Monte Alegre, bairro de Camboriú, cidade em Santa Catarina, que era conhecido por ser um dos mais violentos do estado, já não tem a mesma fama. A mudança é resultado, entre outras contribuições, de um programa iniciado em 2018, em um centro educacional da região, que revela que é possível que a polícia militar esteja dentro das escolas sem militarizá-las.
A proposta, que tem sido aplicada de forma ‘piloto’ no Centro de Integração Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC) do município, está dentro da linha de “policiamento de proximidade” – estratégia para aproximar a população e as forças de segurança do local.
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“Eles [policiais] não interferem no processo e modelo pedagógico da escola, e em nenhum momento a ideia se confunde com a de colégios militares”, explica o comandante-geral da Polícia Militar de SC, coronel Araújo Gomes.
A proposta é simples: resgatar valores perdidos, como a o enaltecimento da boa conduta, do profissional de educação e dos militares. “Antes do início do turno, um grupo de policiais que trabalha no bairro chega à escola para dar ‘boas-vindas’ aos alunos. Quando faltam 15 minutos para o início das aulas, a bandeira do Brasil é hasteada, os estudantes são posicionados e cantam o hino”, explica. Eles também costumam marchar durante as atividades.
Embora a proposta não seja militarizar, o coronel defende que, sim, “algumas questões conceituais do modelo escolar dos colégios militares podem agregar valores a escolas da rede pública também”. Para ele, é preciso que a população mais do que veja, mas sinta a presença da polícia como protetora.
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Meritocracia
Paralelamente, outros ‘pequenos’ mecanismos são utilizados para incentivar disciplina, respeito e o civismo. O primeiro estudante que chega na escola, por exemplo, ganha uma espécie de casquete, como as usadas pela polícia, e, naquele dia, ele se torna o comandante da turma. Na liderança, ele é responsável por colocar os colegas em forma, direcioná-los à sala, conferir faltas do dia e fazer comunicados ao professor. “O aluno acaba se sentindo valorizado por ter chegado pontualmente na aula”, conta o comandante da PMSC.
A sexta-feira, sobretudo, é um dia especial. Os alunos que, ao longo da semana, se destacaram pelo comportamento, pelas notas ou alguma atitude especial, são indicados pelos professores e ganham, como forma de retribuição, um botton/ medalhinha.
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“É um mecanismo bem simples de resgate de alguns valores e, ao mesmo tempo, uma proximidade muito grande com os policiais, que recebem os estudantes, dão boas-vindas, identificam o primeiro aluno de cada turma”, afirma Araújo. A estratégia também gera empatia e afetividade entre crianças, professores e policiais.
Resultados
Após alguns meses da implantação do programa, os resultados já podiam ser percebidos, como a redução de faltas dos alunos para 43% comparado ao período anterior, diminuição de atrasos no início das aulas, melhoria de notas, maior participação dos pais na vida escolar e redução de 58% de ocorrências por causa de má conduta.
Ainda mais do que isso, o projeto desenvolvido nas escolas promoveu a reconstrução da legitimidade e proximidade da Polícia Militar com a comunidade. “Os desgastes que nós tínhamos combatendo a criminalidade na região eram muito grandes. Prendemos muito gente, teve muito confronto, nós tínhamos perdido a credibilidade”, relata o coronel.
Alguns pais, participantes fundamentais do processo escolar, resistiram à ideia, inicialmente, com medo de que a proposta fosse um modelo de militarização ou de cerceamento de liberdade. Hoje, no entanto, “eles fazem questão de participar e acham ótima a ideia da polícia interagindo com os filhos”, como afirmou o comandante da PM.
Institucionalização
Além dos bons resultados, o custo do programa é baixo. Na realidade, o projeto apenas se incorporou à programação operacional da patrulha na área. “Nós achamos isso fundamental, pois o policial que uma criança vê na escola é o mesmo que ela encontra no seu bairro”, diz Araújo.
Após o consenso no âmbito escolar de que o processo foi proveitoso, a polícia pretende institucionalizar o programa para aplicá-lo no contexto estadual. Segundo o comandante da Polícia Militar, a previsão é de que, neste ano, cerca de 36 escolas recebam o projeto.
Gestão compartilhada
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, já afirmou que a sua pasta apoiará prefeituras interessadas em militarizar a administração de escolas municipais, que ficariam a cargo de PMs ou do Exército.
“Em comunidades que pedem apoio administrativo da Polícia Militar, o corpo docente continua o mesmo, a administração acadêmica continua a mesma, e o feedback nas comunidades é positivo. As pessoas, as crianças gostam disso, se sentem confortáveis", afirmou o ministro. "Na medida em que as escolas municipais pedirem auxílio, as polícias ou as Forças Armadas da respectiva localidade respondem, e o Ministério dá apoio”.