As férias escolares nem tinham começado e Giulia Pimenta, 8 anos, experimentava outra escola em menos de um ano. A tentativa da família era que a adaptação ocorresse antes do retorno das aulas no segundo semestre. Já Maria Fernanda Ramos Bacellar, 7 anos, viveu ontem o seu primeiro dia de aula em ambiente novo e a troca ocorreu por opção dos pais. Por ter mudado de bairro, a família de Gabriel Strauhs, 4 anos, também não teve como esperar o término do ano letivo. Na semana que vem o menino retorna às aulas em escola diferente da que estava há dois anos.
As histórias acima mostram que passado um semestre, a troca de instituição é a melhor saída encontrada por famílias cujas crianças que não se adaptaram à escola, seja por problemas de relacionamento, desempenho escolar ou questões de localização ou econômicas. Mas até que ponto essa mudança pode melhorar ou atrapalhar a vida escolar?
Na opinião de especialistas, essa alteração deve ser analisada com cautela, pois o ideal é que o ciclo do ano letivo seja concluído. Para a psicopedagoga Sabrina Guetta Gelhorn a troca de instituição depende do que está ocorrendo com cada criança ou adolescente. "Tem que ser algo muito grave, em que a criança esteja sofrendo muito e o problema vai demorar a ser resolvido", diz. Já a professora do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Joana Paulin Romanowski, ressalta que é preciso analisar o que está por trás desse desejo de mudar. "Quando não há alternativa, como mudança de residência ou por questões econômicas, tudo bem. Mas se tem outras questões por trás disso, é melhor analisar com profundidade o que está ocorrendo", explica.
No caso de Giulia, as mudanças foram intensas nos últimos oito meses, período em que ela trocou de país, pois antes morava nos Estados Unidos e teve de enfrentar a adaptação em duas escolas diferentes. De acordo com a sua mãe, a publicitária Patrícia Pimenta, 37 anos, a filha não conseguiu estabelecer um bom relacionamento com os colegas e também o inglês, que é sua língua materna, estava muito restrito na primeira instituição escolhida. "Pensamos muito e pesquisamos outras escolas. Também íamos precisar colocá-la em período integral. Antes das férias de julho começamos a adaptação. Ela está muito feliz", diz a mãe.
Já Maria Fernanda mudou por opção dos pais, que estavam insatisfeitos com a falta de formação religiosa na escola anterior, conta a mãe Ana Paula Ramos Bacellar. "Mesmo existindo o receio da nova escola, ela é sociável e saberá se adequar", diz. Para Gabriel Strauhs, a troca foi inevitável. Sua mãe, Taciana Strauhs, conta que mudou recentemente do bairro Portão para o Abranches. "Não existe nem transporte escolar que faz esta rota. Seria muito desgaste pra gente cruzar a cidade todos os dias. Mas ele está animado para voltar às aulas na semana que vem", diz.
Casos extremos
De acordo com três escolas pesquisadas em Curitiba Nossa Senhora do Sion, Positivo e Nova Geração as mudanças no meio do ano são mais comuns por troca de residência ou em casos extremos de falta de adaptação. De acordo com a coordenadora pedagógica do Sion, Juliana Boff, antes da mudança a escola entrevista os pais e faz uma avaliação com a criança ou adolescente. "Depois dessa análise, procuramos agir de acordo com a necessidade do aluno", diz.
A pedagoga e psicopedagoga Aluá Bianchi, coordenadora da Escola Nova Geração, ressalta que as famílias não devem ter medo de mudar, caso seja mesmo necessário. "Toda mudança gera um desconforto e muitas podem deixar as crianças inseguras, pois se torna um constante recomeçar", diz. A orientadora educacional do Colégio Positivo, Débora Regina Dias Creti, diz que antes da mudança, as famílias devem buscar ajuda da escola. "Trocar de escola não é igual trocar de roupa. Muitas vezes o aluno só vai carregar o problema para outro lugar, sem resolvê-lo", diz.