A auxiliar de limpeza Neuraci Paulino de Andrade, de 45 anos, não teve oportunidade de estudar na infância. Natural de Salvador (BA), ela precisava ajudar os pais quando era criança e, por isso, não frequentou a escola. O que ela não esperava, porém, é que aprenderia a ler e a escrever dentro de uma empresa em São Paulo, cidade que escolheu viver.
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A iniciativa partiu da gerente Nátaly Bonato, que percebeu que metade dos auxiliares de limpeza (terceirizados) do espaço coworking em que trabalha não eram alfabetizados. Foi aí que ela teve a ideia de encontrar alguém que topasse dar aulas aos funcionários durante uma hora e meia por dia, duas vezes por semana.
“Tivemos problemas com a limpeza de algumas salas do nosso coworking. Para resolver isso, propus que os oito funcionários do setor preenchessem um formulário todos os dias dizendo se a sala foi limpa e, caso não fosse, colocassem um comentário. Foi aí que descobri que 50% do time era iletrado”, diz em entrevista à Gazeta do Povo.
Para Neuraci, a iniciativa foi uma surpresa positiva. Após cinco meses de aula, ela e os outros alunos ganharam uma cerimônia de formatura, com direito a beca. “Tudo o que aprendi foi lá [no coworking]. Ainda ‘gaguejo’ para ler, não aprendi tudo. Mas muitos nomes que não falava, hoje falo”, afirma.
Neuraci conta que não estuda mais, já que não consegue conciliar o trabalho com as aulas de uma escola regular. Para ela, porém, os cinco meses de aprendizado foram muito importantes.
“Muitos aspectos mudaram em minha vida, aprendi várias coisas que não sabia. Trabalhávamos e podíamos estudar durante uma hora e meia. Foi muito bom”, afirma.
A gerente Nátaly conta que a facilidade das aulas foi um dos atrativos para Neuraci e os outros funcionários, já que as lições ocorreram dentro do próprio espaço de trabalho. “Foi uma aula particular, eles não tinham que ir à escola. Todos gostaram muito da ideia, ficaram motivados e confiantes”.
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A ideia
A história começou a partir de um formulário que Nátaly pediu para os funcionários preencherem. O documento demorou para chegar e, quando finalmente chegou, o banheiro da empresa “virou um caos”, segundo a gerente.
“Precisava ficar pressionando as pessoas, porque o formulário de limpeza não chegava. Quando ele ficou pronto, além de não ter entendido nada do que havia sido preenchido, o banheiro virou uma bagunça. Descobri que o moço que limpava tinha que largar o serviço para se dedicar ao relatório. Não imaginava que o problema da demora era que as pessoas não sabiam ler”, conta.
A partir desse episódio, Nátaly resolveu procurar as sete escolas que fazem parte do coworking. “Uma delas cedeu uma funcionária para embarcar nessa ideia. Reuni os funcionários e perguntei se eles topavam”, relembra.
Mais produtividade
Nátaly afirma que a produtividade dos funcionários melhorou muito após as aulas. Para ela, isso ocorreu porque eles começaram a entender melhor o mundo que os cercava.
“Quando a pessoa não sabe nem ler e nem escrever, até a noção de espaço é prejudicada. A produtividade melhorou muito, mas o mais importante foi ver a confiança dos funcionários aumentando”, conta.
As aulas de alfabetização terminaram em dezembro passado. Agora, outros colaboradores da empresa aprendem inglês durante o trabalho.
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“Em todas as unidades da nossa empresa, o número de pessoas que não sabia ler e escrever caiu muito. Na nossa unidade, especificamente, alfabetizamos todos que não sabiam. Agora, fizemos outra ação: existem 23 funcionários que têm aulas de inglês, quatro vezes na semana”, finaliza a gerente, orgulhosa.
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