Cerca de nove milhões de estudantes deverão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano. Entre as provas, que serão aplicadas nos dias 5 e 6 de novembro, a de Redação é uma das que mais tira o sono de boa parte dos estudantes. Para outros, porém, ela representa uma forma de se destacar e aumentar a pontuação perante os concorrentes.
Fato é que, independentemente do caso, a redação vale 1 mil pontos, o que faz com que uma boa performance no texto contribua, e muito, para o desempenho geral do aluno.
Ler atentamente o enunciado e se ater ao tipo de texto proposto são os primeiros passos para uma boa redação. Sérgio Degrande Júnior, professor de Redação e Interpretação de Textos do Curso Dom Bosco, explica que o texto pedido pelo Enem é dissertativo-argumentativo, o que significa que o aluno deverá defender um ponto de vista.
“Não é uma questão de ser a favor ou contra. A redação do Enem se baseia em dois elementos básicos: o aluno tem que problematizar e apresentar, no final do texto, as soluções para o problema que foi levantado”, acrescenta Degrande.
Temas
Entre os temas que poderão ser cobrados para o texto, as apostas dos professores giram em torno de questões voltadas à acessibilidade, racismo, mobilidade urbana e resíduos sólidos. “Outro assunto relevante é a entrada em vigor da lei antibullying, que é um tema importante e possível para a prova”, acrescenta João Filipe Magnani, professor de Redação do Curso e Colégio Acesso.
Os professores enfatizam, no entanto, que mais do que tentar adivinhar o tema da redação, o aluno deve se preparar, ou seja, ler, escrever e acompanhar os assuntos da atualidade que podem ser cobrados no exame.
“Uma estratégia é colocar na bancada de estudo os três eixos nos quais a redação costuma se assentar: meio ambiente, comportamento e socioeconômico-cultural”, sugere Cleuza Cecato, coordenadora de Produção de Textos do Colégio Bom Jesus.
Gramática
Não descuidar das questões gramaticais é outro ponto fundamental para garantir uma boa redação, lembra Wellington Wella, professor de Redação do Curso Positivo. “Prestar atenção à ortografia, concordância e acentuação é muito importante. Os erros saltam aos olhos e criam uma predisposição negativa em quem vai avaliar o texto”, aponta.
Cleuza lembra também que, a partir deste ano, o Enem e outros vestibulares passam a aceitar exclusivamente a nova ortografia da língua portuguesa, ao contrário do que ocorreu nos exames aplicados até 2015.
*** Confira outras dicas:
800 pontos
Conquistar uma nota acima desta marca deve ser a meta dos candidatos, de acordo com a coordenadora de produção de textos do Colégio Bom Jesus, Cleuza Cecato. Segundo ela, é a partir daí que a redação começa a fazer diferença na média do candidato, possibilitando, inclusive, que ele almeje vagas nos cursos mais concorridos.
Competências
A correção da prova de Redação do Enem é baseada em cinco competências. Cada uma delas é avaliada de forma independente e corresponde a 200 pontos. Conheça quais são elas.
Domínio da língua portuguesa
Nela, são avaliados diferentes níveis de linguagem, como questões gramaticais, coloquialismo e estrangeirismos.
Compreensão da proposta
São avaliados o desenvolvimento do tema e a adequação temática e ao gênero do texto, ou seja, o atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa. Esta competência pode zerar a redação.
Seleção de argumentos
Nesta competência é avaliado como o aluno relaciona, organiza e interpreta informações para defender o seu ponto de vista sobre o tema.
Coesão e coerência
Avalia se o aluno conhece os mecanismos linguísticos utilizados para a elaboração da argumentação. Será analisado se o texto tem uniformidade e se não cai em contradição.
Proposta de solução
A última competência avalia a proposta de intervenção, ou seja, a solução para o problema abordado, que deverá respeitar os direitos humanos.
Fonte: MEC/Inep.
