Uma mescla entre demandas clássicas e temas contemporâneos com muito conteúdo. Esse foi o balanço dos dois dias de provas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) realizado no último fim de semana em todo o Brasil. Professores do cursinho Dom Bosco e do Colégio Marista Paranaense envolvidos nas correções das provas – numa parceria com a Gazeta do Povo – consideraram, em linhas gerais, a prova cansativa e de nível médio para difícil.
Para Marcio Quadros, professor de Geografia do Dom Bosco, o primeiro dia estava dentro do esperado, sem surpresas. “Caíram questões sobre meio ambiente e métodos modernos de agricultura. Poucas questões trataram de atualidades”. Nesse aspecto, ele realçou a problemática da desertificação, com destaque para a crise hídrica brasileira.
Em Filosofia, uma prova clássica, de acordo com o professor Rafael Hauer. “Três eixos padrões nortearam o exame: ética, política e epistemologia. Exigiu-se a capacidade habitual de interpretação”.
Já em Sociologia, a avaliação foi de que teve nível mediano de dificuldade. “Foi abordada a questão da alteridade, como colocar-se no lugar do outro, ou o não-olhar para o outro”, define o professor Sandro Fernandes.
Em Química, os candidatos encontraram um exame complicado. “A prova estava difícil. Quarenta porcento das questões estavam muito difíceis”, destaca o professor Luiz Roberto de Lima. Temas como a utilização de energia e biocombustíveis marcaram os testes. “As questões foram abrangentes e muito bem elaboradas”, afirma.
Biologia também deve ter derrubado muito candidato. Para o professor Wilmar Martins, foi a prova mais difícil da história do Enem. “O aluno tinha que estar muito bem preparado. Não dava para chutar”, analisa. Apareceram temas clássicos, como dengue e febre amarela.
Em Física, o professor Jorge Manika considerou a prova equilibrada. “Foi uma boa distribuição, valorizando o bom aluno. Tivemos, como sempre, pouca ênfase à parte de mecânica e muito sobre ondas e ótica. Um terço da prova estava realmente difícil”, completa.
Nossa língua
Violência contra a mulher é tema da redação do Enem 2015
Leia a matéria completaNo segundo dia, uma surpresa não tão surpreendente no tema da redação: a violência contra a mulher na sociedade brasileira. Para a professora de Literatura Eliane Viture, do Colégio Marista Paranaense, o tema era reflexivo e até previsível, considerando a importância da sanção da Lei do Feminicídio em 2015. “As mulheres conquistaram mais direitos recentemente, mas ainda somos vítimas de muita violência. Uma boa redação conseguiu articular os argumentos com uma proposta de intervenção, como maior rigor nas leis e na eficácia dos serviços públicos”.
A prova de Língua Portuguesa, de acordo com Mariah Cescheni, professora de Literatura, foi tradicional: muita exigência na capacidade de leitura, compreensão e inferência. “Tivemos textos muito provocativos”.
Em inglês, um pouco de respiro. “Valorizou-se a leitura e o nível de vocabulário do participante”, afirma Tony Serur.
Em Matemática, as perguntas exigiram atenção aos comandos das questões. “A prova tinha muitas tabelas e gráficos”, diz Jorge Souza Júnior, professor de Matemática do Marista.
Uma maratona de dez horas
4h30 num dia. 5h30 no outro. Uma hora a mais para redação,com um tema extremamente contemporâneo e polêmico para destrinchar– embora seja difícil compreender onde está a polêmica em mulheres buscarem mais direitos humanos e menos vulnerabilidade à violência. A prova do Enem de 2015 não estava para brincadeira. “Domingo foi um dia muito cansativo. Além de muito conteúdo, tinha a pressão envolvida na redação e o tempo escasso de produção”, afirma Mariah Cescheni, professora de Literatura do Colégio Marista Paranaense.
Professores de diversos cursinhos nacionais demoraram mais do que o habitual para subir comentários nos portais e, em certos casos, como nas questões de Química, até mesmo os especialistas não conseguiram chegar a consensos sobre a resposta correta. Muitos docentes ressaltaram as dificuldades envolvidas nas disciplinas de Exatas, principalmente em Matemática. “A prova estava muito densa, desgastante.Não deve ter dado para quem se preparou apenas um mês antes da prova”, completa Jorge Souza Júnior, professor de Matemática do Colégio Marista Paraense.
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