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Giulia coleciona medalhas e fica decepcionada quando não sobe no pódio | Danial Castelleno / Gazeta do Povo
Giulia coleciona medalhas e fica decepcionada quando não sobe no pódio| Foto: Danial Castelleno / Gazeta do Povo

Na prática

Muita conversa e paciência

Apesar de mostrar para as filhas que nem sempre é possível conquistar a primeira posição, a professora de Educação Física Cátia Regina Budel Ércole, 38 anos, conta que a mais nova, Giulia Luiza, fica extremamente decepcionada quando (literalmente) não sobe no pódio. "Ela é fissurada por esporte e normalmente está em evidência. Talvez, por isso, não ganhar é uma frustração muito grande para ela. Minha filha mais velha, de 15 anos, não é assim", diz.

Aos 11 anos, Giulia coleciona dezenas de medalhas e destaca-se em várias modalidades esportivas, entre elas natação, vôlei e futsal. Mas afirma que não conseguiu lidar muito bem com o último resultado que obteve em um campeonato de corrida. "Larguei em primeiro ou segundo lugar e depois muitas pessoas começaram a me passar. No meio da corrida até pensei em desistir. Fiquei um pouco chateada, porque estava acostumada a ganhar bastante", diz.

Mãe do estudante Luan Bittencourt, de 10 anos, Tatiane afirma que também passou por momentos complicados com o filho. Os problemas começaram quando Luan entrou na 5ª série e enfrentou várias mudanças na escola, como a convivência com colegas e professores diferentes. "Em jogos esportivos, ele não aceita quando o time perde. Quer sempre identificar os culpados." Tatiane conta que a família tem conversado muito com o filho, explicando que perder é natural, mas diz que o processo de mudança não é tão rápido. "Não dá para dizer que já ganhamos, ainda o monitoramos para reforçar o seu comportamento. Mas ele já melhorou", diz.

Gostar de vencer não é um problema. Algumas crianças, entretanto, são mais competitivas e não aceitam derrotas. Para expressar a frustração, muitas choram, colocam a culpa nos colegas, batem ou usam a famosa tática do "perder e levar a bola embora". Embora o comportamento possa estar ligado à personalidade, a educação recebida em casa e na escola também interfere na forma como o estudante reage às pequenas perdas diárias.

"Antigamente as crianças tinham condições de brincar nas ruas e eram obrigadas a partilhar e conviver. Hoje elas passam momentos solitários e, num contexto em que a competitividade parece ser um dos únicos valores cultivados pelas famílias, acabam tendo comportamentos inadequados quando perdem num jogo", afirma a coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisa do Brincar da Pontifícia Universi­dade Católica de São Paulo (PUCSP), Maria Ângela Barbato Carneiro.

No dia a dia, há formas práticas de ensinar a criança a lidar com as derrotas. Segundo Maria Ângela, o pai ou a mãe, quando jogam com o filho, não devem deixar que ele ganhe sempre. "O adulto precisa deixar a criança perder pelo menos uma vez. Ele deve aproveitar a situação para conversar, dizer que perdas não são derrotas totais, apenas pequenos obstáculos. E mostrar que é possível repetir o jogo", recomenda. A estratégia também é sugerida pela coordenadora do Colégio Sion, Maria Cristina Montingelli. Para ela, o pai que trata a criança como "café com leite" (aquela pessoa que recebe privilégios numa brincadeira em função de sua incapacidade) mostra ao filho que ele não tem forças para lutar.

Fases

Crianças de 3 ou 4 anos de idade normalmente não aceitam derrotas, porque nessa fase elas são naturalmente egocêntricas, só se preocupam consigo mesmas. Mesmo assim, é importante que a família intervenha, de forma firme e carinhosa, para evitar que a situação se perpetue. "Na adolescência, o limite virá do meio social, pois a família não será mais a protagonista na vida do filho. Como os amigos não protegem como a família, haverá mais dor", alerta a coordenadora do Sion.

Segundo a diretora do Colégio Novo Ateneu, Vera Pugsley Julião, pequenas derrotas fazem com que a pessoa amadureça e aprenda a conviver com perdas maiores. Ela ressalta que essas situações também favorecem o autoconhecimento. "É o momento para mostrar que, se a criança não é boa em uma atividade, pode ser em outra", diz.

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Interatividade

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