Estudantes que ingressam no ensino superior têm expectativas pouco realistas do cotidiano da universidade. E não se tratam apenas de dilemas normais sobre o futuro: a imaturidade diante dos desafios da nova fase de estudos é uma característica central em um contexto em que eles não se colocam como adultos responsáveis pela sua formação e, muitas vezes, esperam ações em um perfil ainda escolar, buscando na faculdade uma extensão dos seus desejos pessoais do momento.
Estudo desenvolvido pelo Higher Education Policy Institute (Hepi), instituto britânico pela promoção de políticas de melhoria dos sistemas educacionais, indica que, para os jovens, aspectos como modelo de ensino, ritmo de estudo e demandas financeiras são alguns dos pontos em que o esperado não corresponde à realidade.
Uma das expectativas equivocadas apontadas na pesquisa é que os alunos esperam ter uma carga horária de aulas na graduação maior do que no ensino médio. Esse tipo de anseio leva a uma dificuldade de adaptação ao ritmo da universidade, que costuma exigir maior dedicação em períodos extraclasse, com atividades como pesquisa, extensão e estágios, além de tempo dedicado a projetos, trabalhos e estudo independente.
“Precisamos romper este paradigma dos jovens de que o curso escolhido é uma extensão escolar limitadora, a formação profissional é muito mais dinâmica e complexa”, lembra Fabiane Picheth, Mestre em Educação e coordenadora executiva do curso de Pedagogia da Universidade Positivo (UP). “A expectativa dos estudantes está direcionada a uma formação imediatista”, lamenta.
“Temos muitas informações sobre o que os estudantes pensam, mas não sabemos muito sobre o que aqueles que entram no ensino superior esperam que aconteça quando eles estiverem lá”, diz o diretor do Hepi, Nick Hilman. “Queremos preencher essa lacuna porque as pessoas que esperam uma experiência diferente são aquelas que acabam mais insatisfeitas, aprendem menos e acreditam receber menos benefícios para o que estão investindo.”
O despreparo dos alunos ingressantes no ensino superior também se estende ao desempenho acadêmico. No Brasil, instituições privadas oferecem cursos de nivelamento para alunos que apresentam defasagem de aprendizado em relação aos conteúdos do curso. Os cursos, geralmente oferecidos no contraturno, são opcionais.
Em instituições públicas, são os cursos de exatas de maior concorrência que apresentam discrepâncias entre os alunos nos primeiros períodos. Em determinadas graduações de engenharia, são ofertadas disciplinas de pré-cálculo, que trata de conteúdos de matemática equivalentes ao currículo do ensino médio, para nivelar os conhecimentos dos alunos que deverão cursar as disciplinas de cálculo, que compõem uma carga horária significativa dos cursos.
Na outra ponta da discussão, pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal de Santa Maria revela que a maioria dos estudantes entrevistados reportou sentimentos de solidão, de insatisfação com o curso, com professores, com colegas e com o funcionamento da universidade, além de um nível de exigência acadêmica com o qual não estavam acostumados.
De acordo com a pesquisa, os alunos ingressantes no ensino superior apontam que as primeiras exigências da universidade representam uma mudança brusca no seu cotidiano, o que demonstra um despreparo geral do calouro frente às demandas da universidade. “A falta de um maior conhecimento sobre o que é a universidade e o que esperar dela, tanto em termos acadêmicos quanto pessoais, é um fator que pode concorrer para as dificuldades de adaptação”, afirmam os pesquisadores.
Um dos resultados dessa dificuldade de adaptação à vida universitária é uma perda de motivação que leva a um menor desempenho acadêmico e obstáculos sociais e profissionais que podem levar à evasão. Para evitar esse quadro, as instituições devem oferecer informações esclarecedoras para os seus alunos ingressantes e candidatos.
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Copom aumenta taxa de juros para 12,25% ao ano e prevê mais duas altas no próximo ano
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast