Uma grande parcela dos diretores de escritórios de admissão de universidades intensificou os seus esforços de recrutamento em áreas rurais e encontrou mais estudantes brancos de famílias de baixa renda após a inesperada vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2016, de acordo com uma pesquisa do site de notícias Inside Higher Ed.
As eleições de 2016 e as declarações e ações do presidente Trump desde a sua posse representaram desafios para a educação superior de diversos modos. A sua campanha se apoiou em um suporte de peso da América rural e de eleitores brancos sem diploma superior – setores da população que muitas universidades historicamente têm dificuldade para alcançar.
Os seus esforços neste ano para impedir temporariamente que viajantes de diversos países de maioria muçulmana entrem no país, citando preocupações com a segurança nacional, e as suas declarações a favor de um policiamento mais rígido para imigração alimentaram preocupações entre estudantes e pesquisadores estrangeiros acerca da possibilidade de eles enfrentarem bloqueios para pesquisa ou estudo nos Estados Unidos.
A pesquisa do Inside Higher Ed, realizada juntamente com a empresa de pesquisa de opinião Gallup, apontou diversas descobertas que indicam um efeito Trump nos processos de seleção:
• Um total de 38% dos participantes da pesquisa afirmaram que as suas universidades – públicas ou privadas – aumentaram o recrutamento em áreas rurais desde as eleições. Trinta por cento relataram o mesmo para recrutamento de famílias brancas pobres. Uma parcela menor, 8%, disse que as suas universidades estão procurando estudantes politicamente mais conservadores.
• Diretores de admissão tiveram maior probabilidade de apoiar do que rejeitar a percepção de que as eleições mostram que as universidades, principalmente as de elite, devem ter mais esforços para recrutamento em áreas rurais. 36% concordaram com essa ideia, enquanto 22% discordaram.
• Uma grande maioria, 76%, concorda que as declarações e políticas de Trump tornaram mais difícil recrutar estudantes internacionais. 9% discordam.
Scott Jaschik, editor do Inside Higher Ed, disse que as descobertas refletem pelo menos dois modos como Trump parece estar influenciando os processos de seleção nas universidades. Segundo ele, para alguns estudantes internacionais, Trump “claramente é um fator” a considerar. Muitas universidades “recebem muitas perguntam não apenas sobre Trump”, diz Jaschik, mas também sobre as tensões raciais e políticas nos Estados Unidos que se desenvolveram durante o seu governo. “Imagine o que a manifestação em Charlottesville pareceu para a maior parte do mundo”, ponderou, se referindo à passeata no campus da Universidade de Virginia em uma noite do mês passado que teve nacionalistas e supremacistas brancos marchando com tochas nas mãos.
Além disso, segundo Jaschik, a vitória de Trump em novembro sobre a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, incitou “reflexões” entre os líderes de universidades sobre o distanciamento político entre os campi e os seus vizinhos que se revelaram na noite da eleição.
“Há cidades universitárias em toda a América, onde a maioria das pessoas que trabalham ou estão matriculadas na universidade votaram de um jeito, e então eles acordaram e perceberam que as pessoas nas cidades e condados vizinhos votaram de outro jeito”, disse.
Algumas dessas universidades agora estão tentando alcançar essas áreas rurais em busca de estudantes. “Isso é um reflexo das eleições”, afirmou Jaschik. “Não é bom para uma instituição pública ou privada se apenas moradores de subúrbios de classe média a consideram um ótimo lugar para fazer faculdade.”
Mas a pesquisa sugere que existem alguns limites para essa introspecção. Diretores de admissão tiveram maior probabilidade de rejeitar do que aceitar a ideia de que as universidades devem tentar aumentar a sua diversidade política por meio do recrutamento de estudantes de direita, principalmente em campi que têm corpo discente majoritariamente de esquerda. 55% discordam dessa ideia, enquanto 13% concordam.
Os resultados foram retirados de uma pesquisa online com diretores de admissão e gerentes de matrículas, conduzida entre 20 de julho e 16 de agosto deste ano. Entre os mais 3,5 mil indivíduos convidados para participar, 453 completaram os questionários. Duzentos de universidades e faculdades públicas, 245 de instituições privadas sem fins lucrativos e oito de instituições com fins lucrativos.
Angel B. Pérez, vice-presidente de matrículas e sucesso estudantil na Trinity College, disse estar convencido do efeito Trump no recrutamento internacional. No semestre passado, ele viajou ao redor do mundo – para a Índia, China, Costa Rica e Inglaterra, entre outros países – em uma missão urgente de tranquilizar os estudantes que foram aprovados na escola de artes liberais localizada em Hartfod, Connecticut. Outras universidades fizeram o mesmo, segundo ele. Os pais pareceram particularmente nervosos.
“A primeira pergunta que iniciava todas as recepções era ‘Por que eu mandaria o meu filho para estudar nos Estados Unidos agora, com o atual cenário político e clima de animosidade contra estudantes internacionais?’”, disse Pérez. “Essa era uma pergunta muito difícil de responder.”
A sua resposta frequente era: “Essa é uma época fascinante para estudar nos Estados Unidos. Os estudantes estão vivendo um momento histórico, vendo se desenrolar diante dos seus olhos.” A instituição acabou conquistando a maior turma internacional da sua história, segundo Pérez: 14% dos seus 586 calouros.
Tradução: Andressa Muniz
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