Mantenha-se fiel à estrutura do texto
O tipo de texto cobrado no Enem exige do aluno não apenas discutir sobre um tema específico, mas apresentar soluções para ele. Para organizá-lo, o professor Wella diz que o aluno deve prestar atenção à divisão dos parágrafos e pode seguir o seguinte esquema: apresentação do problema, argumentação sobre sua gravidade e a importância de sua solução e a resolução do mesmo. Nesta última, o aluno deve tanto reconhecer iniciativas já existentes quanto propor ações para resolver a questão. “A tendência é a de os alunos empurrarem a resolução para os outros, para o que chamam de ‘o governo’ ou ‘as pessoas’. A proposta [de solução] não pode ser genérica, ela deve ser a mais concreta e detalhada possível: o que fazer, quem vai fazer e de onde virá o dinheiro para fazer”, acrescenta. Wella lembra, ainda, que esta competência vale um quinto da nota da redação.
Use o rascunho
Fazer o rascunho do texto é um passo praticamente obrigatório para a prova de Redação. Degrande lembra que é nele que o aluno pode errar, apagar e refazer, se necessário. “O rascunho é o espelho da redação. [Nele o aluno pode avaliar] se os parágrafos estão bem construídos, se está usando bem as conjunções e as preposições, se há erros de concordância ou repetição de palavras”, acrescenta. Segundo Magnani, cerca de 20 a 30 minutos são necessários para que o estudante faça a revisão e passe a limpo o texto. Para isso, ele poderá utilizar tanto a grafia cursiva quanto a de forma, desde que a letra seja legível e diferencie maiúscula e minúscula, como lembra Cleuza. Caso ocorra algum erro na hora de transcrever o conteúdo para a folha definitiva, a orientação é passar um traço sobre a palavra e reescrevê-la corretamente ao lado. “Quanto menos intervenções, melhor. O excesso de rasuras contribui para que a apresentação geral do texto fique ruim”, acrescenta Magnani.
Respeite os limites
Adequar o texto ao limite de linhas exigido pela prova é outro ponto que demanda atenção dos alunos. De acordo com o edital, textos de até sete linhas receberão nota zero por serem considerados “insuficientes”. Este número também é considerado muito baixo pelos professores, pois não possibilita ao aluno desenvolver a argumentação. O máximo, por sua vez, não deve ultrapassar as 30 linhas propostas, limite a partir do qual o conteúdo é desconsiderado na correção. “O ideal é que o texto tenha 25 ou 26 linhas e seja divido em quatro ou cinco parágrafos”, sugere Degrande. Cleuza acrescenta que o título conta como uma linha do texto e que ele é facultativo. Por isso, a orientação é a de que ele seja utilizado como estratégia argumentativa, uma “isca” para o texto, e não somente como um recorte sobre o tema.
Gerencie o tempo
Mesmo com uma hora a mais no dia da prova, o tempo continua sendo um dos maiores inimigos da redação. Os professores dizem que este é um prazo curto para a elaboração do texto, o que demanda planejamento por parte do aluno. Uma das estratégias é tentar ganhar tempo nas provas de Matemática e Linguagens e Códigos para transferir o “saldo” para a redação. Outra orientação é começar o segundo dia de provas pelo texto. “A redação não precisa ser a primeira, mas também não pode ser a última etapa a ser feita. Depois de resolver 90 questões o aluno estará cansado e poderá não conseguir desenvolver um texto com qualidade”, explica Magnani. Esta medida também permite que o rascunho “descanse” antes que o aluno volte para revisá-lo, o que pode facilitar a visualização de erros, como acrescenta Wella.
Treine a redação
Da mesma forma que para responder às questões objetivas, o aluno deve estudar para fazer a redação. “Redação é habitualidade, e não é um processo acumulativo. Não dá para deixar para estudá-la no último mês”, pontua Degrande. Segundo ele, o ideal é que o aluno produza um texto por semana, leve-o para o professor corrigir, refaça-o e escreva uma nova redação, e assim sucessivamente. Degrande também lembra que, para produzir um bom texto, o aluno precisa ter repertório. Para isso, a orientação é ler jornais e revistas e acompanhar o noticiário. “Ler os editoriais é um belíssimo caminho para o aluno aprender sobre a estruturação do texto, as ferramentas de construção argumentativa que pode utilizar”, acrescenta o professor.
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