O uso de equipamentos eletrônicos em sala de aula é proibido no estado do Paraná, desde junho de 2014. A exceção são os casos em que os aparelhos são utilizados para “fins pedagógicos”. Certa ou errada, a lei reflete a realidade das salas de aula, com alunos munidos de smartphones que poderiam ser uma alavanca do conhecimento, mas na prática são o terror dos professores. Inserir estes equipamentos no processo de aprendizado é o desafio colocado para professores da educação básica e superior, em especial aqueles ligados às licenciaturas.
Educação e tecnologia é um dos debates de maior sucesso do I Seminário de Formação Inicial e Continuada do Professor da Educação Básica e Superior, organizado pelas universidades Federal do Paraná (UFPR) e Positivo (UP) e que começou na última quarta-feira e segue até esta sexta-feira (27) em Curitiba. Durante a programação, o professor de Língua Portuguesa Marlon Mateus deu uma oficina a outros docentes, sobre o uso de celular em sala de aula.
SEED
EM nota da Diretoria de Políticas e Programas Educacionais, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) disse que a tecnologia é trabalhada ao longo de todo o processo de formação continuada dos professores da rede estadual do Paraná e que também há cursos específicos, de tempos em tempos, para o uso de determinados adventos tecnológicos, como lousa digital, por exemplo.
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Sua experiência no Colégio Estadual Julia Wanderley mostra que ideias simples podem ser revolucionárias. “Utilizamos aplicativo de dicionários, agenda para organização pessoal. Tradutor. Cronômetro. Gravador eles utilizaram para trabalhar o gênero textual entrevista, e eles entrevistaram familiares e depois transcreveram”, conta. São funções que não exigem equipamentos com tecnologia de pontos. Basta serem inseridas no planejamento de aula do próprio professor.
Metodologia reúne digital e analógico em trabalho colaborativo
Professora de Matemática da rede pública estadual, Gílian Cristina Barros procurava uma metodologia de ensino em que pudesse formar professores para trabalhar com a tecnologia, em 1998. Foi quando ela conheceu o método webquest, que utiliza com seus alunos desde 2004.
Funciona como um curso on-line. A diferença é que o professor está presente em sala, orientando os alunos. Pela internet, os alunos acessam o desafio do dia. Começa pela introdução: individualmente ou em equipes, eles vão ler sobre o tema da aula (frações, por exemplo) e ter acesso a links previamente selecionados pelo professor.
Depois, é a hora das tarefas. Podem ser exercícios (aqueles mesmos que vêm impressos nos livros) ou desafios, que levam os alunos a construir um produto ou projeto (trabalho escrito, blog, maquete ou reportagem, por exemplo). A avaliação estabelece os parâmetros a serem atingidos em cada etapa e, na conclusão, os participantes redigem o resultado do processo.
“Funciona como um roteiro, um estudo dirigido. Porque hoje os alunos vão para o Google e podem encontrar de tudo”, explica Gílian, que dá uma oficina sobre o tema no “I Seminário de Formação Inicial e Continuada do Professor da Educação Básica e Superior”
Serviço
Para conhecer webquests prontas e produzir seus próprios roteiros acesse:
http://professorescommidias.org/phpwebquest/
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Não existe fórmula mágica, um aplicativo perfeito para uso em aula. O professor deve experimentar, “perder o medo da tecnologia e se arriscar, se expor, sem medo de dar errado”, defende Maysa de Oliveira Brum Bueno, que trabalha com formação continuada e tecnologias educacionais no Mato Grosso do Sul. Não tem problema se o aluno entender mais da parte tecnológica. Cabe ao docente conhecer as ferramentas e orientar seu uso de maneira pedagógica, o que possibilita inclusive que o estudante desenvolva um protagonismo em seu próprio aprendizado.
A resistência apontada por Maysa de utilizar a tecnologia no processo pedagógico tem origem na própria formação do professor, nos bancos das faculdades. “Vemos este discurso de que o professor da educação básica não usa a tecnologia, tem práticas de ensino tradicionais, expositivas. Mas e no Ensino Superior? Que outra prática de ensino este professor viu na universidade? Não como teoria, mas que prática ele experimentou?”, é o questionamento de Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau. Foi ao pensar sobre isso que ela deixou de lado a formação continuada e voltou-se para trabalhar em um “movimento de metodologias ativas” na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Eletrônicos esbarram na liberação da internet
Se os smartphones são cada dia mais populares entre os alunos das escolas públicas e particulares, o mesmo não pode ser dito dos planos de internet móvel. O preço médio de R$ 1 por dia (nas versões mais baratas) é salgado para o bolso dos estudantes que não ganham nada ou apenas uma bolsa de aprendiz. A falta de acesso é um dos entraves à utilização da rede no ambiente escolar.
Defensor do uso de eletrônicos em aula, Marlon Mateus conta que no Colégio Estadual Julia Wenderley, onde dá aula, há wi-fi gratuito. Mas que a senha não é liberada para os alunos. Há uma corrente, que ele critica, que defende que a liberação vai incentivar os alunos a desvirtuarem o uso pedagógico dos gadgets. “O aluno pode se distrair com uma revista, qualquer coisa que não seja eletrônica. Não vejo sentido nenhum em restringir o acesso à internet”, defende.
A instalação de internet wi-fi em toda a rede estadual de ensino é um dos projetos do programa Sala de Aula Conectada, da Secretaria do Estado da Educação (Seed). Em 2015, a pasta pretende distribuir cinco mil computadores com lousa digital para as escolas, programa que já funciona em formato de teste em 16 instituições.
Além disso, a Seed relata que tem trabalhado na substituição dos laboratórios de informática e na distribuição de 60 mil tablets para os professores. Quanto ao uso de eletrônicos em sala de aula, a secretaria acredita que eles podem “prejudicar o andamento das aulas e tornar o trabalho pedagógico questionável” quando são utilizados dissociados das atividades propostas pelos professores. (NP)