A modalidade de ensino a distância (EAD) tem conquistado cada vez mais espaço nos cursos de graduação do Brasil. Em 2020, o número de ingressantes no EAD superou, pela primeira vez, o registrado no presencial, segundo dados do Censo da Educação Superior 2020, do Inep. A qualidade das aulas, pelos índices do Ministério da Educação (MEC), tem sido similar ou maior, em alguns casos, dos cursos presenciais. Mesmo assim, especialistas apontam que o modelo ainda enfrenta desafios relacionados à qualidade (um sinal de atenção é a comercialização massiva de cursos cada vez mais baratos) e à evasão.
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O crescimento de ingressantes no EAD foi de 26% em 2020, comparado a 2019, chegando a 2 milhões de estudantes. Em dez anos, entre 2010 e 2020, o número de ingressos a distância teve uma alta de 428%. Em contrapartida, o ensino presencial teve uma queda de 13%, com 1,7 milhões de ingressantes em 2020 (eram 2 milhões em 2019).
Entre as razões desse cenário, de acordo com especialistas, estão a facilidade e a flexibilidade das aulas online – com qualidade em muitos casos –, a dificuldade de alguns estudantes em passar no vestibular em cursos presenciais tradicionais e a confirmação da tendência das aulas a distância com a pandemia. O número de vagas no EAD também é maior: cerca de 13 milhões contra 6 milhões na modalidade presencial.
“Os resultados que a educação a distância tem tido tornam a modalidade mais conhecida e reconhecida. E a pandemia acelerou o que já ia acontecer. O valor da mensalidade do EAD é menor, em geral, do que o presencial. Isso permite que pessoas que não tinham acesso, agora possam realizar uma graduação”, disse Carlos Fernando de Araújo, Diretor de Relações Nacionais da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).
Qualidade de ensino
Os alunos do ensino a distância frequentam cursos considerados tão bons quanto os presenciais. Contudo, ao terminar o curso, não conseguem alcançar o mesmo desempenho no Enade - avaliação do rendimento dos concluintes nos cursos de graduação feita pelo MEC - que seus colegas que estudaram em cursos presenciais.
Os dados do Conceito Preliminar de Curso (CPC), do Inep (órgão do MEC que avalia os cursos), de 2018, mostraram que 2,7% dos cursos a distância tiveram a nota máxima, 5. Dos presenciais, 1,6% alcançou o mesmo conceito. E 94% dos cursos de educação a distância receberam nota maior que 3, considerada “suficiente”; enquanto 86,7% dos cursos presenciais ficaram entre 3 e 5.
Por outro lado, a média da nota do Enade dos alunos do ensino a distância tem sido historicamente menor se comparada dos alunos no presencial, explica o mestre em métodos e gestão em avaliação, Marcos Rosa. Em 2019, por exemplo, a média da nota do Enade foi de 41,2 de estudantes que frequentaram aulas presenciais e de 38 dos egressos do EAD. “De uma forma geral, os alunos do EAD sempre tiveram uma nota menor do que os alunos do presencial. Isso é uma característica da modalidade”, afirmou.
Para ele, um dos motivos desse resultado é que os alunos de EAD enfrentam avaliações muito diferentes das apresentadas nos cursos presenciais e no Enade. “O Enade é uma avaliação cumulativa, busca ver as competências do estudante como um todo. E o aluno acostumado a responder provas simples tem dificuldades no Enade, não existem explicações definitivas, existem indícios”, destacou o especialista. “O estudante EAD nem sempre é avaliado com o rigor pedagógico que o professor do presencial tem”.
O doutor em ciências humanas, João Vianney, da Hoper Educação, aponta que apesar de muitos cursos de EAD no Brasil serem de alta qualidade, a disputa por atrair alunos têm feito com que algumas instituições negligenciem a exigência e ofereçam cursos cada vez mais baratos. Entre 2012 e 2021, houve uma diminuição de 39% no valor da mensalidade na modalidade de EAD.
“Vivemos no Brasil uma disputa entre as instituições focada no preço das graduações. Por que focadas no preço? Porque somos um país pobre. Nessa disputa, algumas instituições entraram em um movimento de redução contínua do valor. Isso pode levar a um emagrecimento da qualidade da oferta. Ainda não se consolidou, mas isso pode acontecer”, alertou.
Evasão e perfil dos alunos
A evasão de alunos dos cursos a distância, com dados não consolidados, também é um problema a se enfrentar. “A educação a distância tem problemas com evasão, que variam em cada instituição. Essa evasão faz com que o ensino não seja eficiente. Então, são necessários mecanismos que ajudem a manter o aluno no ensino superior”, considerou Carlos Fernando de Araújo, da ABED.
O rejuvenescimento dos alunos de EAD também pode explicar a maior rotatividade e desistência. Segundo pesquisa da Hoper Educação, com dados do Inep, em 2012, a idade média do aluno a distância era de 30 anos; em 2019, a idade média do calouro do EAD foi de 20 anos.
Outra causa de abandono dos cursos, é o fato de o aluno descobrir, no andamento das aulas, que a instituição escolhida não tem qualidade. Para evitar que isso ocorra, o MEC e a ABED recomendam que os alunos verifiquem, antes da matrícula, se o curso e a faculdade foram avaliados oficialmente. Para conferir se uma instituição de ensino está credenciada pelo MEC, é necessário consultar no site e verificar se a universidade está cadastrada.