, como comunicar suas ideias efetivamente.
Há pesquisas e evidências sobre a eficácia dessas ações junto aos estudantes?
Essa é uma área emergente, um campo relativamente novo. Possuímos dados que mostram que, ao menos nos últimos três anos, os estudantes que envolvidos no estudo de robótica e em competições têm um interesse crescente no aprendizado de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática e que eles querem trilhar carreiras nessa área.
Seus conhecimentos em linguagem de programação e outros tópicos está aumentando ao longo do tempo. Nós sabemos que isso funciona e que é efetivo.
Como fazer com que os professores enxerguem a tecnologia como aliada e não inimiga?
Os estudantes que estão indo para a faculdade atualmente e que se tornarão professores no futuro provavelmente possuem um grande conforto em relação à tecnologia. O desafio é trabalhar com os professores que já estão em sala de aula.
É importante que os professores recebam continuamente desenvolvimento profissional e treinamentos, para que se sintam confortáveis utilizando a tecnologia. Colocar tecnologia nas salas de aula não tem utilidade alguma se ela não vier acompanhada de treinamento apropriado e a orientação sobre como usá-la efetivamente.
Você conhece as salas de aula e a educação brasileiras? Qual é a sua percepção sobre elas?
Minhas experiências no Brasil estão associadas ao sistema Sesi e ao Positivo. Eu fiquei impressionado pela qualidade dos recursos, dos educadores, das equipes, dos programas. É um modelo que deveria ser replicado.
Porém, eu também sei que essa realidade não é encontrada em todas as escolas. Mas esse desafio não é particular do Brasil, é também de outros locais.
No Let's Go Festival, foram apresentados cases de jovens que desenvolvem projetos de robótica e de tecnologia desde muito novos. A tecnologia deve ser incentivada desde a infância?
Eu trabalho com muitos estudantes e de muitas idades. Nós, no campo de STEM, sofremos com a falta de diversidade. Precisamos de mais mulheres, de minorias, nós precisamos aumentar a diversidade para sermos competitivos e bem-sucedidos.
E, para engajarmos toda a sociedade, precisamos trabalhar com os aprendizes mais jovens, se for possível, inclusive, antes de ingressarem na escola. Eu tenho visto estudantes brasileiros participando de competições de robótica mundiais e eles são muito bons no que fazem. Eu me pergunto: Qual é o segredo? E a resposta é que eles começaram a aprender robótica já no terceiro ano e continuam a trabalhar com robótica ao longo dos outros anos. Para mim, é óbvio que esse modelo funciona.