Observar um fenômeno, formular uma hipótese, realizar uma experiência e confirmar (ou não) o que se imaginava. Todas essas etapas do pensamento científico foram seguidas à risca no ano passado pelos colegas Raphael Yudi Kai, 17 anos, e Beatriz Glaser Pimpão, 16 anos, quando elaboraram um projeto para a feira de ciências do Colégio Positivo. Em busca de soluções para amenizar as enchentes nas grandes cidades, eles desenvolveram um equipamento que impede a obstrução dos bueiros com o lixo jogado nas ruas. E descobriram que podem se tornar pesquisadores. "Sempre gostei de pesquisar áreas que não estão no currículo escolar. Foi cansativo, mas gratificante", afirma Raphael.
O sistema de ensino baseado unicamente em um professor palestrante não estimula o senso crítico. Por isso, as escolas buscam desenvolver um lado mais ativo e questionador, que pode vir à tona em feiras de ciências ou projetos de pesquisa. Trabalhos como esses também são oportunidades para ensinar ao aluno o que é um método científico e a importância de cada fase da pesquisa. "O pesquisador precisa testar hipóteses. Sempre digo aos alunos que o fracasso também é importante, porque permite que você diga por que caminho os outros pesquisadores não devem seguir", explica o diretor do Colégio Positivo, Celso Hartmann.
Foi exatamente o que fizeram Raphael e Beatriz. Somente depois de cinco tentativas eles chegaram ao produto final. O projeto foi desenvolvido para a Mostra de Soluções para uma Vida Melhor, realizada anualmente pelo Positivo, e acabou selecionado para participar também da edição deste ano da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada em março, na Universidade de São Paulo (USP). De quase 1,5 mil trabalhos inscritos por estudantes de ensino fundamental, médio e técnico de todo o Brasil, apenas 300 foram escolhidos para a feira. "Na Febrace conhecemos muitas pessoas que nos orientaram a continuar com o projeto e aprimorá-lo", conta Beatriz.
Outras habilidades
Para a assistente psicopedagógica do ensino médio do Colégio Marista Paranaense, Roseana Reque Galastri, os trabalhos científicos também são importantes para que o aluno aprenda a comunicar o que aprendeu. Ela explica que todos os anos a rede Marista organiza o Congresso Virtual Interdisciplinar. Funciona assim: dentro de um mesmo tema geral cada grupo escolhe um tópico específico. Durante aproximadamente seis meses os estudantes desenvolvem as pesquisas orientados por professores. Os alunos mais velhos apresentam os resultados em forma de artigo científico, respeitando as normas desse tipo de publicação, e os três melhores textos são publicados em uma revista do grupo.
Em 2009, o tema foi astronomia e participaram alunos de 5.ª à 8.ª série. No ano passado, o debate foi em torno da biodiversidade, com estudantes da 8.ª série e do ensino médio. Mas também é possível desenvolver o espírito questionador entre os mais novos. "Lá na educação infantil os professores já trabalham em cima de projetos. Quando surge uma curiosidade na turma, os professores elaboram uma hipótese e começam uma pesquisa. E esse estudo culmina em uma exposição", afirma Roseana.