Acertos na área de Humanas chega a quase o dobro da taxa alcançada em Exatas.| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Se você vai participar do Exame Nacional do Ensino Médio 2016 (Enem) e sente que sua maior dificuldade é na área de “exatas”, saiba que você não está sozinho. Dados das edições de 2009 a 2014 compilados pela startup AppProva (plataforma que auxilia na preparação de provas e testes) mostram que as disciplinas com as menores taxas de acertos no período de seis anos são Matemática (29%), Física (26%) e Química (26%).

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Os números chamam ainda mais atenção quando observados em um panorama geral, em que todas as outras disciplinas os acertos são maiores que 34%, chegando a 44% em Português e 56% em conteúdos relacionados com Educação Física.

Se levarmos em conta somente as quatro grandes áreas da edição de 2014, a taxa nacional de acertos da prova de Matemática e Suas Tecnologias foi de apenas 25%, enquanto na prova de Linguagens e Códigos do mesmo ano, o percentual de acertos foi de 40%.

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Mas afinal, por que falhamos mais em exatas?

Essa é uma questão, de certa maneira, cultural, o que tornaria “natural” essa aversão às disciplinas, como acredita Dirceu Fedalto, assessor de matemática e professor do Colégio Positivo. “É comum você ouvir colegas e familiares falando sobre dificuldades que encontraram em determinado ano ou série, e isso vai se perpetuando”.

O grande motivo das falhas, porém, pode estar na forma como esse conteúdo é abordado no exame. O Enem cobra nessas disciplinas habilidades que vão além de interpretação de texto, como aplicação de fórmulas e cálculos específicos, o que pode tornar a prova de “exatas” mais complexa do que as demais, de acordo com Fedalto.

25%

Foi a taxa nacional de acertos em Matemática no Enem 2014, segundo dados do AppProva. Já a área de Linguagens teve, no mesmo ano, taxa de acerto de 40%.

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O professor de Física do Colégio Bom Jesus, Roberto Berro, também salienta que é preciso aliar “forças concorrentes” para realizar uma boa prova, unindo interpretação de texto com a matemática: dessa forma, é possível entender exatamente o que a questão pede e resolver os cálculos do problema interpretado.

Além das menores taxas de acerto, os dados do AppProva também apontam que, separando a prova por conteúdos, das dez questões mais erradas entre 2009 e 2014, nove são de exatas, sendo cinco de matemática, três de física e uma de química. Apenas uma pergunta é da área de humanas (sobre história).

Para Fedalto, essa situação e estatísticas não são exatamente uma surpresa, já que a situação pode ser considerada uma espécie de reflexo do que acontece na escola.

“Muitos alunos ainda têm maior dificuldade em Matemática, Física e Química. Essas disciplinas, via de regra, são consideradas as mais difíceis dentro da escola e os dados apenas confirmam isso, já que é comum ter uma quantidade maior de alunos em recuperação nas mesmas”, comenta.

Reverter esse quadro de dificuldades é a principal intenção do AppProva ao divulgar o número de erros e acertos no Enem. Matheus Goyas, CEO e co-fundador da startup, reforça que “a utilização desses diagnósticos tem como objetivo melhorar o direcionamento nos estudos e garantir um bom resultado na preparação para qualquer tipo de prova ou exame nacional”.

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Para mudar esse panorama, Dirceu Fedalto acredita que é preciso um trabalho em conjunto de toda a comunidade escolar, além de focar nos problemas ainda na educação básica. “Isso chega a ser piegas de tanto que é falado e repetido, mas é a pura verdade: se a base do aluno for bem construída, muitas dificuldades serão minimizadas”, ressalta.

Maior TRI

Mesmo com as menores taxas de acertos, Matemática é a grande área com a maior nota TRI (Teoria de Resposta ao Item) registrada em 2014, com 973,6 (a maior pontuação atingida por um participante). Enquanto Linguagens é a área com a menor nota: 814,2.

Isso acontece porque a nota TRI não é calculada de maneira simples, ou seja, um participante que acertar mais questões não será necessariamente o que irá tirar a maior nota. Por esse modelo de correção, cada questão é considerada um item, e cada item recebe um nível de dificuldade (fácil, médio ou difícil).

Tomando isso como base, o resultado é calculado pela coerência do participante nas respostas, como destaca o Guia do Participante, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): “Espera-se que participantes que acertaram as questões difíceis devam também acertar as questões fáceis, pois, entende-se que a aquisição do conhecimento ocorre de forma cumulativa, de modo que habilidades mais complexas requerem o domínio de habilidades mais simples”, diz o documento.

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