"Você pode alcançar maior autonomia! Venha concluir seus estudos". Essa foi a chamada principal no folder produzido pelos alunos do Ensino Médio do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) de Bituruna, para incentivar outros moradores da cidade a retomarem os estudos. A atividade surgiu na disciplina de Geografia, quando estudavam os Direitos Humanos. A professora Sônia Mara Zamboni, que conduz a turma, falou sobre direitos básicos, comentou sobre a violação dos mesmos e pediu que refletissem sobre o Direito à Educação. "Eles mesmos foram percebendo que, no passado, haviam sido privados da educação e por isso estavam estudando depois de adultos", conta a professora.
A reflexão gerou tanto interesse que os estudantes começaram a questionar se ainda era grande o número de pessoas sem escolaridade no Brasil. Como participa do Ler e Pensar há alguns anos, Sônia decidiu inserir o jornal Gazeta do Povo nas aulas para que ampliassem a pesquisa sobre o assunto. Os alunos buscaram notícias sobre alfabetização de jovens e adultos e se espantaram com os números ainda altos de analfabetismo e de pessoas com escolaridade incompleta no país. "Chegaram à conclusão de que deveriam fazer alguma coisa para que outras pessoas voltassem a estudar", diz Sônia.
Mutirão pelo estudo
Orientados por ela, os 20 alunos confeccionaram um folder que seria o convite para entregarem em suas comunidades. Sônia conta que cada aluno ficou encarregado de abordar, pelo menos, quatro pessoas, mas que foram muito além disso. "Na entrega eles perguntavam a escolaridade e com isso conseguimos levantar um pequeno cenário de como é o nível de escolaridade em alguns bairros da cidade", conta a professora. Durante a atividade, os alunos encontraram mais de 70 analfabetos e 113 pessoas com Educação Básica incompleta. Sônia conta que duas delas já procuraram a escola para se matricularem. "É um trabalho de longo prazo, mas é um começo", espera.
A escola será pequena
A aluna Marilene Pereira, de 32 anos, conversou com diversos vizinhos e garante que, se depender de seus esforços, pelo menos seis voltarão a estudar. "Acho que no próximo ano nossa escola será pequena para os novos alunos. As pessoas que abordei se sentiam valorizadas por terem sido lembradas. Às vezes o que mais falta é alguém para motivar", acredita. Marilene mesma é um exemplo que inspira: retomou os estudos do Ensino Fundamental e, neste ano, vai fazer o Enem para tentar cursar Matemática.