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Protagonismo

Dos desafios à conquista da inclusão de um aluno com hidrocefalia

Paulo, de 8 anos, com as duas professoras, Adriana Valero e Adriana Gonçalves: evolução graças ao trabalho das duas. Foto: Fábio Luporini. (Foto: )

Paulo tem 8 anos de idade, é sorridente e muito esperto. Como outras crianças, gosta de se “exibir” para a câmera. E assim o fez, quando a reportagem foi conhecê-lo. Sorriu, fez pose e até charme. E arrancou suspiros das professoras. Ao mesmo tempo, alvoroçou a turma: alguns coleguinhas se prepararam para tirar foto com Paulo, a estrela do dia. Estavam animados e contentes porque a aula teve, de um jeito diferente, um conteúdo com o qual já estão acostumados há pouco mais de dois anos: inclusão.

“Meu filho tem hidrocefalia. Na gestação era só um ventrículo aumentado no cérebro. Depois que nasceu, começou a desenvolver a hidrocefalia. Ele precisaria colocar uma válvula para drenar o líquido, mas o organismo dele deu um jeito e não precisou mais”, conta a mãe, a artesã Josaine Aparecida de Barros, que demonstra amor e orgulho pelo filho o tempo todo. Entretanto, para contar a história de superação e aceitação do Paulo, é preciso retroceder alguns anos.

Antes é necessário definir: a hidrocefalia se caracteriza pelo aumento anormal do fluído cefalorraquidiano dentro da cavidade craniana, o que acarreta um aumento dos ventrículos cerebrais, entre outros aspectos, como alargamento ósseo. Popularmente, é o acúmulo de líquido dentro do cérebro. Josaine já conhecia a doença quatro anos antes do nascimento do Paulo. “Eu tive o Pedro que esse ano faria 12 anos e acabou falecendo com 10 meses. E fiquei sabendo que o Pedro tinha hidrocefalia apenas seis dias antes dele nascer.”

Foi então que ela investigou e lembrou que na família havia casos de hidrocefalia. E um dos fatores que causam a doença é a hereditariedade. “Quando o Pedro nasceu, o médico me disse que ele não andaria, não iria ouvir, nem enxergar e nem falar. E eu disse que quando o Pedro falasse ‘oi’, eu o traria de volta. Só que o Pedro pegou meningite, a hidrocefalia foi um agravante e ele acabou morrendo. Antes de morrer, ele não falou ‘oi’, mas falou ‘mamãe’”, lembra Josaine, com alegria. Quando morreu o filho mais velho, ela já estava grávida de Marina, hoje com 10 anos, a irmã mais velha de Paulo.

“A Marina não tem referência de um irmão sem deficiência. Então o Paulo, que nasceu quando ela tinha 1 ano e meio, é o amor da vida dela”, diz a mãe, que precisou adaptar toda a vida para cuidar das crianças: largou faculdade e trabalho para se dedicar aos filhos. Desde pequeno, Paulo frequentava uma escola que oferece educação especial. E desde sempre desenvolvia muitas atividades estimulantes: fisioterapia, ecoterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e natação.

Entretanto, chegou um momento em que o desenvolvimento dele estava estagnado. Ele precisava de estímulos diferentes. E aí veio o desafio de mudá-lo para uma escola municipal, onde conviveria com crianças sem deficiências. “Ele entrou na Escola Municipal Lara Manella [no Conjunto Semíramis, zona Norte de Londrina] em 2017. O primeiro ano foi de adaptações, os professores ficaram receosos.”

E aí veio o segundo ano: 2018. O que mudou na vida do Paulo?

“Tudo”, diz a mãe, provocando lágrimas tímidas no olhar das professoras Adriana Gonçalves e Adriana Valero. “O desenvolvimento dele foi muito grande. Hoje ele canta música, aprendeu a comer sozinho, sabe rodar a cadeira de rodas, está mais sociável, mais independente e até mais arteiro em casa. Ainda precisa de ajuda, mas a parte pedagógica evoluiu muito”, ressalta a mãe.

Tudo isso enche de orgulho as professoras que se dedicaram ao Paulo. Adriana Gonçalves foi titular da sala dele no ano passado. E sentiu-se desafiada para preparar aulas pensando numa criança com limitações e necessidades especiais. “O objetivo de uma professora é avançar pedagogicamente com seus alunos. E o Paulo não teria esse mesmo avanço. Então, decidimos que faríamos da escola o lugar mais feliz do mundo para ele”, conta Adriana Gonçalves.

No começo, havia dias em que ele se recusava a fazer atividades, que se sentia incomodado na sala de aula, que queria sair correndo com a cadeira de rodas. Nada disso foi obstáculo. Era desafiante, havia muito receio, mas o esforço e dedicação da equipe valeram a pena. “Tínhamos que fazer um planejamento específico. A gente fica com receio, com apreensão. Porque a criança especial precisa de um tempo maior de aproximação.”

É o mesmo que sentia Adriana Valero. Ela é a professora de apoio do Paulo. Portanto, está convivendo com ele há mais tempo. É ela quem fica ao lado do Paulo durante todas as aulas, atendendo-o em suas necessidades. “O Paulo era uma incógnita”, diz a professora de apoio, que foi fazer cursos de inclusão por causa dele. As Adrianas viram que o garoto precisava de “mais agito”, como as duas são: animadas e agitadas. “Começamos a estimular o Paulo a mexer na cadeira de rodas, usamos a musicalização e materiais concretos como areia e tinta”, diz Adriana Valero.

O resultado? Paulo hoje consegue abrir um armário, acender a luz, girar a cadeira de rodas e é muito mais sociável do que quando entrou. Aliás, as crianças o adoram: quando ele entra na sala, arrastam as cadeiras para ele passar. Brincam com ele, cuidam dele. E quiseram tirar uma foto com Paulo durante a reportagem. Sim, pode-se dizer que o garoto está incluído. Tem lá suas limitações e precisa avançar em muitos aspectos, mas tem autonomia e faz parte daquela comunidade. “Cada avanço que ele dava, por menor que fosse, era uma conquista. A gente vibrava”, ressalta Adriana Valero.

""Paulo com a mãe, Josaine Barros. Foto: Fábio Luporini.

Londrina tem 1.084 alunos incluídos

Diretora da Escola Municipal Nara Manella desde 2014, Jeani Micheletti já estava acostumada a receber alunos com algum tipo de deficiência, mas não tão profunda quanto à do Paulo.

“Quando ele chegou, era tudo muito novo. Mas nós não podemos fugir da inclusão. E fomos buscar formação”, conta. Hoje a escola tem nove alunos incluídos, além do Paulo, com diferentes necessidades: Síndrome de Down, autismo, epilepsia e dificuldades motoras. Alguns precisam de mais atenção da professora de apoio, outros menos. São hoje sete profissionais atuando na escola.

A gerente de apoio especializado da Secretaria Municipal de Educação, Cristiane Sola, explica que as professoras de apoio são concursadas do município e atuam no contraturno do padrão em que trabalham. Em 2019, a rede municipal atende a 1.084 alunos com deficiências, sendo apenas 420 com a necessidade de uma professora de apoio. “Apesar do diagnóstico, as crianças têm autonomia”, justifica. No total, Londrina tem cerca de 45 mil alunos matriculados na educação infantil e no ensino fundamental 1.

Os alunos com necessidades especiais também participam das atividades do contraturno, nas salas de recurso, com vídeos, computadores e jogos lúdicos. Essas atividades são ofertadas pelas próprias escolas ou por instituições conveniadas. “Todos frequentam aulas nas salas de recurso multifuncional”, afirma Cristiane.

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