Pode parecer loucura para quem não frequenta a sala de aula há algum tempo, mas cantar é também uma das melhores formas de ministrar os conteúdos para o Enem. É nisso que os professores de escolas e cursinhos têm apostado as fichas. Conteúdos mais objetivos como eletroquímica ou orações subordinadas, muitas vezes difíceis de serem assimilados, ganham uma nova cara quando ensinados no ritmo de funk ou clássicos infantis dos anos 1990.
A prática não é de certa forma novidade: muitos professores “de exatas” já usavam pequenas músicas para ensinar fórmulas matemáticas. E a história ganhou um pouco mais de corpo a partir do momento que o pessoal “de humanas” tratou de não ficar para trás. Noslen Borges, professor de Língua Portuguesa em cursinhos pré-vestibulares há 10 anos e dono de um canal no YouTube sobre o assunto, é um exemplo disso.
“No começo da faculdade eu tentei fazer várias músicas. Mas o que aconteceu é que na língua portuguesa em si não existe nada exato, apenas algumas regras gramaticais. Foi então que pensei em partir para esse lado das regras e de nomenclatura das coisas, por exemplo, oração subordinada adverbial, adjetivos. Fui para o lado ‘das exatas’ no português”, explica Borges.
Na batida do funk
O ritmo mais comum de se ouvir dentro de sala de aula sem dúvidas é o funk. De acordo com o professor Noslen, o que mais se destaca na escolha é a facilidade para decorar a batida quando comparada com outros ritmos.
“As músicas mais fáceis de ficar na cabeça do aluno são aquelas ‘chicletes’. Então, eu pego a batida do funk mais ‘grudento’ e coloco a letra na mesma melodia. Quando você faz a referência com algo que existe, fica mais fácil gravar o conteúdo”, explica.
Músicas como “Beijinho no Ombro”, da funkeira Valesca Popuzada, e “Rap das Armas”, famoso por ser um dos temas do filme “Tropa de Elite”, são algumas das escolhas na hora de resumir os conteúdos como “tipos de sujeito” ou “tipos de orações”.
“A música é uma aposta positiva, já que muitos alunos têm facilidade em aprender pela audição e se lembrar dos conteúdos, garante a psicóloga Débora Costa.
O retorno dos alunos realmente parece dos melhores. Nos comentários do canal do Youtube ou da página do Facebook de Noslen, o que não falta são depoimentos de estudantes “salvos” pelas letras na hora da prova. “Alguns até brincam que escutaram a minha voz cantando na cabeça deles”, comenta o professor.
A ideia da música como ferramenta em sala de aula surge pela necessidade de descontrair. O período de provas do Enem e vestibulares no geral são momentos de ansiedade para muitos dos alunos . Portanto, a música entra como uma válvula de escape, destaca Debora Costa, psicóloga da Láquesis, empresa especializada em palestras e workshops sobre educação e relações humanas.
“Diante desse cenário de tensão, alternativas de ensino são sempre bem-vindas, pois podem auxiliar alguns estudantes a relaxar um pouco enquanto aprendem. Nosso ensino tradicional tende a ser muito mecânico, nem todos acompanham esse ritmo frenético de conteúdos. Então, músicas que tornem o estudo mais prazeroso são boas opções”, ressalta.
Para ela, o ideal seria que o aluno conseguisse equilibrar o tempo entre momentos de estudo e intervalos para atividades prazerosas, mas reconhece que, na prática, não é o que acontece. “A música na hora de ensinar pode auxiliar que a aprendizagem seja um processo menos desgastante”, completa.
A estudante Lara Rigoni, que pretende cursar Medicina e se prepara para o Enem 2016, reconhece que a rotina cheia de responsabilidades é uma das coisas que mais sobrecarregam o aluno. Por isso, vê a música em sala de aula como uma forma de aliviar o estresse. “Esses momentos de descontração são importantes, pois são eles que evitam que alguns alunos plantem bombas no cursinho”, brinca.
Pensando justamente nesse cotidiano ocupado dos estudantes, Noslen pensou em novas estratégias. Mas alerta: a canção não é substituta da aula, que, segundo ele, é sempre tradicional e expositiva, com a música apenas no final. “Depois do conteúdo explicado e assimilado, a música entra para alivar a tensão do aprendizado e ajudar a absorver o que faltava”.
Lara concorda que as coisas precisam ser “separadas”, principalmente por algumas experiências com músicas que já teve em sala. “Esse é um erro que muitos professores cometem. Passam a música, os macetes, a ‘decoreba’, mas deixam em falta o conteúdo e a explicação. Com elas, sabemos a resposta, mas não sabemos o caminho para chegar até lá”, observa.
“Vacinado” pelos 10 anos usando a música, Noslen salienta que é preciso limite no uso dos macetes musicais. “Se vejo que a turma não está entendendo o conteúdo, eu não termino com a música. Prefiro um exercício”, comenta. Ele ainda compara o método a um doce sendo vendido. “É a cereja do bolo. Se eu percebo que aquele ‘cliente’ não gosta de cereja, eu não coloco”, finaliza.
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