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Metodologia

Educadores discutem as aulas dobradas

Ana Cláudia, professora de Português, diz que as aulas duplas são fundamentais para desenvolver projetos como seminários, debates e oficinas de texto | Antonio More/ Gazeta do Povo
Ana Cláudia, professora de Português, diz que as aulas duplas são fundamentais para desenvolver projetos como seminários, debates e oficinas de texto (Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo)

Durante quatro anos, a Escola Municipal Erasmo Pilotto, no Bairro Alto, experimentou uma forma diferente de organização do tempo das aulas. O colégio adotou o sistema de dobradinha, com duas aulas seguidas de cada disciplina, para as turmas do 6.º ao 9.º ano do ensino fundamental. O objetivo era evitar o desperdício de tempo com a troca constante de professores – e a consequente necessidade de acalmar a turma antes do início das atividades. Nem tudo, entretanto, saiu conforme o planejado. Nas turmas mais agitadas, os professores passaram a ter dificuldade de manter os alunos concentrados. Além disso, um único dia de falta fazia com que os estudantes perdessem uma quantidade expressiva de conteúdos da mesma disciplina.

A experiência mostra que a ampliação da duração das aulas nem sempre tem impacto positivo na aprendizagem. Embora a expansão da jornada seja uma ótima oportunidade para aplicar técnicas diversificadas de ensino, manter o aluno concentrado nas explicações por mais de uma hora não é tarefa fácil. "Em algumas áreas, a produção dos alunos era melhor, porque eles ficavam envolvidos com o trabalho por um tempo maior. Mas o resultado dependia do perfil de trabalho do professor e também da turma. Houve um desgaste interno em função dessas dificuldades, até pela estrutura física e material da escola, já que você precisa diversificar as estratégias para manter o foco na aula", afirma a diretora da escola, Janete Luiza Araújo.

A explicação para a desatenção dos alunos também está no relógio biológico. O neurocientista Fernando Louzada, do Laboratório de Cronobiologia Humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que não é possível manter a atenção por mais de uma hora e meia. Os cientistas descobriram que a cada 90 minutos a concentração atinge um pico e um vale, ou seja, o cérebro vai da concentração total à distração completa. De acordo com Louzada, os intervalos entre as aulas podem se transformar em estímulo para os estudantes. Mas também é possível "retirar os alunos do vale" a partir de outros incentivos externos. "O professor pode tocar uma música ou mostrar imagens, utilizar algo que tenha muito significado para o aluno. O importante é impor diferentes ritmos ao longo dessa uma hora e meia", diz.

Mais aulas curtas

Entre os pesquisadores da área de educação, a importância da oferta do ensino em período integral é ponto pacífico. Mas ainda não há consenso sobre a melhor forma de organização desse tempo adicional. A pedido do Instituto Ayrton Senna e do movimento Todos pela Educação, um grupo de estudiosos mapeou as pesquisas nacionais e internacionais existentes a respeito das condições que impactam a aprendizagem. Segundo André Portela Souza, que participou do mapeamento e é professor da Escola de Eco­­nomia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, estudos internacionais mostram que o aumento da jornada escolar diária deve acontecer por meio da expansão do número de aulas, e não pelo aumento da duração de cada aula.

"Quanto mais tempo de exposição à aprendizagem, melhor. Mas a divisão do tempo deve ser feita de forma produtiva. Você não deve expor o aluno à mesma matéria durante um longo tempo", afirma Portela, citando dois estudos realizados por universidades norte-americanas. Segundo uma pesquisa de 2001 da Universidade de Maryland, a performance de alunos de ensino médio em aulas blocadas de matemática foi pior do que em aulas simples. Segundo o estudo, o desempenho dos estudantes caiu 6% em relação à média para cada acréscimo de 10 minutos na aula.

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