Voltou a circular nas redes sociais um vídeo, publicado no Youtube em 2013, em que Damares Alves, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos fala sobre um ‘grupo de especialistas’, que teria começado na Holanda, e que instrui os pais a “masturbar os bebês a partir dos sete meses de idade”. O vídeo teria sido gravado em uma igreja evangélica em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, durante uma preleção de Damares.
A fala da ministra sobre a Holanda é precedida por um slide com o título “O que acontece no Brasil”, que cita uma matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e diz: “... a prefeitura de São Paulo [no mandato de Marta Suplicy, do PT) contratou o Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), por R$ 2 milhões de reais para ensinar professores de creches sobre ereção de bebês e masturbação...”. Logo depois, ela cita o caso da Holanda.
Além de ter sido amplamente criticada nas redes sociais, Damares foi repreendida por jornais holandeses. Um deles, o Telegraaf, publicou: “Ministra Damares conta fábulas sexuais sobre a Holanda”.
Afinal, tudo o que Damares Alves falou é mentira? O que, de fato, acontece nas escolas da Holanda? E nas da Alemanha?
Ministra se confundiu e disse ‘Holanda’ em vez de ‘Alemanha’
À Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa da ministra disse que, no episódio, Damares se confundiu e falou ‘Holanda’ em vez de ‘Alemanha’. Ela ainda teria publicado um vídeo pedindo desculpas pelo ocorrido, mas a reportagem não conseguiu encontrar o arquivo.
Na Holanda, crianças começam a ter aulas de educação sexual no jardim de infância
A educação sexual nas escolas da Holanda é, por lei, parte obrigatória do currículo, e é aplicada nas séries primárias e secundárias. Crianças de 4 anos já começam a ter aulas sobre o assunto e existe uma semana específica para a discussão do tema, chamada de “Spring Fever”. O grupo por trás da educação sexual nas escolas da Holanda é o instituto Rutger WPF, que defende em seu site, entre outras bandeiras, o direito de LGBTQs “desfrutarem de uma vida sexual saudável”.
Tópicos ensinados
Os ensinamentos incluem tópicos como identidade de gênero, homossexualidade, opções contraceptivas e auto-imagem - obrigatoriamente.
Segundo o PBS news Hour, “o desenvolvimento sexual é um processo normal que todos os jovens experimentam e têm o direito de obter informações confiáveis e honestas sobre o assunto”. No site, há relatos de que, durante algumas lições iniciais que enfocam a consciência corporal, crianças desenharam, por exemplo, os corpos dos meninos e meninas e contaram histórias sobre os amigos tomarem banho juntos.
Outro episódio relatado pelo PBS é um em que a professora de uma classe de alunos que têm, em média, 11 anos, apresenta uma série de situações hipotéticas: “você está beijando alguém e o seu parceiro começa a usar a língua de uma forma que você não quer”, “uma menina começa a dançar perto de um cara, em uma festa, fazendo com que ele tenha uma ereção”, “seu amigo está exibindo fotos pornográficas que fazem você se sentir desconfortável”.
O movimento alemão de 1968 e os jogos de ‘tirar a roupa’
Na Alemanha, há relatos de ‘tentativas’ de educação sexual já em 1968, sob impulso do movimento alemão de 1968. Registros revelam que “havia uma ênfase muito forte na educação sexual” e, em um dos episódios registrados, em determinado local, quase todos os dias, alunos faziam jogos que envolviam tirar a roupa e ler revistas pornográficas”. Foi descoberto, inclusive, um porão usado como ‘local de observação’ para estudar o comportamento sexual em crianças.
Alemães que não permitem que filhos assistam a aulas de educação sexual podem ser presos
Atualmente, a educação sexual nas escolas alemãs é obrigatória, por lei, nas séries primárias e secundárias dos 16 estados. O Centro Federal para a Educação de Saúde da Alemanha (BZgA), fundado em 2003, é o órgão responsável por implementar as diretrizes.
Conforme relatou o Uol, pais que não permitem que os filhos frequentem as aulas podem ir para a prisão. Além disso, “em 2013, um pai de nove crianças foi preso por proibir uma das filhas de frequentar as aulas de educação sexual numa escola primária do estado da Renânia do Norte-Vestfália, e a mãe só não foi detida porque estava em fase de amamentação do bebê mais novo”. Em outra situação, “uma educadora teria levado dildos e camisinhas para que todos pudessem treinar como se proteger antes de uma relação sexual”, diz o site.
No início dos anos 2000, a BZgA editou e distribui uma cartilha em escolas chamada “Körper, Liebe, Doktorspiele” (“Corpo, Amor, Brincadeira de Médico: um guia para os pais sobre o desenvolvimento sexual da criança”, na tradução livre). Os materiais acabaram sendo recolhidos, em 2007, após queixa de pais à promotoria da cidade de Colônia, de que seu conteúdo poderia fomentar o abuso de crianças.
“É apenas um sinal de desenvolvimento saudável da sua criança quando ela tem a possibilidade de se dar satisfação ou prazer”; “quando meninas com menos de três anos pegam objetos para ajudar nessa satisfação, não se deve impedir”; “vagina e acima de tudo o clitóris recebem praticamente nenhuma atenção em forma de carinho (nem por pai nem por mãe) e isso faz com que para as meninas seja difícil desenvolver orgulho de suas partes genitais” seriam frases do livro, de acordo com a revista Spiegel Online.
E outra das promoções do órgão teria sido um musical infantil que levava o nome “Nase, Bauch und Po” (“Nariz, barriga e bumbum”, em tradução livre), que diz que “a vagina não é só para fazer xixi. Quando eu a toco, me dá cócegas”.