Na edição do ano passado, dos 8.721.946 inscritos, 2.494.477 faltaram aos dois dias de provas, um significativo índice de abstenção que chegou aos 28,6%. Em nenhuma outra edição tanta gente deixou de fazer a prova. O resultado foi o acúmulo de cadernos de questões impressos inutilmente, nos quais foram investidos dinheiro público.
Agora, a punição para candidatos que se inscreverem como isentos e não aparecerem por quaisquer motivos será a obrigação de pagar pela inscrição no ano seguinte, caso queiram concorrer novamente, independentemente de cumprir ou não requisitos de isento. Em 2014, de todos os alunos que faltaram ao exame, 65% eram candidatos isentos.
Para o consultor Renato Casagrande, as medidas de austeridade ajudam a explicar a diminuição no número de inscritos. Nesse ano, o número de pagantes permaneceu semelhante ao de edições anteriores, diferentemente da quantidade de candidatos isentos, que caiu.
“O Governo Federal valorizou muito o Enem, popularizou-o, mas com esse 2015 complicado ficou impossível se descolar do clima de retração econômica. Além de critérios mais rígidos contra os faltantes, as medidas, aliadas à crise, trouxeram também um certo clima de espera, de letargia. O reflexo negativo é explícito em números, como se o jovem também espelhasse a crise do país e estivesse aguardando por dias melhores”, avalia.
Outro fator determinante é a utilização apenas de modo parcial da nota do Enem em algumas universidades públicas, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que deixou, no ano passado, de usar o exame como composição da nota geral .
“Apesar de ser o mais importante teste do ensino brasileiro, algumas instituições não dão muito peso a ele, o que gera uma certa desmotivação dos candidatos, já sobrecarregados com a carga habitual de estudos e escolhas”, avalia o professor Marcos Meier, psicólogo e mestre em Educação.
“É também de se considerar que o Enem, criado como uma avaliação pontual da qualidade do Ensino Médio, hoje é visto como uma plataforma de marketing para escolas particulares. A estratégia de focar nas escolas com melhores notas está escondendo uma questão social, de estrutura. Aquele aluno lá da periferia, envolvido num cenário de precariedade, pode estar desanimando e deixando de participar de um processo seletivo que deveria ser, na premissa, inclusivo”, completa Meier.
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