Talita e Lígia: na escola, descobertas de estratégias contra o consumismo| Foto: Fotos: Antônio Costa/Gazeta do Povo

Estratégia envolve ações simples e pesquisa

O diretor-geral das Escolas Positivo, Carlos Dorlass, ressalta que a questão do consumo é um problema mundial. Na rede de ensino, as ações de consientização são definidas no início do ano letivo e ocorrem em todas as disciplinas. "É papel da escola provocar essa reflexão, principalmente relacionada à preservação e reabilitação do meio ambiente", diz. A professora Kátia Olzszewski, coordenadora das disciplinas de Geografia e História, explica que os projetos envolvem trabalhos de pesquisa com o alvo na mudança de postura desses estudantes. "Já recebi muitos relatos de alunos que iam ao shopping e não saíam sem consumir, compravam por comprar e não se davam conta disso. Agora eles vão a passeio e não saem com compras supérfluas", diz.

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Para o Programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, o mercado publicitário passou a buscar primeiro quem menos sabe se defender: as crianças. Para combater o consumismo infantil, o Criança e Consumo dá algumas dicas a famílias e educadores.

- Procure não oferecer às crianças produtos como forma de gratificação.

- Crie o hábito de fazer coisas junto com seus filhos que não envolvam a mídia, como ler, jogar cartas, brincar com jogos de tabuleiros, cozinhar e tocar instrumentos musicais.

- Ajude as crianças a descobrir o significado das celebrações que vão além do comercial.

- Incentive hábitos como organização de bibliotecas comunitárias, visitas a museus e atrações turísticas, participação em atividades artísticas e culturais.

Fonte: www.criancaeconsumo.org.br

Alunos de uma turma de 3ª série receberam da professora a seguinte tarefa: reunir em casa todos os produtos que levavam a marca de personagens de desenhos animados. Para espanto dos estudantes e da própria professora, em apenas um dia de pesquisa, a turma de cerca de 30 alunos reuniu mais de 800 itens desse tipo. Trata-se de produtos que vão desde uma simples pasta de dentes a roupas de camas e brinquedos que estavam guardados em casa. "Sabíamos que o consumismo tem relação com personagens de desenhos animados, mas não imaginávamos que esse número era tão elevado. A nossa intenção é mostrar que dá para brincar sem gastar", diz Andréa Cordeiro, coordenadora pedagógica do ensino fundamental da Escola Trilhas, onde ocorreu a cena narrada acima. A atividade faz parte do cotidiano da escola e mostra que a preocupação com o consumismo infantil tem crescido entre as instituições particulares de ensino em Curitiba.

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O clima de alerta em relação ao tema não surgiu à toa. As crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família, segundo dados da pesquisa TNS/InterScience. Para a psicóloga Laís Fontenelle Pereira, coordenadora de Educação em Pesquisa do projeto Criança e Consumo – criado em 2005 para combater o consumismo infantil no Brasil –, essas decisões não estão relacionadas apenas com produtos típicos do universo infantil, mas quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança.

A influência do mercado publicitário também é grande, na opinião da psicóloga. Dados do Ibope Monitor mostram que, em 2006, os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209,7 milhões. Com tantos interesses em jogo, fica difícil combater a prática apenas no âmbito familiar. "Apesar da influência da mídia é importante ressaltar que a questão do consumismo infantil não é apenas um problema familiar e também deve ser combatido na escola", diz.

Foi na escola que Talita Matais Laurino e Lígia Penia, ambas com 10 anos e estudantes da 4ª série do ensino fundamental, aprenderam que as telenovelas influenciam muito no modo de consumo das mulheres. "Descobrimos que até os cortes de cabelos das personagens principais são muito pedidos nos salões. Os nomes dados aos bebês também vêm das novelas", comentam. "O meu, por exemplo, veio de uma mulher malvada que bombou na novela das sete na época que nasci", completa Talita.

Já Daphne, 10 anos, lembra que aprendeu na escola o quanto as idas à lanchonete de uma famosa rede de fastfood estavam sendo prejudiciais à sua saúde. "Eu queria ir todos os dias para colecionar os brinquedinhos. Descobri que a comida só engordava e que nunca conseguiria completar as coleções. Agora coleciono selos", diz. A descoberta das meninas se deu em trabalhos realizados no dia-a-dia e integram o currículo da Escola Trilhas. A idéia é chamar a atenção para o consumo consciente, baseado em escolhas que levem em conta não só a utilidade e a qualidade dos produtos, mas fatores como o respeito ao meio ambiente e responsabilidade social. No próximo dia 4 de outubro, a escola realiza pelo quarto ano consecutivo um evento sobre consumo consciente, com a exposição dos trabalhos desenvolvidos pelas 300 crianças de 1 ano e meio a 10 anos. Sacolas de pano serão distribuídas aos visitantes, para serem utilizadas em substitução às de plástico.