A vida em dobro dos estudantes que trabalham e estudam para o Enem

Se a rotina de estudantes que chegam a estudar até 16 horas por dia, inclusive aos fins de semana, não parece lá motivo de muita inveja, há casos onde o cotidiano força ainda mais as exigências, ampliando dificuldades. É o percurso de intensidade dos candidatos a uma vaga do Ensino Médio de Ensino Médio (Enem) que estudam e trabalham. “Tenho feito o melhor que posso”, alega Edenilson de Almeida, jornalista e funcionário de uma produtora de vídeos. Aos 38 anos, ele pretende passar em Direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dorme, em média, seis horas por dia. “Estudo o máximo que a minha rotina permite”.

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Seu dia começa às 6h15, com a leitura das primeiras matérias do dia. Quando dá 8h40, ele sai de casa e se dirige ao trabalho, onde fica até meio-dia. Das duas horas de almoço, 20 minutos para comer e 1h40 para mais estudos. Então, trabalha até às 17h30, vai para casa, estuda mais um pouco e se dirige ao cursinho do Dom Bosco, na Cândido de Abreu, onde as aulas começam às 18h40 e seguem até 22h55.

No fim da jornada – Almeida mora no Centro –, uma pausa para um banho rápido e mais um tanto de estudos. Meia-noite ele para. “Sei de muitos que podem viver apenas de estudar, mas não estudam mais do que eu. Esforço-me o máximo que consigo e a minha está cabeça está tranquila”, define. O sábado é dia de cursinho de manhã e de tarde. Aos domingos, mais estudos, com algumas horas reservadas para cozinhar. “Congelo comida para a semana toda”.

Malanny Pereira mora em Araucária. Sonha cursar Educação Física na Universidade Tuiuti. Fará as provas do Enem pela primeira vez e sentiu dificuldades na realização dos simulados do cursinho . “Não é fácil essa vida, viu?”. Ela acorda todo dia às 5h30, vai à academia, deixa o filho Eduardo, de 5 anos, na escolinha, trabalha numa loja de estofados como vendedora das 8 às 18 horas, com uma hora de almoço e rápidas passadas pelas apostilas. Somente depois da 18h30 ela consegue se dedicar exclusivamente aos estudos no Centro Educacional Exato, no Centro de Araucária. “A jornada tripla de ser mãe, trabalhar e estudar desgasta mais psicologicamente do que fisicamente. É complicado conseguir se dedicar exclusivamente aos estudos, mesmo nos horários em que estou no cursinho. Invejo quem tem a oportunidade de somente fazer isso”.

As aulas se esticam até 21h30. Então, a jovem de 22 anos vai para casa, prepara a cama para o filho e repassa mais um pouco do conteúdo das apostilas. “Sei que não é o suficiente o que estudo. Por isso, faço os fins de semana renderem”, afirma. Aos sábados e domingos, ela divide as atenções com o filho pequeno e a revisão dos estudos da semana. A turnê de força chega, em muitos dias, até 21 horas, quando ela e o filho dormem.

Ansiedade

Faltando poucos dias para o Enem, os estudantes não escondem o nervosismo e a tensão de ano inteiro de disciplina. “Não tem como negar que estou um pouco ansioso. O Enem é uma maratona de resistência, inteligência interpretativa e agilidade que exige tudo o que temos para entregar. E é tudo o que fizemos sendo resumido a dois dias de testes”, alega Almeida.

Enquanto pede para um cliente esperar um pouco para ser atendido, Malanny não disfarça a agitação. “Eu tenho medo, sabe?”. Se preparando diariamente desde julho, ela reconhece não se sentir adequadamente preparada. “É difícil se concentrar exclusivamente nos estudos. O mundo nos chama o tempo todo. Estou tentando me focar. Espero que eu consiga ficar bem tranquila e não cair nas perguntas-pegadinha do Enem”, completa.