Com os altos custos para bancar uma graduação em Medicina, cada vez mais estudantes estão buscando alternativas fora do país para se formarem médicos. Um dos destinos escolhidos é a Rússia.
Vantagens como custos mais baixos e facilidade nos processos seletivos compensam dificuldades como a distância, as diferenças de cultura e o clima – no inverno russo, as temperaturas podem a chegar a 30° C abaixo de zero.
Além disso, a infraestrutura do sistema de saúde do país é um diferencial, com mais de 9 mil hospitais, 6 mil clínicas e 3 mil centros de emergência operados por mais de 600 mil médicos e 1,3 milhões de profissionais da área; desde 2006, o governo russo faz investimentos cada vez maiores em saúde como parte do Projeto de Prioridade Nacional, que visa modernizar e ampliar a rede de saúde no país.
“A Rússia tem excelentes universidades, mas pouca procura quando comparado com países como Estados Unidos, Canadá e França. Esse quadro está mudando; as pessoas estão conhecendo melhor o sistema universitário russo e seus custos”, conta a diretora da Aliança Russa no Brasil, Carolina Telléz.
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O país é receptivo a estudantes internacionais: de acordo com dados do Ministério da Educação da Federação da Rússia, no ano letivo de 2013 mais de 43 mil alunos estrangeiros desembarcaram no leste europeu – destes, 17,7% ingressantes em cursos de medicina. Na Universidade Médica Estatal de Kursk, que está entre as melhores do mundo, o curso de medicina contava, em 2016, com um total de 10 mil alunos, dos quais 3,2 mil eram estrangeiros e 500 deles brasileiros.
Recepção
Para ser aprovado em uma faculdade de medicina, os estudantes devem se inscrever em um curso preparatório, que tem duração média de 12 meses. O pedido é feito diretamente com a instituição de ensino. O processo burocrático pode ser auxiliado por instituições que fazem a intermediação entre os estudantes e as instituições. Os ingressantes nos cursos preparatórios têm aulas do idioma russo, introdução à cultura do país e noções básicas de algumas disciplinas de medicina.
No curso superior, as aulas são ministradas totalmente em inglês, mas o domínio do russo também é necessário tanto para atividades cotidianas quanto para o atendimento a pacientes; ao final dos cursos preparatórios, estes com aulas ministradas totalmente em russo, a maioria dos estudantes sai com razoável domínio do idioma.
O modelo de ensino também é uma mudança para os estudantes brasileiros. Nas faculdades russas, as turmas são menores, com até 12 alunos cada. As avaliações são feitas por meio de provas orais ao final de cada aula. Se o aluno não passar em uma avaliação, precisa refazê-la até ser aprovado; ao final da disciplina, é feito um exame com todos os conteúdos ensinados.
“Absorvemos melhor as informações do que em uma sala com 40, 50 alunos. É uma mentalidade totalmente diferente da ocidental; para tudo se tem uma hierarquia. Culturalmente eles exigem que você tenha responsabilidade desde o primeiro dia na universidade”, conta o curitibano Rodolfo Luiz Araujo dos Santos, 26, que cursa medicina em Kursk há dois anos.
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“Você vive em um sistema com provas orais, práticas e escritas. Não são avaliações mensais: você precisa estar preparado ao final de cada aula. E aí está uma das principais diferenças; você precisa estudar para as aulas. Normalmente o professor lhe cobra antes de lhe ensinar”, completa.
Custos e oportunidades
O custo é um fator decisivo para muitos estudantes. Na Rússia, o valor médio por semestre é de US$ 3,1 mil, aproximadamente R$ 10 mil – incluindo as mensalidades para o semestre letivo, alojamento e seguro saúde.
Os estudantes formados na Rússia podem praticar a profissão em países da União Europeia, graças ao Tratado de Bolonha, assinado em 2003, que permite a livre circulação de estudantes e profissionais do ensino superior entre os países signatários.
Já no Brasil, o estudante deve realizar as provas do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida) – nessa fase, cerca de 80% dos candidatos formados em universidades russas tem seu diploma validado.
“Me formei em julho de 2015, iniciei o processo de validação do diploma no final do mesmo ano e em abril de 2016 já estava com meu CRM”, diz Tatiane Regina Ramos, que se formou na Universidade de Kurski e desde maio de 2016 trabalha no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. “Nunca enfrentei nenhum tipo de preconceito. Quando falo que me formei na Rússia, normalmente as pessoas enxergam como um mérito a mais”, conclui.
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