| Foto: Tom Kates Photography

Para o economis­ta Richard Murna­ne, professor da Universidade de Har­vard, melhorar a Edu­ca­ção não é uma questão apenas de ter dinheiro, mas de saber como usá-lo. Se os professores não dispõem do conhecimento necessário, dar incentivos financeiros a eles não vai adiantar, diz. Murnane, que esteve no Brasil para um seminário do Instituto Alfa e Beto e é coautor de um livro sobre desigualdade de renda e educação, afirma que famílias mais ricas investem mais nos filhos.

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Uma pesquisa sua e de Greg Duncan mostra que as diferenças nos resultados de Matemática e leitura de crianças de baixa renda e de renda alta nos Estados Unidos são maiores hoje que antigamente. Por quê?

Isso é correto, mas não significa que os resultados das crianças de baixa renda tenham caído. Eles melhoraram, modestamente. O problema é que as conquistas dos alunos de famílias de classes mais altas melhoraram muito mais. A explicação está em parte relacionada às consequências das crescentes desigualdades de renda nos Estados Unidos. Todas as famílias fazem o seu melhor para cuidar dos filhos. O que as de renda alta perceberam é que a melhor maneira de cuidar dos filhos é investir na educação e nas habilidades deles. As de baixa renda não conseguiram fazer estes investimentos.

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Qual é o tamanho das diferenças de resultados entre crianças de baixa e de alta renda?

Cerca de 5% dos alunos mais pobres que eram adolescentes em meados da década de 1970 se formaram em uma universidade, contra 36% dos que estavam entre os 25% mais ricos na mesma época. Em meados de 1990, o porcentual de crianças de baixa renda que se formou na universidade foi de 9%, um aumento modesto. Em contraste, 54% das crianças mais ricas se formaram.

Devemos contar com as escolas para tornar a igualdade de oportunidades uma realidade?

Pelo menos nos Estados Unidos, as escolas têm tentado fazer isso. Mas ficou mais difícil com o aumento da segregação residencial por renda. Hoje, crianças de baixa renda têm mais tendência a frequentar escolas com outras crianças de baixa renda do que acontecia 30 anos atrás. Isso torna o trabalho de criar uma educação de alta qualidade muito mais difícil.

Como aumentos na renda familiar impactam as oportunidades educacionais de crianças de baixa renda?

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Dinheiro por si só não é a maneira de pensar a questão. Os pontos-chave são as experiências que os alunos têm diariamente; elas precisam mudar. Muitas vezes os professores não mudam a maneira como ensinam. Se as experiências dos alunos não são tão diferentes, eles não aprendem mais. Eu não estou dizendo que dinheiro não importa; ele importa se for bem usado. O realmente necessário é ter instrutores melhores. Gastar mais dinheiro comprando livros não vai automaticamente levar a um ensino melhor. O desafio é melhorar a instrução, e isso pode precisar de recursos extras. Mas prover recursos extras não faz isso acontecer automaticamente.

Então, embora a desigualdade de renda leve a resultados educacionais ruins, dinheiro não é necessariamente a solução para o problema...

Os recursos devem seguir, não guiar. É preciso começar desenvolvendo um plano concreto para melhorar o aprendizado dos alunos. E como deve ser este plano? Depende do local e da natureza da situação. Se o problema é as crianças não estarem matriculadas ou não frequentarem as aulas regularmente, então a política inicial deve ser diminuir o custo das famílias de baixa renda para mantê-las na escola. Há muitos exemplos de políticas, em diversos países, que diminuem o custo de ter crianças frequentando escolas e levaram ao aumento de taxas de matrícula e frequência entre as de renda baixa.

O senhor pode citar alguns exemplos?

Muitos países investiram em medidas que fizeram as escolas distantes ficarem mais próximas das moradias das crianças. Um estudo recente na Índia mostrou uma política de dar bicicletas aos alunos. O Brasil tem há anos uma política de transferência de renda, o Bolsa Família, que auxilia famílias pobres com a condição de que elas mandem os filhos para a escola. Todas estas estratégias se provaram eficientes para aumentar o número de crianças estudando. Se o problema é falta de frequência dos professores, dar um incentivo que seja atrelado à presença regular pode fazer uma real diferença. Outro problema é a falta de conhecimento e de habilidade dos professores para ensinar com eficácia. Neste caso, os incentivos, sozinhos, não são boa estratégia. O desafio talvez seja como capacitá-los melhor.

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Como deve ser o treinamento dos professores?

Depende das habilidades deles. Nas partes mais pobres do Brasil, onde os professores têm pouca educação formal, uma solução passa por prover currículos estruturados com instruções muito detalhadas sobre o que ensinar e como, demonstrando como fazê-lo. Em situações em que os professores têm mais conhecimento e só precisam melhorar suas habilidades, diferentes tipos de desenvolvimento profissional e treinamento são necessários.

O que os países em desenvolvimento estão fazendo de bom?

A Coreia do Sul, que agora é um país relativamente rico, mas não o era em 1960, investiu pesadamente em seu sistema educacional por décadas. E isso fez diferença. A Finlândia agiu da mesma forma. Alguns países com baixas taxas de matrícula no ensino secundário investiram em dar a famílias de baixa renda subsídios para matricular seus filhos neste segmento. Na Colômbia, esta política foi eficaz em melhorar os resultados de estudantes de baixa renda.

Que políticas o senhor sugere para ajudar estudantes de baixa renda a terem sucesso em uma força de trabalho cheia de robôs?

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Educação de alta qualidade é importante, assim como boas políticas de saúde e bons suportes para famílias de baixa renda, para que as crianças cheguem às escolas bem alimentadas e saudáveis. É preciso ir além de ensinar apenas a ler e seguir instruções. Notamos que educação de qualidade é ainda mais importante hoje que há 20 anos para prever o sucesso no mercado de trabalho, por causa das mudanças técnicas.