A ‘braquiação’, por exemplo, o movimento de sustentar e ‘caminhar’ com os braços, contribui para o desenvolvimento da escrita| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Pular, correr, saltar e arremessar. Tais ações, que para muitos não passam de simples brincadeiras, são fundamentais para garantir o pleno desenvolvimento infantil e a facilidade de aprendizado que a criança irá apresentar no período escolar. É o que apontam os estudos que relacionam a psicomotricidade ao processo de alfabetização.

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Segundo os especialistas, o estímulo ao movimento nas diferentes fases da infância é um componente elementar para o desenvolvimento neuromuscular, da noção de espaço e da coordenação motora, que servirão de base para que a criança aprenda a segurar o lápis ou diferenciar as formas das letras, por exemplo.

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“Se há privação de experiências nas quais ela possa se movimentar, isso gera uma lacuna na questão motora, como desorganização, dispersão, impulsividade ou déficit de atenção, elementos que irão interferir na aprendizagem”, explica Jocian Machado Bueno, mestre em Educação, psicomotricista, 23ª sócia titular da Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP) e coordenadora da formação profissional em psicomotricidade do Centro de Psicomotricidade Água & Vida.

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Nutrição e afeto

Os estímulos neuromotores são apenas um dos aspectos importantes para o desenvolvimento da plasticidade cerebral, ou seja, da capacidade que o cérebro tem de se remodelar de acordo com as experiências pelas quais passa o indivíduo. Jocian Machado Bueno, mestre em Educação, psicomotricista e 23ª sócia titular da Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP), acrescenta que a nutrição e o afeto são outros componentes indispensáveis para o desenvolvimento geral e a aprendizagem.

“A criança tem que ser apresentada a todo o universo da nutrição, que deve ser de boa qualidade. A nutrição é a gasolina do corpo. Uma criança desnutrida não vai captar os estímulos”, aponta.

Em relação ao afeto, a especialista explica que o cuidado e o carinho fazem com que a criança reconheça tais atitudes como “experiências positivas”, além de se sentir integrada e valorizada. Esta percepção fará com que ela busque novas dessas experiências, o que também motiva a aprendizagem.

Etapas

O corpo humano tem diferentes fases de desenvolvimento neuromotor, que estão relacionadas a uma determinada idade. A faixa compreendida entre zero e seis anos é tida como uma das mais ricas, pois é nela que ocorre a maior estruturação do cérebro, como explica a diretora da Educação Infantil do Colégio do Bosque Mananciais, Izabel Lima. “Por isso, os estímulos devem ocorrer no momento oportuno”, acrescenta.

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A escola conta com um programa motor nos quais os bebês de cinco meses a um ano são estimulados a rastejar, engatinhar e sentar, entre outras atividades. “De um a três anos, trabalhamos questões de equilíbrio, lateralidade [domínio do lado direito ou esquerdo do cérebro sobre o outro], coordenação motora ampla (correr, pular) e fina (pegar objetos, pintar), organização espacial e temporal”, acrescenta Tiago Cazon, professor de Educação Física do colégio. A partir daí tais elementos são aprimorados e seguem sendo propostos aos alunos até os doze anos.

Atividades

As atividades adotadas pelos educadores para estimular os pequenos são múltiplas e correspondem a experiências simples, como observar diferentes tipos de pedras e explorar os ambientes da escola.

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Jocian explica que a criança que tem a oportunidade de espalhar os objetos para depois guardá-los, por exemplo, trabalha noções de lateralidade, grande e pequeno e de processo. “Crianças entre três e cinco anos que não são colocadas nestes desafios podem vir a ter dificuldade de interpretação de texto, pois não entendem a relação de causa e efeito, do que vem antes e depois”, acrescenta.

Outra atividade bastante comum é a realizada na escada de braquiação: equipamento no qual a criança se pendura, sustenta o corpo com os braços e faz o movimento de balanço para “caminhar” com as mãos pela escada. Izabel explica que, por trabalhar os aspectos viso-manuais, esta atividade contribui com a habilidade da escrita.

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“Em sala de aula, os depoimentos dos professores são de que as atividades também ajudam na melhora da atenção, concentração e da leitura”, conta Suellen Senna, professora de Judô e de Linguagem de Movimento da Educação Infantil do Colégio Marista Santa Maria.

A participação da família é fundamental

A escola tem um papel importante na oferta dos estímulos neuromotores que irão favorecer o desenvolvimento da criança, mas não diminui a importância da participação da família neste processo.

Jocian Machado Bueno, da Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP), explica que a criança necessita do tempo e da dedicação dos familiares, que devem oferecer a ela oportunidades para que desenvolva sua autonomia.

Esta autonomia está relacionada à execução de tarefas simples do dia a dia, como se servir, guardar os sapatos ou levar a roupa para o cesto de peças sujas, por exemplo. “Na sociedade moderna, a possibilidade do movimento está cada vez menor, pois tudo vem muito pronto. Se a família não deixa a criança fazer por si só o que consegue, isso atrapalha seu desenvolvimento motor”, explica Izabel Lima, diretora da Educação Infantil do Colégio do Bosque Mananciais.

Jocian acrescenta que a criança que é dependente de estímulos prontos não se arrisca e não desenvolve a iniciativa, o que faz com que ela não saiba o que escolher e nem responder pelas suas escolhas.