Apenas 7,9% dos brasileiros têm diploma universitário, de acordo com o IBGE. Desses, um grupo muito seleto conseguiu estudar no exterior: segundo relatório Open Doors, do IEE (Institute of International Education), foram 19.370 brasileiros estudando nos Estados Unidos no ano letivo de 2015/16 .Um grupo ainda mais reduzido consegue entrar em uma das dez melhores universidades do mundo. No MIT, por exemplo, eram 23 brasileiros em 2016.
Se eles chegaram aonde estão, é porque superaram etapas de um percurso rigoroso do processo de aceitação de seus nomes nas melhores instituições do mundo. A Gazeta do Povo conversou com alunos de graduação de Oxford, Harvard, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e Stanford – que estão entre as dez melhores do mundo no ranking da Time Higher Education.
A preparação dos interessados em cursar graduação no exterior ocorre essencialmente ao longo dos três anos do Ensino Médio no Brasil e vem acompanhada de uma seleção com provas, redações, recomendações e entrevistas.
Veja abaixo: o que fazer para ingressar em Harvard.
Aceito em sete universidades estrangeiras célebres, Gustavo Coutinho, 20, optou por Harvard e iniciou os estudos em setembro. “Foi surreal. Vim de uma escola pública que, embora fosse federal, não possui tradição de enviar alunos para universidades americanas”, diz.
Coutinho, que fez quatro anos de Ensino Médio porque optou pelo ensino técnico integrado, diz que era engajado com diversas atividades extracurriculares, pesquisa científica, estágios, projetos sociais e de empreendedorismo antes mesmo de descobrir como funciona o processo de candidatura.
“Durante o terceiro e quarto anos, trabalhei bastante nas minhas redações. Cada universidade requisita em média três redações, e as provas americanas ACT, TOEFL e SAT são necessárias para a admissão.”
Tendo estudado quase toda a vida em escola pública, Coutinho também buscou auxílio a um programa de mentoria: o Prep Scholars, da Fundação Estudar.
O jovem, nascido em Resende (RJ) Ele planeja cursar Ciência da Computação e Economia, com término previsto para 2021.
Stanford e Oxford
Calouro na Universidade de Stanford, na Califórnia, Daniel Travassos Ferreira, de 18 anos, iniciou os estudos em setembro passado.
Para obter aceitação em Stanford, ele intensificou a preparação no último ano do Ensino Médio. “Você tem que provar excelência acadêmica a partir do seu boletim escolar e do SAT e do ACT, provas padronizadas dos EUA, interesses extracurriculares, cartas de recomendação de professores e mentores, além de redações que contém um pouco da sua história. Você escreve as redações e faz as provas geralmente no último ano do Ensino Médio, mas o que escrevemos são o resultado do que fazemos há muito mais tempo”, relata.
Nascido em Jundiaí (SP), Ferreira, que sempre estudou em escola privada, sentiu a necessidade de buscar reforço na fase de preparação e também participou do Prep Scholars. “O programa ajuda a melhorar redações, ir bem nas provas padronizadas e a expor da melhor forma possível tudo que você conquistou durante a sua trajetória.”
De Aracaju (SE), Marcelo Gennari do Nascimento, 21, é veterano na Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde iniciou os estudos em 2014. A conclusão está prevista para 2018. O sergipano teve de superar três etapas durante cerca de três meses para conquistar o ingresso na instituição, que ocupa a primeira posição no ranking da Times Higher Education.
“A universidade não aceita o currículo brasileiro como uma qualificação válida para o curso; por isso, eles pedem que a gente faça o SAT. Depois, exigem uma prova parecida com o vestibular brasileiro chamada de PAT. Essa prova requer conhecimentos de matemática e física, e a nota vai de 0 a 100. Se o aluno conseguir aproximadamente 70 ou mais, ele é chamado para uma entrevista com alguns professores de Oxford que fazem perguntas técnicas a fim de avaliar o modo com que o aluno resolve questões de engenharia” explica.
