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Alunos de escola em Suwon, na Coréia do Sul | Heather A. DenbyUSPACOM
Alunos de escola em Suwon, na Coréia do Sul| Foto: Heather A. DenbyUSPACOM

Até 35 anos atrás, os sul-coreanos eram mais pobres do que os brasileiros. O PIB (Produto Interno Bruto) per capital do país asiático era inferior ao do Brasil. Hoje, não há comparação possível e os números da Coreia do Sul são três vezes mais altos: em torno de 27.200 dólares contra 8.600 dólares do Brasil, segundo o Banco Mundial.

O salto pode ser em grande parte explicado por uma revolução educacional iniciada décadas antes. E a principal razão é clara: diferentemente do modelo brasileiro, a prioridade no país asiático são investimentos em educação básica.

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Na Coréia do Sul, por exemplo, os valores gastos com o ensino básico são quase três vezes maiores do que no Brasil: US$ 9,3 mil por aluno ao ano no país asiático contra US$ 3.822 no Brasil, de acordo com dados de 2013 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

Outros dados da OCDE mostram que, mesmo desconsideradas as diferenças econômicas entre os dois países, a distância é significativa: na Coreia do Sul, para cada dólar investido no ensino básico, 1,50 é aplicado no ensino superior, naturalmente mais caro. Já no Brasil, o desequilíbrio é muito maior: quatro dólares gastos no ensino superior para cada dólar gasto no ensino básico. 

A diferença também está no modelo de investimento. Na Coréia, escolas de ensino médio são subsidiadas em 80% do seu orçamento pelo Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia, enquanto os outros 20% vêm de anuidades pagas pelos pais dos alunos. O ingresso é feito por meio de testes padronizados, administrados pelo governo, que também subsidia a anuidade dos alunos de baixa renda. E o mesmo ocorre no ensino superior, onde todas as universidades cobram anuidades, inclusive as públicas. 

Base sólida 

Os investimentos em ensino secundário e superior cresceram somente após a universalização do ensino primário. Uma parcela deles é voltada para os professores, que são altamente capacitados, tem plano de carreira em regime de exclusividade e altos salários na educação básica. No Brasil, claro, a situação é oposta: professores com maior formação e salários mais altos estão no ensino superior. 

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“Encontrei um professor que era autor do livro de matemática usado por todas as escolas do país dando aula para o nível médio. Lá, os melhores professores estão no ensino básico”, diz José Paulo da Rosa, doutor em Educação pela PUC-RS, autor de uma tese que compara os sistemas educacionais brasileiro e coreano. 

Com altos salários e alta capacitação, a profissão é símbolo de prestígio na sociedade coreana. "Professores são vistos pelas autoridades como cruciais para o projeto nacional e elas não costumam criticá-los publicamente”, afirma Paul Morris, professor do Instituto de Educação da Universidade de Londres. 

Fatores conjuntos

Características econômicas e geográficas da Coréia do Sul contribuem para o foco na formação de alta capacidade. “Não temos recursos naturais suficientes; os únicos recursos que temos são os humanos. Então se tivermos todo mundo equipado com educação superior, será melhor para o nosso país”, explica Kim Mee Suk, pesquisador do Instituto Coreano par Saúde e Assuntos Sociais. 

Esse sentimento é reforçado no ambiente familiar; pais são os principais incentivadores dos filhos: o envolvimento na comunidade escolar faz a diferença no desempenho dos alunos, já que as famílias participam diretamente na administração da escola e, conhecendo e participando do processo de gestão, tendem a exigir maior dedicação. 

Valorização 

As diferenças ficam ainda mais evidentes ao final do ensino médio. No Brasil, em 2014, 19% dos adolescentes concluíram o ensino médio na idade certa – até os 17 anos. No mesmo período, 1,3 milhão de jovens entre 15 e 17 anos abandonaram os estudos. Já na Coreia do Sul, 93% dos jovens terminam essa fase no tempo correto e o índice de evasão é praticamente inexistente. 

De acordo com o Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes), os alunos sul-coreanos lideram o ranking mundial de desempenho em matemática, ciência e leitura. Os resultados práticos são mais jovens ingressando no ensino superior e entrando para o mercado de trabalho como mão de obra altamente capacitada: em 2011, 82% dos jovens sul-coreanos estavam matriculados em universidades, enquanto no Brasil o número frequentando o ensino superior no mesmo ano atingiu 18%. 

As escolas são avaliadas anualmente por grupos externos formados pelas secretarias estaduais de educação. A avaliação não é punitiva; o foco está em recompensar o mérito das escolas e professores com melhor desempenho. Os resultados são divulgados publicamente: escolas com melhor desempenho são recompensadas com bônus do Ministério da Educação; por outro lado, aquelas com desempenho abaixo do esperado recebem aconselhamento administrativo para os pontos que precisam evoluir. 

Os professores também são avaliados pelos diretores das escolas, mas não há autonomia para oferecer recompensa, tampouco punição por baixo desempenho. O que se oferece são pacotes de incentivos para melhorias: um dos maiores é o título de Professor Mestre, que vem acompanhado de um aumento no salário mensal e oportunidades de estudo no exterior. “Não tem segredo. É apenas uma questão de efetivamente de valorizar a educação”, conclui José Paulo da Rosa.

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