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"Primeira coisa que ele fez, ao chegar em casa, foi tirar a roupa de Papai Noel: estava muito quente, suava em bicas. Também queixou-se de dor na coluna. Isso é por causa do saco que você carrega, observou a mulher". O texto é trecho de "Espírito Natalino", do escritor Moacyr Scliar, publicada em uma coluna fixa do autor no jornal "Folha de São Paulo", na véspera do Natal de 2001. Scliar se baseou na reportagem "Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SP", publicada em 18 de dezembro de 2001 no mesmo periódico. O gênero é a crônica, um pequeno texto baseado em fatos do cotidiano.

Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Scliar lembra que quando se fala em literatura, habitualmente são citados apenas livros e que outras fontes dessa arte não são lembradas. "As pessoas esquecem que o jornal pode ser um espaço literário privilegiado. A crônica combina o jornalismo com literatura. Os textos são comentários do cotidiano feitos de maneira poética, lírica", explica o escritor.

Para Scliar, a leitura diária do estilo, principalmente por candidatos ao vestibular, pode ser um bom ingrediente para que os estudantes produzam boas redações. "É um texto acessível, curto, uma lição de literatura que representa um desafio ao estudante. Eles escrevem muita redação que gira em torno de idéias. Por que não escrever redações em torno de emoções, de sentimentos", indaga o escritor.

O imortal da ABL acredita também que ter conhecimento sobre os autores pode ser essencial para que o estudante perceba que ele também é capaz de produzir da mesma maneira. "Em um país que se lê pouco, é importante motivar os jovens leitores através da pessoa do escritor, assim o jovem se dá conta de que atrás do livro existe uma pessoa de carne e osso como ele", diz.

Como uma dica, Scliar sugere que os estudantes leiam nos jornais textos tanto de cronistas como de colunistas, mas destaca um que considera especial: Luis Fernando Veríssimo. "O texto dele é uma lição de como escrever bem e ele expõe idéias de forma lógica e atrativa", avalia Scliar. No Paraná, os textos de Veríssimo podem ser lidos em publicações do jornal "Gazeta do Povo". Para quem nunca leu uma obra de Scliar, o autor dá a dica: "Eu sugiro o livro de crônicas 'Um País Chamado Infância', de 1989, o segundo da carreira".

E para falar mais sobre a crônica, Scliar esteve em Curitiba, na noite desta sexta-feira, dando uma palestra no lançamento do programa "Crônica na Sala de Aula", do Itaú Cultural. O programa tem por objetivo capacitar professores da rede municipal de ensino a utilizar a crônica como ferramenta em classe. "É uma iniciativa original e muito importante porque abre um novo caminho no ensino da literatura", comenta o escritor.

Bastante requisitado a participar de eventos na área de Educação, esta foi a terceira vez que Scliar veio a Curitiba em menos de um mês. Em 24 de setembro, ele participou do "Livro em Cena Decisivo", na companhia de outros três imortais da ABL, e em 5 de outubro participou de uma mesa-redonda no 3.º Seminário Ler e Pensar de Leitura e Literatura, com jornalistas e escritores. "Eu gosto muito do tema e sempre que me convidarem estarei pronto a aceitar", conclui Scliar.

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