Aluno de escolas particulares em todas as etapas da educação básica brasileira, Nascimento conta que não analisou criteriosamente as vantagens e desvantagens de fazer graduação no exterior. “Não foi uma escolha em que eu fiz uma lista de prós e contras e as analisei criticamente para chegar a uma conclusão. Eu apenas vi a oportunidade e pensei: ‘isso parece muito legal’. Fui mais levado pela curiosidade do que pela racionalidade”, compartilha.
MIT
O piauiense Rogério Aristida Guimarães Junior, 19, estuda Engenharia da Computação e Finanças no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), também ingressou na universidade em setembro deste ano e deve concluir a graduação em maio de 2021. Além da preparação durante o Ensino Médio, ele batalhou para conseguir medalhas em competições nacionais e internacionais de informática.
“No fim do terceiro ano tive que estudar para os testes e escrever ensaios, redações sobre mim, com temas como os desafios que eu enfrentei e o que importava para mim e por quê.” Ele também teve acesso a um mentor que já havia estudado no exterior para auxiliar nas redações e planejar os estudos.
Liberdade curricular
Embora já esteja matriculado na Universidade de Stanford, Ferreira ainda não sabe qual curso irá fazer. “No Brasil eu teria que abandonar um desses interesses e fazer uma escolha entre essas duas paixões antes mesmo de entrar na faculdade. Nos Estados Unidos, e particularmente em Stanford, posso explorar todas essas áreas e até mesmo para me formar em um chamado ‘interdisciplinar major’, onde eu tenho um diploma a partir de uma mistura de todas essas áreas desde que academicamente essa interseção faça sentido.”
Segundo Coutinho, Harvard também oferece a possibilidade de escolher a área de conhecimento até o final do segundo ano da graduação. “Harvard segue uma filosofia de ensino chamada ‘Liberal Arts’ na qual todos os alunos tem que completar uma série de requerimentos em áreas de estudo que não são a sua ‘principal’. Um aluno de economia, por exemplo, tem que cumprir determinados requerimentos de ciências, literatura”, diz.
Nascimento conta que se surpreendeu com o fato de quase não haver aulas em Oxford. “Normalmente temos oito horas de aula por semana e elas não são obrigatórias. Você é o único responsável pela educação. Todo o material, acesso a laboratório e literalmente a dezenas de bibliotecas são fornecidos. Mas quem tem que ir para a biblioteca sem ninguém mandar e fazer os exercícios é você.”
Lá, o aprendizado acontece por meio de tutorias, segundo ele. “Duas vezes por semana, dois alunos trazem o material que aprenderam para o escritório de um professor e eles passam uma hora discutindo o assunto. É um contato muito mais pessoal com os professores do que no Brasil, e um aprendizado muito mais individualizado.”
Pesquisa
Em Stanford, segundo Ferreira, a cada trimestre o aluno pode fazer entre 12 e 20 créditos. “Se você pega menos créditos, tem mais tempo para se envolver com clubes, atividades extracurriculares, projetos pessoais ou só se divertir”, explica.
Em Harvard, a lógica é parecida. “Embora a gente tenha um tempo de aula menor, o tempo de estudo é muito maior: dificilmente um aluno passa um dia sem ir a biblioteca e estudar aqui.”
Como passar em Harvard
Segundo Nathalia Bustamante, editora responsável pelo portal Estudar Fora da Fundação Estudar, Harvard adota um processo seletivo holístico para além das notas do candidato e do desempenho em sala de aula. “Quem quer participar do processo seletivo de Harvard deve pensar desde cedo nisso, mantendo boas notas, assim como deve começar a aprender inglês – porque eles vão considerar o nível de fluência como um dos requisitos que eles avaliam – e se envolver em projetos extracurriculares, fora do que fazem em sala de aula, como olimpíadas científicas, esportes, voluntariado etc.” Prêmios e honrarias também têm peso importante na seleção. “Eles entram nesse aspecto para conhecer quem é o estudante fora da sala de aula, seus interesses e conquistas”, explica.
