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Crianças precisam de recreio - não de mais tempo em sala de aula

Quem é mais prejudicado por essa expectativa de estudantes sentados quietos o dia inteiro fazendo exercícios de livros? | U.S. Air Force
Quem é mais prejudicado por essa expectativa de estudantes sentados quietos o dia inteiro fazendo exercícios de livros? (Foto: U.S. Air Force)

Não é fácil ser criança hoje em dia: o dia letivo mudou muito desde quando os pais da atual geração de crianças estavam na escola. Com maior ênfase em tarefas escolares e provas, algo teve que desaparecer do dia letivo para dar lugar ao foco em interesses mais acadêmicos, como matemática, ciência e leitura. Para muitas crianças americanas, arte, música e recreio são partes do dia ameaçadas de extinção. 

Isso significa mais tempo presas em carteiras e menos tempo se movimentando, menos oportunidades para criatividade livre e mais memorização por repetição. Não é surpreendente que professores experientes tenham notado que as crianças agora têm mais dificuldade para permanecerem sentadas. 

Uma solução sugerida por um grupo de professores de Dallas é peculiar: em vez de passarem o dia inteiro sentadas em cadeiras e mesas tradicionais, muitas salas de aula substituíram os assentos dos estudantes por cadeiras “flexíveis” e “infláveis”. O Dallas News noticiou os novos assentos: 

“Alguns [estudantes] se movem vagarosamente em bolas de estabilidade. Outros balançam para frente e para trás em cadeiras de plástico flexíveis que se movem como brinquedos de playgrounds. Alguns sentam com as pernas cruzadas em almofadas ao redor de uma mesa baixa. O resto repousa de barriga para baixo em tapetes de banheiro felpudos.” 

Foi a comparação com o equipamento de playground que chamou a minha atenção. Para fazer os alunos prestarem atenção e permanecerem sentados por horas em uma sala de aula, os professores tiveram que reproduzir a experiência de um playground. O que seria mais barato do que substituir as cadeiras das salas de aula, que custam entre US$ 600 e US$ 2000 por sala? Passar mais tempo no playground. 

Outra escola no Texas, Eagle Mountain Elementary em Fort Worth, deu aos alunos três vezes mais intervalos, com o triplo do tempo que tinham antes. O The Today Show noticiou a resposta: 

“Cinco meses após o começo do experimento, os medos [da professora de primeira série Donna] McBride foram aliviados. Seus alunos estão menos inquietos e mais focados, segundo ela. Eles escutam com mais atenção, seguem instruções e tentam resolver problemas sozinhos em vez de pedir para a professora resolver tudo. Há menos problemas de disciplina. 

‘Estamos vendo resultados muito bons’, apontou. 

Os pais também estão vendo isso. Amy Longspaugh percebeu que a sua filha de seis anos, Maribel, que é aluna de McBride, se tornou mais independente e escreve com mais detalhes e criatividade. Maribel também fez mais amizades, já que as crianças socializam ao ar livre.” 

Quem é mais prejudicado por essa expectativa de estudantes sentados quietos o dia inteiro fazendo exercícios de livros? Os meninos. Christina Hoff Sommers, pesquisadora no American Enterprise Institute, argumenta que “ser um garoto normal é uma grande desvantagem nas salas de aula atuais”. Em um vídeo para o PragerU, Sommers explica por que não é mais possível que “os meninos sejam meninos”. 

Prática auxilia no equilíbrio emocional, mas não substitui terapia ou outras formas de assistência especializada. Via Ideias

Publicado por Gazeta do Povo em Domingo, 10 de dezembro de 2017

Meninos e meninas são diferentes, e essa diferença vai além da anatomia. Costumávamos entender, por exemplo, que meninos se saem melhor se tiverem mais tempo para se movimentaram durante o dia letivo. Mas hoje, eliminamos as atividades físicas e esperamos que os meninos e as meninas se comportem de modo similar. Quando eles não fazem isso, os meninos são vistos como meninas defeituosas, enquanto elas detêm o padrão de qualidade de comportamento na sala de aula. 

O Dallas News, que entrevistou uma professora de terceira série com cadeiras infláveis, Shannon Bowden-Veazey, relatou: “Professora por mais de vinte anos, ela percebeu que as crianças têm mais dificuldade para manter o foco do que tinham na década passada. Ela culpa uma série de fatores, como tecnologia e nutrição”. 

De muitos modos, a infância mudou para pior na última geração. Certamente, as crianças estão passando mais tempo grudadas em telas e comendo mais alimentos processados. Se as escolas estão percebendo que os seus alunos são incapazes de manter o foco dentro da sala de aula, no entanto, não podemos atribuir o seu comportamento durante o dia letivo apenas a fatores relacionados à sua vida doméstica. 

As crianças não conseguem ficar na escola sentadas o dia inteiro sem um intervalo significativo porque não é isso que elas deveriam fazer. Apesar de poder existir a expectativa razoável de que os adultos trabalharão o dia inteiro em um escritório, as crianças não são adultos em miniatura. As crianças, principalmente as do sexo masculino, têm a necessidade biológica de correr, pular, brincar e explorar; e pesquisas indicam que os dois últimos são essenciais para a aprendizagem e para o desenvolvimento das mentes jovens. 

Apesar de cadeiras flexíveis e outros assentos móveis serem um modo de ajudar os estudantes a extravazarem a sua inquietação, eles são apenas um curativo em um problema muito maior. Os estudantes não precisam de mais tempo com inquietação na sala de aula; eles precisam de mais tempo fora dela, brincando e explorando. A infância não existe para ser vivida em espaços fechados, olhando pela janela para um playground não utilizado do lado de fora. Se as crianças não conseguem ficar paradas, devemos parar de esperar que elas façam isso. 

*Bethany Mandel escreve sobre política e cultura e é dona de casa e mãe de duas crianças com menos de dois anos em Nova Jersey.

Tradução: Andressa Muniz

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