A Base Nacional Curricular Comum (BNCC), documento que começa a guiar a formulação dos currículos das escolas de todo o país, inclui a proposta de desenvolver com os alunos competências “cognitivas” e “socioemocionais”. Em entrevista para a Gazeta do Povo, Simone André, especialista em Educação, explica por que essas habilidades são importantes para formar profissionais preparados para os desafios do futuro.
Quais são as características necessárias da educação para o século XXI?
É preciso olhar para as exigências do século XXI ao mesmo tempo em que consideramos a dívida que temos para com a educação, vinda do século passado. O atual panorama traz números impressionantes, mostrando que a cada dez alunos que entram na escola pública, três concluem o ensino médio.
Isso sem contar que são muito menos os que realmente adquirem conhecimento em matemática e língua portuguesa. Ou seja, apesar do grande número de matriculados na escola pública, os alunos enfrentam muitas dificuldades para aprender e dar continuidade aos estudos, deixando a escola ao longo do caminho.
Quais as competências que estão sendo exigidas e deveriam ser desenvolvidas nas escolas?
A realidade atual demanda mais do que o básico do aprendizado em história, geografia, matemática, português, cultura corporal, a arte. O conjunto de competências que propõe a Base Nacional Comum Curricular contempla a dimensão socioemocional, ampliando as fronteiras de desenvolvimento dos estudantes.
Assim, não basta saber somente a matemática ou as demais áreas do conhecimento, mas, por meio delas, construir um conjunto de competências como resolução de problemas, colaboração, criatividade, autoconhecimento, pensamento crítico, determinação, que são apontadas pelos pesquisadores hoje como decisivas para aprender, conviver e participar da economia baseada na inovação.
É o que chamamos de educação integral, que diz respeito aos aspectos qualitativos da educação, enquanto a educação de tempo integral refere-se à ampliação do tempo na escola.
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Sob quais aspectos o Brasil tem falhado ao educar as crianças?
A formação de professores e as políticas que melhoram a carreira docente são o ponto chave para a implementação de um currículo orientado pela BNCC e ainda não estão bem construídas em nosso país. O Brasil já tem o marco legal trabalhado na gestão anterior, isso é, a Base Nacional Comum de Formação Docente, para orientar sistemicamente a formação do educador, que é fundamental nesse processo. Os profissionais de educação devem ser engajados assim como remunerados e bem preparados para exercer a profissão, contando com uma carreira atrativa.
O que pode e deve ser feito pelos Secretários de Educação em seus respectivos âmbitos?
Temos boas orientações para formular um currículo para colocá-lo em prática, mas tudo isso envolve gestão. É papel dos secretários estaduais e municipais rever ou mesmo elaborar os currículos, considerando essas orientações, em regime de colaboração. O Brasil é uma federação, logo, há aspectos que são de competência federal, estadual ou municipal.
A primeira dessas políticas educacionais tem como foco o currículo, com a inovação da BNCC, que sinaliza uma proposta de Educação Integral, não necessariamente de tempo integral, mas com uma abordagem voltada ao desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais.
Tendo seus currículos orientados pela BNCC, estados e municípios, com apoio da união, precisam elaborar políticas e ações voltadas à formação e valorização docente. O governo atual acertadamente propõe dar continuidade à implementação da BNCC e precisa estruturar iniciativas de suporte aos 27 estados e o DF que, idealmente associados aos municípios brasileiros, já reformularam os currículos e começam a se organizar para formação de educadores e levar a inovação à escola. Esse é o caminho e é um desafio de longo prazo, que requer continuidade de propósito e de políticas.
Há exemplos positivos nesse sentido que poderiam ser destacados no imenso panorama do Brasil?
O Ceará é um dos bons exemplos de continuidade política, o que é fundamental. Mato Grosso do Sul é exemplo de atuação em regime de colaboração com municípios. Com relação ao Ensino Médio, cuja BNCC está em processo, temos bons exemplos de políticas que já atingem melhores resultados com os estudantes, como acontece em Pernambuco.
Essas propostas que dão certo precisam ser compartilhadas e suas lições aprendidas de forma sistêmica no país. O Brasil precisa beber mais em sua própria fonte de experiências. Educação é tipo de assunto tão estratégico que exige soma de esforços. Os governos têm papel chave e a sociedade civil precisa atuar de modo coordenado para qualificar a demanda e subsidiar as boas resoluções. Educação é assunto de todos.
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