No 3° ano do Ensino Médio, segundo Nathalia, o aluno precisa começar a montar seu application, que é uma série de documentos e redações necessários para enviar à universidade até o fim do ano. “É importante olhar para tudo o que a universidade pede para então avaliá-lo: isso inclui carta de recomendação dos professores, nota no SAT ou no ACT (provas que equivalem ao nosso Enem), redações especificas, preenchimento de formulário”.
Sobre o SAT e o ACT, as provas utilizadas por universidades norte-americanas nos processos seletivos de cursos de graduação, o aluno pode escolher qual das duas prefere fazer. “A nota nos exames não é o único item avaliado, mas é um aspecto muito importante do processo de candidatura”, enfatiza Nathalia.
O processo de seleção para graduação em Harvard exige: histórico escolar traduzido; algumas redações (o tema pode variar); comprovante de proficiência em inglês (como TOEFL ou IELTS); cartas de recomendação; notas dos exames padronizados (como SAT ou ACT).
Segundo ela, “é necessário enviar o currículo traduzido, mas a equivalência de notas é avaliada em geral através da carta de recomendação, na qual o professor ou representante da escola do ensino médio vai falar sobre o desempenho do estudante.” As entrevistas, quando exigidas, poem ser feitas por Skype ou por um ex-aluno da instituição no Brasil.
O processo de seleção para estudantes brasileiros interessados em cursar graduação em Harvard abre uma vez por ano e os documentos devem ser até dezembro. A resposta é dada em 31 de março.
Ela explica ainda que não é necessário que os interessados já estejam matriculados em curso de graduação no Brasil. “Eles podem se candidatar logo ao final do ensino médio ou no ano seguinte, sendo que não é necessário ter iniciado um curso de graduação no Brasil.”
Harvard adota um processo de admissão chamado “need blind”. “A universidade não considera a necessidade financeira na hora de aceitar ou não um estudante. Isso quer dizer que estudantes serão aceitos independentemente da sua possibilidade de pagar pelo curso e a universidade oferecerá todo o apoio necessário para cobrir o que ele não puder pagar”, afirma Nathalia.
Para entrar em outras universidades americanas, o processo de seleção é semelhante. “O que se altera é que a maior parte das universidades americanas é ‘need awar’, ou seja, elas podem recusar a sua candidatura caso a sua necessidade financeira seja maior do que o apoio financeiro que elas oferecerem. Por isso, é recomendável que você só peça o que realmente precisa de bolsa.”
Outros países têm processo diferenciado, segundo ela. “O Reino Unido, por exemplo, pode pedir que os brasileiros façam um ‘foundation year’, o que funciona quase como um quarto ano de ensino médio e dará condições de acessar o ensino superior britânico. Isso pode ser substituído também por um ano de graduação no Brasil.”
Passo a passo
1 – Obter notas altas na educação básica e ter bom desempenho em sala de aula;
2 – Começar a estudar Inglês desce cedo para obter aprovação nos testes de proficiência – TOEFL ou IELTS – os quais são obrigatórios no processo de seleção;
3 – Ter envolvimento e engajamento com projetos extracurriculares, como a participação em olimpíadas científicas, esportes, voluntariado, assim como conquistar prêmios e honrarias;
4 –Montar o application, que consiste em documentos e redações a serem enviados à universidade, durante o terceiro ano do Ensino Médio. Isso inclui carta de recomendação dos professores, nota no SAT ou no ACT (provas que equivalem ao Enem – Exame Nacional do Ensino Médio), redações especificas, preenchimento de formulário;
5 – Sobre o SAT e o ACT, as provas utilizadas por universidades norte-americanas nos processos seletivos de cursos de graduação, o aluno pode escolher qual das duas prefere fazer;
6 – O processo de seleção para graduação em Harvard exige: histórico escolar traduzido; redações (o tema pode variar); comprovante de proficiência em inglês (como TOEFL ou IELTS); cartas de recomendação; nota dos exames padronizados (como SAT ou ACT).
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”