Se grandes eventos e datas comemorativas podem ser usados como instrumento de aprendizagem, 2014 oferece oportunidades que não podem ser desperdiçadas. Além da Copa do Mundo, os estudantes viverão o clima das eleições presidenciais de outubro, lembrarão os 100 anos da 1.ª Guerra Mundial e os 50 anos do golpe militar de 1964. Todos os temas têm potencial para serem tratados em várias disciplinas e o cuidado para não ficarem na superficialidade é o principal alerta dado por quem já prepara projetos sobre os assuntos.
O futebol, em especial, certamente fará parte da conversa dos estudantes. Fazê-los ir além da torcida e dos comentários sobre grandes jogadas e seleções é um desafio encarado por alguns docentes.
O professor de História André Carlos Moreira, do Colégio Sesc-São José, abordará com seus alunos do ensino médio a falta de consenso que o megaevento trouxe ao país, despertando o senso crítico dos alunos para realidades vinculadas à Copa, mas que estão fora dos gramados.
Para Moreira, o Mundial e as eleições são eventos que trazem à tona inúmeras tensões sociais cujas origens são diversas. "Trazer a discussão em torno desses eventos, buscando um distanciamento das paixões que eles despertam, pode sim gerar uma busca por interpretações antagônicas que propiciam um exercício de cidadania, de convivência harmoniosa e democrática", diz o professor, que sugere instrumentos pedagógicos clássicos para aprofundar o tema, como palestras e debates seguidos da produção de redações.
No Colégio Decisivo, a supervisora pedagógica Patrícia Thomé Zanetti Durigan tem incentivado abordagens variadas pelo corpo docente. Serão trabalhados, por exemplo, os impactos da Copa sobre a cidade e o meio ambiente, a pluralidade cultural que a chegada de turistas evidencia, as relações de poder na disputa entre os países para sediar o campeonato e os preparativos do governo brasileiro em relação à estrutura e à segurança.
Convívio
Até trabalhos sobre valores morais podem pegar carona no megaevento. Para Rosires Gallucci, coordenadora de Desenvolvimento de Material Didático do Grupo Expoente, elementos essenciais ao bom convívio social, como respeito, dedicação, companheirismo e ética, estão presentes dentro de campo e podem servir como gancho para reflexões sobre a conduta individual na sociedade.
Disputa partidária deve ser evitada
Tema com grande potencial para despertar paixões conflitantes, sobretudo entre adolescentes, trabalhar as eleições em sala de aula é uma tarefa que exige mais cuidado do docente. Falar de cidadania sem cair em defesa de candidatos específicos é um dever do professor e uma habilidade a ser despertada nos alunos. "A discussão sobre eleições em sala de aula não deve se confundir com disputas partidárias. O sectarismo, a intolerância, o autoritarismo, a defesa de programas partidários e de verdades absolutas devem ser deixadas de lado", defende Rosires Gallucci, do Grupo Expoente.
Uma forma prática de incentivar os estudantes a superarem a mera torcida por partidos é a busca por informações sobre os candidatos. Rosires sugere a montagem de murais com notícias sobre os políticos em campanha, acompanhados do comentário de cada aluno.
Dentro do assunto, os direitos garantidos pelo sistema democrático, como o voto e a liberdade de expressão, são realidades importantes a serem exploradas. O professor André Carlos Moreira lembra que o Brasil tem uma democracia jovem, com cerca de 30 anos, e destaca a importância de os mais novos tomarem conhecimento das forças políticas, econômicas e sociais que remam contra essa forma de organização política.