Apenas cinco escolas do Paraná, todas elas privadas, aparecem entre as 200 instituições de ensino mais bem colocadas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015. As notas obtidas pelas escolas* foram divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta terça-feira (4) e apresentam a média do desempenho das instituições em cada uma das quatro áreas de conhecimento que compõem o Enem - ‘Linguagens, Códigos e suas Tecnologias’, ‘Matemática e suas Tecnologias’, ‘Ciências Humanas e suas Tecnologias’, ‘Ciências da Natureza e suas Tecnologias’ - mais a Redação.
INFOGRÁFICO INTERATIVO: Confira as notas das instituições de ensino do Paraná
Distorção dos cursinhos
O Colégio Marista Santa Maria obteve a melhor nota do Enem no Paraná entre as escolas com índice de permanência superior a 80%, ou seja, quando são consideradas instituições com maior número de alunos que permaneceram os três anos na mesma escola. Os cursinhos tendem a ter maior nota no Enem porque reúnem alunos dos terceiros anos que vieram de outros colégios, tentaram várias vezes o vestibular e, por isso, tendem a ir melhor no Enem - ou seja, a boa nota desses estabelecimentos vem mais das características dos alunos do que do ensino em sala de aula.
O Colégio Positivo-Sede, de Curitiba, é o mais bem colocado do estado, aparecendo na 47ª posição, entre as quase 15 mil escolas que participaram do Enem 2015 em todo o país. A escola aparece na 14ª posição na prova de Ciências da Natureza, 34ª na de Ciências Humanas, 37ª na de Matemática e 48ª na de Linguagens e Códigos.
A segunda instituição mais bem avaliada do estado é o Colégio Alfa Avenida, de Cascavel, na 50ª colocação. As outras três instituições são o Colégio Alfa Umuarama (147º), de Umuarama, o Colégio Bertoni (172º), de Foz do Iguaçu, e o Colégio Dom Bosco – Batel (179º), de Curitiba.
No Estado
Com 709 pontos de média geral, o Colégio Positivo-Sede, de Curitiba, aparece com a melhor avaliação no recorte estadual da lista. Das cinco competências avaliadas no Enem, ele teve a melhor média do estado em três: Matemática (771,43), Ciências Humanas (689,31) e Ciências da Natureza (686,83), respectivamente. O Colégio Alfa Avenida, por sua vez, foi o melhor colocado nas competências de Redação (823,81) e Linguagens e Códigos (643,19). A média geral da escola foi de 706,57 pontos.
“O ‘efeito família’ sobre a educação é mais forte do que o ‘efeito escola’”.
Entre as escolas públicas, o Colégio Militar de Curitiba foi o melhor avaliado, com média de 638,55. Com exceção da Redação, a escola teve o melhor desempenho nas outras quatro competências avaliadas: Matemática (665,69), Ciências Humanas (649,41) e Ciências da Natureza (599,50) e Linguagens e Códigos (590,85).
O primeiro lugar na prova de Redação (697,69), entre as escolas públicas, ficou com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Palmas, que obteve 573,11 pontos na média geral.
Avaliação
O Inep lembra que na análise das médias é necessário levar em consideração diversos critérios, como o nível socioeconômico dos alunos e o porte das escolas, o que faz com que comparações entre as instituições que deixem de fora tais contextos não representam a realidade dos fatos.
Prova de Redação tem salto de qualidade
A melhora expressiva dos resultados da prova de Redação do Exame Nacional do Ensino Médio foi um dos dados que mais chamou atenção no levantamento divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2015, a média nacional do texto dissertativo-argumentativo foi de 543 pontos, 52 a mais do que os 491 da prova de 2014.
Um dos pontos que justifica a melhora da média é o empenho das escolas e dos estudantes na preparação para esta etapa do Enem, como afirma Marlus Geronasso, professor do Curso Acesso e coordenador do Pré-Enem do Centro Universitário Internacional Uninter.
“As escolas começaram a se preocupar um pouco mais com a redação, e os alunos a exercitar mais o texto. O aumento da produção leva a um aumento da qualidade, pois escreve bem quem escreve muito”, avalia.
Apesar disso, o professor diz ver de forma estranha este aumento expressivo na média [que pode não acompanhar o esforço dos professores e estudantes] e que gostaria que houvesse mais transparência na divulgação desses resultados por parte do Inep.
O coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, acrescenta que nenhuma avaliação de larga escala é capaz de comprovar se seus resultados garantem uma escola de qualidade ou não. Isso porque, segundo ele, muitos aspectos relativos à qualidade não são capturados por este tipo de avaliação, como o projeto político-pedagógico, a estrutura, os valores e a convivência dentro do ambiente escolar.
“Estes dados indicam o desempenho do aluno na prova, mas precisam ser combinados com outros indicadores importantes, como nível socioeconômico e de escolarização dos pais, pois o ‘efeito família’ sobre a educação é mais forte do que o ‘efeito escola’”, pontua.
O coordenador também alerta para o caso de escolas que, para fazer do desempenho no exame uma forma de divulgar seus serviços, agrupam os melhores alunos em uma turma e criam uma “escola fantasia” para ficar em uma colocação mais positiva no Enem. “Assim, a sociedade pensa que a escola como um todo está indo bem, mas a qualidade não é de todos”, completa.
No momento de escolher a escola para os filhos, a orientação de Cara é a de que, além dos resultados nos exames, as famílias conheçam o trabalho pedagógico realizado pela escola, o espaço que ela dá para os pais se pronunciarem e a forma como trata o conjunto da turma.
“Outros índices que podem ser conferidos são os Indicadores de Qualidade na Educação, que tratam do ensino fundamental, mas podem ser utilizados como referência [para as instituições que também oferecem o ensino médio]”, acrescenta o coordenador.
*O Inep, ao divulgar os dados, lembra que a análise dos mesmos precisa levar em consideração o nível socioeconômico dos alunos, o porte da escola e outros indicadores, como a formação docente e o tempo de permanência do estudante na escola, ou seja, o porcentual de estudantes que cursaram todo o ensino médio na mesma escola em que se encontravam matriculados em 2015. Desta forma, o instituto afirma que comparações entre escolas que deixem de fora tais contextos podem não representar a realidade dos fatos.
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