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Rendimento

Dificuldade em matemática pode ser transtorno neurológico. Mas é possível superá-lo

Com acompanhamento profissional, Augusto superou a discalculia e, hoje, cursa o terceiro ano de Administração. | Antônio More/Gazeta do Povo
Com acompanhamento profissional, Augusto superou a discalculia e, hoje, cursa o terceiro ano de Administração. (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

Mais do que falta de habilidade com os números, os problemas relacionados ao aprendizado da matemática podem caracterizar a discalculia, distúrbio que costuma dar seus primeiros sinais já no início da etapa escolar. Decorrente de uma má formação neurológica, ela se caracteriza pela dificuldade do aluno em realizar cálculos e/ou reconhecer números, o que compromete seu desempenho escolar e sua autoestima.

A discalculia é descrita como um transtorno do neurodesenvolvimento com origem genética, sempre associada a fatores ambientais, como explica Regina Eliane Pick, psicóloga, pedagoga e psicopedagoga. Isso porque, mesmo tendo um componente físico, o distúrbio não costuma ser detectado nos exames, o que faz com que seja necessário se avaliar o comportamento da criança para se chegar ao diagnóstico.

“É um problema de formação neurológica, não é uma deficiência mental ou resultado de uma má escolarização, dificuldade visual ou do [baixo quociente de inteligência] QI”, reforça Gilmar Bornatto, coordenador do curso de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Sinais

Os primeiros sintomas da discalculia costumam aparecer por volta dos seis/sete anos de idade, período no qual a criança começa a trabalhar com a matemática e a abstração numérica na escola.

Entre os sintomas mais comuns estão a dificuldade em realizar cálculos, a necessidade de contar os números nos dedos para fazer contas simples, a troca de operações matemáticas e/ou o não reconhecimento de seus símbolos.

Como toda criança em idade escolar pode apresentar alguma dessas questões, a psicopedagoga Raquel Pinto de Oliveira, do Centro de Neuropediatria do Hospital de Clínicas (HC), explica que para ser diagnosticada como discalculia tal dificuldade precisa ser forte e persistente a ponto de trazer prejuízos acadêmicos e emocionais para a criança.

“Por mais que se esforce, este aluno não consegue atingir o mesmo desempenho da turma, o que pode levá-lo à recuperação ou até mesmo à reprovação, além de trazer prejuízos para sua autoestima”, acrescenta.

Por isso, é imprescindível que os professores estejam atentos às trajetórias de aprendizagem de seus alunos, uma vez que, no dia a dia de sala de aula, eles teriam mais capacidade para identificar tais sinais.

Diagnóstico

Uma vez detectada a dificuldade no aprendizado da matemática, os pais devem buscar, primeiramente, a orientação de um pediatra para que sejam realizados exames e eliminadas outras possibilidades, como a de a criança apresentar outras síndromes.

Depois, deve-se procurar o auxílio de um psicopedagogo, que é o profissional capacitado para realizar os testes (como os de memória verbal e não verbal) e diagnosticar a discalculia. Uma vez confirmado o distúrbio, seu tratamento é realizado em três frentes, que envolvem a escola, família e intervenção clínica.

“A escola precisa saber o que a criança tem para poder utilizar o recurso mais indicado para que ela possa se apropriar daquele conhecimento. Na clínica, o tratamento é realizado por meio de jogos e recursos lúdicos em uma frequência adequada às necessidades de cada estudante”, explica Regina.

A família, por sua vez, pode estimular a criança com brincadeiras simples, como contar o número de cachorros ela vê durante um passeio ou a quantidade de pratos necessários para que todos os familiares façam suas refeições.

“O fato de uma criança ter discalculia não a impede de ir bem em outras disciplinas”, lembra Bornatto. Com o tratamento, inclusive, ela tem condições de contornar o distúrbio e levar uma vida normal.

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