Pular, correr, saltar e arremessar. Tais ações, que para muitos não passam de simples brincadeiras, são fundamentais para garantir o pleno desenvolvimento infantil e a facilidade de aprendizado que a criança irá apresentar no período escolar. É o que apontam os estudos que relacionam a psicomotricidade ao processo de alfabetização.
Segundo os especialistas, o estímulo ao movimento nas diferentes fases da infância é um componente elementar para o desenvolvimento neuromuscular, da noção de espaço e da coordenação motora, que servirão de base para que a criança aprenda a segurar o lápis ou diferenciar as formas das letras, por exemplo.
“Se há privação de experiências nas quais ela possa se movimentar, isso gera uma lacuna na questão motora, como desorganização, dispersão, impulsividade ou déficit de atenção, elementos que irão interferir na aprendizagem”, explica Jocian Machado Bueno, mestre em Educação, psicomotricista, 23ª sócia titular da Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP) e coordenadora da formação profissional em psicomotricidade do Centro de Psicomotricidade Água & Vida.
Etapas
O corpo humano tem diferentes fases de desenvolvimento neuromotor, que estão relacionadas a uma determinada idade. A faixa compreendida entre zero e seis anos é tida como uma das mais ricas, pois é nela que ocorre a maior estruturação do cérebro, como explica a diretora da Educação Infantil do Colégio do Bosque Mananciais, Izabel Lima. “Por isso, os estímulos devem ocorrer no momento oportuno”, acrescenta.
A escola conta com um programa motor nos quais os bebês de cinco meses a um ano são estimulados a rastejar, engatinhar e sentar, entre outras atividades. “De um a três anos, trabalhamos questões de equilíbrio, lateralidade [domínio do lado direito ou esquerdo do cérebro sobre o outro], coordenação motora ampla (correr, pular) e fina (pegar objetos, pintar), organização espacial e temporal”, acrescenta Tiago Cazon, professor de Educação Física do colégio. A partir daí tais elementos são aprimorados e seguem sendo propostos aos alunos até os doze anos.
Atividades
As atividades adotadas pelos educadores para estimular os pequenos são múltiplas e correspondem a experiências simples, como observar diferentes tipos de pedras e explorar os ambientes da escola.
Jocian explica que a criança que tem a oportunidade de espalhar os objetos para depois guardá-los, por exemplo, trabalha noções de lateralidade, grande e pequeno e de processo. “Crianças entre três e cinco anos que não são colocadas nestes desafios podem vir a ter dificuldade de interpretação de texto, pois não entendem a relação de causa e efeito, do que vem antes e depois”, acrescenta.
Outra atividade bastante comum é a realizada na escada de braquiação: equipamento no qual a criança se pendura, sustenta o corpo com os braços e faz o movimento de balanço para “caminhar” com as mãos pela escada. Izabel explica que, por trabalhar os aspectos viso-manuais, esta atividade contribui com a habilidade da escrita.
“Em sala de aula, os depoimentos dos professores são de que as atividades também ajudam na melhora da atenção, concentração e da leitura”, conta Suellen Senna, professora de Judô e de Linguagem de Movimento da Educação Infantil do Colégio Marista Santa Maria.