Dois professores da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) pediram demissão em solidariedade a três docentes que foram mandados embora da universidade. Os demitidos foram convocados a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Trotes no início do ano, sob acusação de perseguir alunos que fizeram as denúncias e de estar presentes em festas e eventos em que aconteceram casos de violência contra calouros.
Em nota, a PUC informou que dois professores pediram demissão voluntariamente e o motivo estaria “ligado diretamente” às demissões realizadas na quinta-feira. No entanto, disse que não iria informar nomes e o eventual motivo, em respeito aos envolvidos.
O dermatologista Antonio Francisco Bastos Filhos, formado pela PUC-Campinas e professor na faculdade há um ano e meio, disse ter pedido demissão por não concordar com a forma desrespeitosa que os docentes foram tratados. “São professores extremamente respeitados, que dedicaram suas vidas à universidade e foram mandados embora sem que houvesse provas contra eles.”
Bastos Filho disse que os alunos da faculdade serão prejudicados. “Eu dava aula na PUC porque eu gostava, porque era gratificante. Estava na universidade mais pelo prazer do que pelo dinheiro, mas não podia pactuar com essa decisão desrespeitosa com o corpo docente da faculdade.”
Desde que as demissões foram confirmadas, os alunos têm feito protestos na reitoria e na frente do hospital universitário, Celso Pierro. De acordo com Guilherme Henrique Zanluchi, aluno do 4.º ano e presidente do Diretório Acadêmico da Medicina, os alunos querem que a universidade justifique o motivo dos desligamentos e reavalie a decisão.
Após a abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa, a PUC-Campinas abriu uma sindicância interna para apurar casos de violência nos trotes e também a conivência de professores. Entre as denúncias estavam casos de abusos físicos, ofensas sexuais e trotes desumanos. As vítimas descreveram que os calouros eram obrigados a, por exemplo, simular sexo oral, andar em uma piscina de urina, fezes e vômito, além de levar socos e tapas na cara.
Um dos professores demitidos, Carlos Oswaldo Teixeira, que dava aulas na universidade havia 29 anos, disse que a demissão não teve ligação com as acusações e, até mesmo, teria sido informado de que a sindicância foi encerrada e ele teria sido absolvido. “Não teve nada a ver com a sindicância, nem com a comissão na Assembleia Legislativa. Nós fomos demitidos sem justa causa porque o patrão demite o funcionário quando quiser”, disse.
Procurada, a PUC não comentou o fim da sindicância.