Certo ou errado
Saiba como agir frente aos pequenos que fantasiam e aos maiores que escondem verdade:
- Não converse com a criança quando estiver alterado ou a induza à mentira. Em vez de perguntar se alguém bateu nela, pergunte o que aconteceu. Faça perguntas abertas e amplas.
- Fique de olho nos sinais não verbais ao tentar descobrir uma informação. Pausas longas ao falar, o repetir de perguntas, não olhar nos olhos ou ter um ar de constrangimento são clássicos sinais de que não se está falando a verdade.
- A criança vai perceber que mesmo adultos mentem nas mais diversas situações. Explique que o fato de adultos contarem mentiras não faz deste um comportamento aceitável.
- Não diga à criança que vai fazer algo se não pretende cumprir. Se ela pede um brinquedo hoje e ouve que vai ganhá-lo amanhã, isso será mentira se não houver a intenção de compra.
- Repreender a criança por algum comportamento ou fala, sem procurar entender o que ela está querendo dizer, é desperdiçar uma chance de se aproximar da criança e ganhar a confiança dela e de ensiná-la como agir.
- Ao se deparar com uma mentira, verifique se a motivação da criança foi tentar escapar de alguma responsabilidade ou se ocorreu pela falta da compreensão em relação à situação.
- Seja claro ao definir regras. Ao reincidir na mentira, a criança pode estar agindo dessa maneira por não entender a importância do que foi pedido. Se pais proíbem a conversa com estranhos pela internet e ela desobedece, é bom verificar se ela entende claramente os riscos que corre ao agir assim.
- Dizer que é feio mentir, que a criança é mentirosa ou compará-la com o Pinóquio não é a melhor postura. A criança vai descobrir em algum momento que seu nariz não vai mudar de tamanho. O melhor é expor as possíveis consequências.
- Seja uma conversa ou um castigo, a reação a uma mentira deve vir de forma imediata e precisa ter relação com o ato em si. Se o pequeno está jogando videogame e mentiu que já fez a lição, vai ter de parar de jogar.
- Cultive o diálogo com as crianças. Deixe-as acostumadas a ouvir os outros falarem sobre como foi o seu dia e só então espere que elas compartilhem também. A confiança na família se estabelece quando uns escutam os outros e percebem que podem contar com o apoio mútuo, mesmo quando erram.
Fonte: Redação com especialistas entrevistadas.
Inteligência
Um estudo canadense divulgado pelos jornais The Times e Daily Mail mostra que o fato de uma criança pequena contar mentiras pode ser um sinal de inteligência. Segundo os cientistas que participaram dos testes, os complexos processos mentais envolvidos na criação de uma mentira são um indicador de que a criança atingiu um importante estágio no seu desenvolvimento. Enquanto 20% dos pequenos de dois anos foram capazes de mentir, 90% dos de quatro anos testados não falaram a verdade.
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"Não vi, não fui eu e não sei", são palavras que Anna Carolina, 10 anos, costuma ter sempre na ponta da língua. Na tentativa de escapar de uma bronca, a menina só admite alguma estripulia quando colocada contra a parede. "Depois de muita prensa ela acaba falando, mas temos de ficar em cima, pois ela sabe ser bem dissimulada, engana bem", conta a mãe, Catiane Camargo Cardoso, 28 anos.
Ninguém nasce sabendo mentir. Esse é um comportamento aprendido, que vem a partir da convivência com outras pessoas, quando percebemos que o que falamos ou fazemos tem consequências. A criança mente por diversos motivos, mas as mentiras podem ser separadas entre aquelas que nascem da fantasia, entre os menores, e as que têm a intenção de enganar alguém.
Se a criança percebe que outra se impressionou com o fato inventado de que o pai comprou o videogame mais moderno, a tendência é que ela repita o comportamento de mentir em situações semelhantes, como explica a psicóloga Graziela Sapienza, mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria e professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
"Algumas crianças podem mentir para ter uma consequência positiva, como a de impressionar o outro, ou podem mentir para evitar algo desagradável, como quem mente que ainda não recebeu a nota da prova em que foi mal. Ela sabe que ficará de castigo ou levará bronca, então distorce o fato adiando ou evitando as consequências", diz Graziela.
Anna Carolina já deixou a fase das fantasias e agora tenta usar as mentiras a seu favor. Apesar de ter recebido a orientação de que as mentiras da filha eram inofensivas, Catiane está mais preocupada agora que a filha está mais velha. "A pediatra disse que, enquanto Anna não estiver prejudicando ninguém, a mentira não é um problema e que ela não faz por maldade. Mas, mesmo lembrando que na infância mentia também, me pergunto sobre qual a forma mais correta de agir", conta.
Compreensão
Mesmo na fase em que a realidade se mistura com a fantasia, até por volta dos sete anos, é preciso que a criança seja compreendida. "Não temos bola de cristal e nem sempre é fácil perceber o que leva uma criança a não dizer a verdade. Mas muitas vezes isso é possível se houver ação conjunta. Se a mentira envolve a escola, pais têm de sentar com professora, coordenadora, com quem puder ajudar", afirma a doutora em Educação Maisa Pannuti, professora de Psicologia da Universidade Positivo (UP).
Além de se preocupar com a causa do comportamento da criança, expor a ela as consequências da mentira e mostrar a verdade são fundamentais para a sua formação. Na hora em que a falha é descoberta, o importante é ouvir a criança e não criticar ou puni-la até que se entenda qual a motivação dela. "Essas atitudes geram um clima favorável à confiança e segurança, o que aumenta as chances de que a criança diga a verdade", diz Graziela.
Consequências são para a família toda
A mentira é um sinal de que a criança já percebe que pensa e sente coisas de que ninguém tem conhecimento. Mas, embora ela represente um amadurecimento cognitivo, pais precisam ficar atentos e ensinar o valor da honestidade. À medida que as mentiras vão aparecendo, também surgem as chances de se mostrar que faltar com a verdade tem consequências diversas.
Uma mentira pode acarretar na perda da confiança de alguém ou no prejuízo de uma pessoa inocente. Mas também há as mentiras "sociais", aquelas de menor complexidade e que são usadas em situações em que a verdade magoaria. Aí entram um elogio a um corte de cabelo esquisito ou o agradecimento por um presente não-desejado. Estudos sugerem que os adultos contem ao menos sete dessas mentiras por dia. E as crianças estão na plateia.
A saída é usar o bom senso, dar o exemplo, ficar de olho nas escorregadas e assumir os erros. O mesmo vale para adultos e crianças de todas as idades. Se houve prejuízo, deve haver a reparação. Se o que foi dito magoou alguém, é preciso ir além das desculpas. "Só se desculpar não vale, pois não resolve. O pedido precisa ser verdadeiro e haver a mudança de comportamento", lembra a doutora em Educação Maisa Pannuti.