Nem Administração nem Direito. Uma pesquisa do Semesp, sindicato das mantenedoras de ensino superior privado de São Paulo, comparou o número de ingressantes no primeiro trimestre de 2012 em relação ao mesmo período de 2011 e mostrou que são as Engenharias que mais registraram alta na procura.
A graduação em Engenharia Civil é a primeira no ranking, com alta de 49,2%. Logo em seguida está Engenharia de Produção, com acréscimo de 26,5%. Direito cresceu apenas 5,6% e Administração caiu 0,1%.
Os números mostram, afirma o Semesp, uma resposta dos vestibulandos à divulgação em massa de pesquisas que atestam a falta de engenheiros no País. É de olho nesse mercado que remunera bem e carece de mão de obra que muitos jovens começam a optar pela Engenharia em detrimento de cursos que são commodities por aqui, como Administração, Direito, Enfermagem e Pedagogia - juntos, respondem por 40% do total de matrículas.
"Só se fala nisso, que haverá um apagão de mão de obra, que o Brasil está importando engenheiros da China. Isso tudo é verdade e estimula quem está decidindo sua profissão", diz Rodrigo Capelato, diretor do Semesp.
Defasagem
Apesar desse cenário, o aumento de calouros nos cursos de Engenharia não significa o crescimento no número de egressos. Isso porque, além de os cursos de exatas já registrarem, por tradição, um alto índice de evasão, o porcentual deve crescer ainda mais com a chegada desse novo público, parte dele não vocacionado para a profissão.
"O fenômeno é recente, mas já dá para prever que, estimulados pelas perspectivas de mercado, muitos sem afinidade com matemática, disciplina básica para o curso, decida estudar Engenharia e tenha de parar quando constatar o déficit de repertório", diz Capelato, do Semesp.
O diretor da Escola de Engenharia e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi, Fabiano Marques, percebeu a mudança de perfil. "As pessoas relacionam a educação com a ascensão social e acabam diminuindo a questão vocacional", afirma.
Neste ano, a instituição registrou um crescimento de 62% no número de calouros de Engenharia Civil e de 65% nos de Engenharia de Produção. Para não perdê-los um semestre depois, conteúdos fundamentais de matemática e física fazem parte do material extracurricular à disposição na intranet e os professores também prestam atendimento para sanar essas deficiências.
Retenção
Com o maior número de engenheiros, o desafio do mercado será atraí-los e retê-los na área. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2009 mostrou que, de cada dez engenheiros, seis atuam fora da área. Muitos sequer chegam a ter experiência no segmento. São pinçados, na saída da graduação, pelos programas de trainee do sistema financeiro, interessado em seu raciocínio lógico. Só neste ano, 36% dos trainees do Itaú são engenheiros. "Conheço quem optou por esse caminho, até porque o salário inicial é maior", diz Ernando Tesch Delorto, aluno do quinto semestre de Engenharia de Produção na FEI. "Eu não quero isso. Mesmo que ganhe menos, quero trabalhar na minha área."
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