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Portugal avança nos índices de educação
Portugal avança nos índices de educação| Foto: Pixabay

Não foi investindo mais dinheiro nem com metas mais brandas que Portugal conseguiu superar o patamar de "lanterninha" em rankings internacionais de educação e atingir índices que superam os da Finlândia.

A solução encontrada pelo país europeu - que há poucos anos estava mal situado no contexto internacional - foi apostar, sobretudo, em currículos exigentes e avaliações. "A exigência é a oportunidade dos pobres", sustenta como mote Nuno Crato, ex-ministro de Educação e Ciência de Portugal, entre 2011 e 2015, responsável, em grande parte, pela reestruturação do sistema educacional português.

Crato foi convidado pelo MEC, em 2019, a palestrar na 1.ª Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe), em Brasília.

Acima da média

A partir dos anos 2000, atores da política portuguesa, engajados, decidiram intervir diante dos péssimos índices educacionais, fazendo com que o país conquistasse resultados acima da média de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A progressão continuou, inclusive, mesmo em meio a crise financeira que atingiu o país anos depois, entre 2010 e 2015, demonstrando, dessa forma, que o investimento monetário não é o principal fator responsável pela melhora na educação.

"Em 1995, a situação não era nada animadora", disse Crato apontando para gráficos que revelam os baixos índices educacionais, durante a Conabe. Mas de situação "nada animadora" o país deu um salto e, em 2015, alcançou, por exemplo, 541 pontos no quesito matemática no Pisa, passando a Finlândia e outros 36 países.

Notável também foi a queda abrupta do índice de abandono escolar. "Quando eu cheguei ao governo, o abandono escolar precoce estava próximo a 25%. Quando saí, estava em 3,7%", disse Crato sobre o progresso em apenas quatro anos.

Currículo e centros de certificação

Todo bom resultado é fruto de um bom currículo - é o que defende o ex-ministro português. "Há pessoas que acham que deve começar em outra coisa, como na construção de escolas, ou colocar computadores nas salas de aulas, usar métodos diferentes. Minha ideia é de que tudo começa com o currículo", diz. "Algo que é tão barato, custa tão pouco, e que tem se provado em todo o mundo que tem resultados. É quase de graça, comparado a todos os custos que os ministérios de educação têm no mundo inteiro. Se não existir currículo, como faz avaliação? Como se fazem os manuais? Como se estabelecem metas? Se não tiver, é autonomia sem objetivos".

Segundo ele, foram necessários anos para que as pessoas envolvidas com a educação evoluíssem suas perspectivas no sentido de olhar para o currículo como a "solução" básica do processo.

“O currículo deve ser exigente. Não se deve por meia dúzia de coisinhas. Tem de estar centrado nas disciplinas essenciais. Tínhamos muitas outras coisas que atrapalhavam o foco no que era central, como educação cívica, disciplina de cidadania, estudo acompanhado, apoio de projetos”, diz. “As essenciais, eu diria, português e matemática, ciências, história, geografia".

O Brasil, no entanto, a despeito do que adotam alguns municípios, de forma isolada, como Sobral, no Ceará, anda na direção inversa. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o exemplo de um currículo que é mais focado em desenvolver habilidades "transversais" nos alunos do que ensinar conteúdos básicos e essenciais.

Em seguida, destaca Crato, é preciso que os manuais escolares, ou seja, materiais didáticos, sejam bem elaborados. Para isso, Portugal investiu em espécies de centros de avaliação e certificação de manuais, devidamente registrados. "Há diferentes manuais e há incentivo para usar eles. Mas é um sistema muito liberal nesse sentido. Autores e editores fazem o que acharem melhor e, depois, sujeitam-se a uma certificação", explica.

Ensino ativo e professores

As correntes teóricas que chegaram ao Brasil há, pelo menos, 20 anos, que defendem ensino "ativo", abordagens globais e desenvolvimento do senso crítico acima do conhecimento básico, são contestadas pelo ex-ministro. Não foi adotando essas metodologias que Portugal progrediu.

"Há um movimento contra o conhecimento, e isso não é algo que estou a falar por falar. Nós escutamos dizer que não interessa tanto saber o que se está a estudar, o que interessa é desenvolver o senso crítico. E como posso desenvolver o sentido crítico sem saber o que estou a falar? Quanto mais eu sei, mais eu percebo. Se sei de geografia, mais sei sobre uma guerra que está acontecendo. Mas se eu só tiver sentido crítico e não souber o conteúdo, não funciona", disse.

Enquanto teorias como Whole Language dizem que tudo deriva do interesse da compreensão (se um texto me interessa, aprendo a ler), achados da psicologia cognitiva moderna revelam que, do contrário, a compreensão e o interesse derivam dos conhecimentos prévios.

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"Há experiências sistemáticas que mostram que o sentido crítico para a análise de um texto não é desenvolvido em abstrato. Mas é desenvolvido conhecendo o texto. Se não dermos conhecimento às crianças, estamos a condená-las ao fracasso, apesar de estarmos dizendo que queremos desenvolver o sentido crítico", afirma ele.

O ensino explícito foi uma das mais poderosas ferramentas do país europeu para o salto na educação. Inúmeras evidências científicas são claras quanto à importância de um ensino dirigido.

"Por que o professor explicar é uma coisa chata? O ensino dirigido não quer dizer ensino maçante nem passivo, nem ensino tradicional no sentido negativo. Ensino dirigido pode ser ativo, estimulante", afirma.

Há quem defenda que igualdade social é o que deriva de não haver avaliação, mas para Crato, sem avaliação, "estaremos a prejudicar todos". Há total amparo científico, inclusive, para que as avaliações sejam utilizadas no sistema escolar.

"Adicionamos a avaliação frequente para os vários anos de escolaridade, avaliação externa e interna", diz. "A exigência é a oportunidade dos pobres, é sendo exigentes, querendo que todos progridam, que conseguiremos que todos atinjam níveis razoáveis. A psicologia cognitiva moderna descobriu que ser testado é a melhor maneira de se aprender algo. É um hábito que solidifica o conhecimento".

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