Os níveis de aprendizagem em português e matemática caíram em todas as etapas analisadas no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021, com dados divulgados nesta sexta-feira (16) pelo Inep, órgão do Ministério da Educação (veja as tabelas). Os alunos com os piores desempenhos foram os dos primeiros anos do ensino fundamental, faixa etária mais prejudicada com as escolas fechadas durante a pandemia.
Os resultados do Saeb variam de 0 a 500, sendo que, na média dos últimos anos, os alunos estiveram muito abaixo da proficiência esperada em cada fase do ensino.
Em 2021, em média, nos anos iniciais do ensino fundamental em escolas públicas e privadas, com prova realizada a alunos do 5º ano, a aprendizagem de língua portuguesa caiu de 215 pontos, identificada em 2019, para 208, em 2021 - 7 pontos. Isso significa que os alunos ainda não seriam capazes de operações simples, como reconhecer assunto e opinião em reportagens e contos, descobrir a finalidade de um texto ou reconhecer elementos de narrativa em fábulas. Em matemática, a proficiência caiu de 228 pontos para 217, 11 pontos nesse mesmo período. De acordo com a tabela de proficiência do Inep, isso significa que esses estudantes não são capazes de calcular os dias de múltiplas semanas ou determinar a divisão exata por números de um algarismo.
Nos anos finais do ensino fundamental, com avaliações feitas a alunos de 9º ano, a proficiência caiu de 260 para 258 em língua portuguesa e de 263 para 256 em matemática. No ensino médio, a variação foi de de 278 para 275 em português e de 277 para 270 em matemática.
De acordo com o ministro da Educação, Victor Godoy, os resultados são reflexo das escolas fechadas durante a pandemia e também dos problemas do ensino brasileiro existentes antes desse período. "Essas perdas são decorrentes tanto do período de escolas fechadas como também de dificuldades históricas dos nossos sistemas educacionais", disse Godoy.
Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica do MEC, confirma que esse resultado já era esperado, pelo fechamento das escolas durante a pandemia e a falta de materiais para famílias que desejam educar em casa. "No caso do Brasil, que já tinha notas baixíssimas anteriormente, nossa capacidade didática, quer no setor público, quer no setor privado, quer nas famílias é próxima de zero, muito baixa em uma comparação mundial. Em outros países, pode-se ver que houve um esforço concentrado e alguns alunos até se saíram melhor, como agora nas provas de admissão para a faculdade da Inglaterra. Mas é porque os alunos têm à sua disposição material de qualidade", afirmou. "A irresponsabilidade de deixar os alunos sem aula foi um crime contra a população escolar, e um crime consciente, porque todo mundo sabia que o desempenho dos alunos brasileiros já era baixo", completa.
Ao contrário de outros anos, a pesquisa foi censitária, com a presença de 70,7% dos alunos, e não amostral (como realizada nas edições anteriores). As provas de português e matemática do Saeb foram aplicadas no final de 2021, entre os dias 8 de novembro e 10 de dezembro, para aproximadamente 5,3 milhões de estudantes, de 72 mil escolas públicas e privadas, em cerca de 246 mil turmas.
Dados do Ideb comprometidos pela pandemia
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador da qualidade da educação básica, também foi divulgado, mas com ressalvas. O índice, divulgado a cada dois anos, leva em conta, além do desempenho dos alunos em português e matemática, a taxa de aprovação. Como durante a pandemia estados e municípios utilizaram critérios diferentes de aprovação, com casos em que todos os alunos passaram automaticamente de ano, a comparação do Ideb 2021 com dados de anos anteriores está sendo realizada com cautela.
O Índice foi divulgado para os anos iniciais e finais do ensino fundamental, contando com as provas Saeb feitas para alunos de 2º, 5º e 9º ano; e para o ensino médio, avaliando alunos do 3º ano dessa etapa final da educação básica. Os alunos de 9º ano também passam por uma análise em relação aos conhecimentos de ciências da natureza e ciências humanas.