• Carregando...
Os alunos do professor de História André Moreira, do Colégio Sesc-São José, discutirão a falta de consenso do megaevento | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Os alunos do professor de História André Moreira, do Colégio Sesc-São José, discutirão a falta de consenso do megaevento| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Na prática

Confira algumas dicas sobre como trabalhar a Copa e as eleições em diferentes disciplinas:

• Copa do Mundo

Geografia

Localizar os países das 32 seleções do Mundial em um mapa e levantar dados que os caracterizam, como cultura, economia e regime político. Depois, pedir aos alunos para que identifiquem as diferenças em relação ao Brasil.

Física

Calcular o deslocamento e a velocidade da bola de algum gol marcante na competição.

História

Traçar um paralelo entre as copas e o contexto histórico em que cada competição ocorreu, destacando as ocasiões em que a situação política interferiu na competição (por exemplo, levar os alunos a descobrir por que não houve Copa durante a 2ª Guerra Mundial).

• Eleições

Língua Portuguesa

Analisar os discursos apresentados pelos candidatos na propaganda política e identificar a qual público ele se dirige, a partir do vocabulário escolhido.

Matemática

Estudar como funcionam as pesquisas de intenção de voto e calcular quantos pontos porcentuais cada candidato precisa crescer para ser eleito.

Artes

Discutir o vínculo entre política e artes no passado e atualmente, visitando, por exemplo, monumentos erguidos em homenagem às autoridades de séculos anteriores ou discutindo o uso de músicas para promover determinada visão política.

Fontes: contribuíram os professores André Carlos Moreira, do Sesc-São José; Rosires Gallucci, do Expoente; e Patrícia Thomé Zanetti Durigan, do Decisivo.

História

Cem anos da 1ª Guerra e 50 do golpe militar merecem mais destaque

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e o golpe de 1964 são fatos históricos de grande importância que também devem ser lembrados com mais ênfase pelas escolas neste ano. Em julho, o início do conflito internacional completa 100 anos, e, em 31 de março, os brasileiros lembrarão dos 50 anos da tomada de poder pelos militares.

Para que os dois aniversários não se limitem a um conjunto de informações decoradas para a prova, o professor André Carlos Moreira diz que a busca de sentido no estudo é essencial e pode ser feita com correlações que liguem o fato histórico à realidade atual, como problemas e riscos que corremos ainda hoje. "No caso da 1ª Guerra, esmiuçando suas origens, as tensões econômicas que a antecederam e todo o nacionalismo do século 19, podemos tratar da temática central, pensando até que ponto o nacionalismo é um valor positivo em si."

Em relação ao golpe militar, a tentação dos docentes está em hostilizar o passado, deixando de lado o trabalho de outros aspectos mais construtivos à aprendizagem. Para Moreira, os 50 anos que passaram precisam ser suficientes para um saudável distanciamento que permita reflexões para o aperfeiçoamento da democracia que temos hoje.

Se grandes eventos e datas comemorativas podem ser usados como instrumento de aprendizagem, 2014 oferece oportunidades que não podem ser desperdiçadas. Além da Copa do Mundo, os estudantes viverão o clima das eleições presidenciais de outubro, lembrarão os 100 anos da 1.ª Guerra Mundial e os 50 anos do golpe militar de 1964. Todos os temas têm potencial para serem tratados em várias disciplinas e o cuidado para não ficarem na superficialidade é o principal alerta dado por quem já prepara projetos sobre os assuntos.

O futebol, em especial, certamente fará parte da conversa dos estudantes. Fazê-los ir além da torcida e dos comentários sobre grandes jogadas e seleções é um desafio encarado por alguns docentes.

O professor de História André Carlos Moreira, do Colégio Sesc-São José, abordará com seus alunos do ensino médio a falta de consenso que o megaevento trouxe ao país, despertando o senso crítico dos alunos para realidades vinculadas à Copa, mas que estão fora dos gramados.

Para Moreira, o Mundial e as eleições são eventos que trazem à tona inúmeras tensões sociais cujas origens são diversas. "Trazer a discussão em torno desses eventos, buscando um distanciamento das paixões que eles despertam, pode sim gerar uma busca por interpretações antagônicas que propiciam um exercício de cidadania, de convivência harmoniosa e democrática", diz o professor, que sugere instrumentos pedagógicos clássicos para aprofundar o tema, como palestras e debates seguidos da produção de redações.

No Colégio Decisivo, a supervisora pedagógica Patrícia Thomé Zanetti Durigan tem incentivado abordagens variadas pelo corpo docente. Serão trabalhados, por exemplo, os impactos da Copa sobre a cidade e o meio ambiente, a pluralidade cultural que a chegada de turistas evidencia, as relações de poder na disputa entre os países para sediar o campeonato e os preparativos do governo brasileiro em relação à estrutura e à segurança.

Convívio

Até trabalhos sobre valores morais podem pegar carona no megaevento. Para Rosires Gallucci, coordenadora de Desenvolvimento de Material Didático do Grupo Expoente, elementos essenciais ao bom convívio social, como respeito, dedicação, companheirismo e ética, estão presentes dentro de campo e podem servir como gancho para reflexões sobre a conduta individual na sociedade.

Disputa partidária deve ser evitada

Tema com grande potencial para despertar paixões conflitantes, sobretudo entre adolescentes, trabalhar as eleições em sala de aula é uma tarefa que exige mais cuidado do docente. Falar de cidadania sem cair em defesa de candidatos específicos é um dever do professor e uma habilidade a ser despertada nos alunos. "A discussão sobre eleições em sala de aula não deve se confundir com disputas partidárias. O sectarismo, a intolerância, o autoritarismo, a defesa de programas partidários e de verdades absolutas devem ser deixadas de lado", defende Rosires Gallucci, do Grupo Expoente.

Uma forma prática de incentivar os estudantes a superarem a mera torcida por partidos é a busca por informações sobre os candidatos. Rosires sugere a montagem de murais com notícias sobre os políticos em campanha, acompanhados do comentário de cada aluno.

Dentro do assunto, os direitos garantidos pelo sistema democrático, como o voto e a liberdade de expressão, são realidades importantes a serem exploradas. O professor André Carlos Moreira lembra que o Brasil tem uma democracia jovem, com cerca de 30 anos, e destaca a importância de os mais novos tomarem conhecimento das forças políticas, econômicas e sociais que remam contra essa forma de organização política.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]