Métodos
Veja algumas maneiras de alfabetizar que vigoram nas salas de aula:
Fônico
Segundo este método, a aquisição da linguagem é um processo mecânico, ou seja, a criança será sempre estimulada a repetir os sons que absorve do ambiente. Dá-se importância à forma e não ao significado. Para a aquisição da linguagem escrita, o intuito é fazer com que a criança internalize padrões regulares de correspondência entre som e soletração. Utiliza-se a cartilha com frases como "Eva viu a uva" para que a criança associe o som à letra v.
Global
Opõe-se ao fônico e questiona dois argumentos: a maneira como o sentido é deixado de lado e a idéia de que a criança não reconheceria uma palavra sem antes reconhecer sua unidade mínima, o fonema. A principal característica que diferencia os dois métodos é o ponto de partida. Enquanto o fônico parte do menor componente para o maior, o global parte de um dado maior para unidades menores.
Método Paulo Freire
Consiste em uma proposta para a alfabetização de adultos desenvolvida pelo educador, que critica o sistema fônico que tem a cartilha como ferramenta central. Por meio de conversas informais, o professor observa os vocábulos mais usados pelos alunos e assim seleciona as palavras que servirão de base para as lições. A silabação passa a ser estudada por meio da divisão silábica, semelhantemente ao método fônico, mas a partir das palavras mais utilizadas pelos alunos e não por frases prontas.
Fontes: A Educação na Cidade, de Paulo Freire e Ministério da Educação (MEC).
Se você entende o que está escrito aqui, sinta-se um privilegiado, pois isso significa que está entre a diminuta parcela de 25% da população brasileira que consegue compreender plenamente um texto e relacionar essas informações a outros dados. Isso em um país que considera apenas 7% da população analfabeta, segundo o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), de 2007. Ou seja, as crianças vão à escola, aprendem as letras e seus sons, mas não conseguem atribuir significados àquele aglomerado de palavras.
Para minimizar o problema, educadores têm diferentes recomendações, mas é consenso entre eles que é preciso ensinar a ler e a escrever dando um sentido para essa tarefa e não mais utilizar o método mecanicista da cartilha do bê-á-bá, em que crianças aprendem a relacionar as letras a sons, com frases, no mínimo, sem sentido. "O ideal é colocar a criança em contato de aprendizagem com o texto da realidade (placas, embalagens e jornais) com o que está aparecendo na vida cotidiana dela, para que identifique as palavras em contextos reais. Essa é a grande diferença da cartilha do passado", explica a professora de Educação na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Marta Morais da Costa. Segundo ela, esse é o "uso social da escrita", que faz com que a criança se interesse pelo texto porque tem relevância para a sua vida.
Mas só isso não basta. O Brasil é um país de proporções enormes e sempre que se fala em educação, precisam ser levadas em conta as diferenças regionais. E isso, infelizmente, ainda não acontece por aqui. "O caminho é abrir mão das perspectivas que tentam uniformizar e fazer com que o Brasil faça a mesma coisa em todas as escolas de Norte a Sul. Dou curso no interior do Amazonas e do Paraná, e o discurso dos professores de locais tão distintos é igual porque eles são obrigados a repetir o que se fala nas grandes universidades. O caminho é aprender a realidade local e trabalhar em cima disso", comenta o professor de Metodologia do Ensino de Português na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Valdir Heitor Barzotto.
O despertar do interesse
O professor, antes de trabalhar com as crianças em sala de aula, precisa conhecer a experiência de vida delas, qual o grau de envolvimento dos pais no processo de contato com os livros e ter uma biblioteca pessoal que fique à disposição dos alunos. "Ele tem de ter o livro na sala em número suficiente para que todas as crianças possam manuseá-los. Claro que a escola tem de ajudar, mas o professor precisa ter livros próprios para utilizá-los em aula. O ideal seria indicar, pelo menos, três títulos distintos por aluno", ressalta a professora de alfabetização do curso de Pedagogia da UFPR, Veronica Branco. "As crianças precisam de atividades em que possam escolher o que querem ler, respeitando suas diferenças e preferências, para que encarem a leitura com maior naturalidade."
É o caso de Eva Beatriz Marcel Gonçalves Ribeiro, professora do primeiro ano do ensino fundamental de nove anos da Escola Municipal Dom Bosco, de Curitiba. Além de ter uma caixa com dezenas de livros para seus alunos que estão entre 5 anos e meio e 6 anos e meio, trabalha o ensino de ler e escrever de uma maneira bem diferente. Ela não usa a cartilha com seus alunos e utiliza outras disciplinas para apresentar a eles as letras. "Outro dia trabalhávamos a questão dos seres vivos e não vivos. Saí com eles da sala e procuramos minhocas, tatu-bolas, pedrinhas e fui explicando a eles quais tinham vida e quais seres não tinham. No final, voltamos e fizemos um relato, em grupo, por escrito, do que aprendemos naquele dia", conta a professora.
Outra experiência da turma, que acontece praticamente todos os dias, é observar o formato das nuvens. A professora, sempre que o tempo permite, instiga as crianças a usarem a imaginação e a relatarem o que enxergam nelas. "No início, eles desenhavam o que viam. Agora, escrevem", diz ela que, ao falar de seus alunos e sobre como os ensina, demonstra a paixão que sente pelo magistério, um dos requisitos fundamentais para quem trabalha com essa faixa etária.
A idade certa
As diferenças entre as crianças não são apenas sociais ou regionais, são também neurológicas. Apesar de haver um certo padrão para o desenvolvimento do cérebro, as pessoas não se desenvolvem de maneira tão uniforme quanto se imagina, principalmente na faixa etária em que se inicia o processo de alfabetização hoje, entre os 5 anos e meio e 7.
"Para aprender a ler, geralmente há alguns estágios. Crianças de 2 e 3 anos conseguem distinguir uma marca de um produto, porque já têm memória visual. Depois, elas entram em uma fase fonológica, em que associam o som ao símbolo e vão tendo mais consciência de que cada letra tem um som. A leitura ortográfica será a última fase", explica Antônio Carlos de Farias, neurologista infantil e pesquisador na área de distúrbio de desenvolvimento infantil do Instituto de Pesquisa Pelé, do Hospital Pequeno Príncipe. De acordo com ele, a etapa fonológica acontece entre os 5 e 6 anos, e a ortográfica dos 6 aos 8 ou 9. "O fato de a criança não ter ainda uma leitura fluida por volta de 7, 8 anos, não significa necessariamente que ela tenha um distúrbio. Ela pode estar simplesmente num período de amadurecimento", avisa o médico.
Alfabetização X letramento
O processo de letramento, em que a criança é inserida no mundo das letras, pode ter início antes da alfabetização e não tem fim. Ele depende dos pais que, se começarem a ler histórias já para os bebês, despertam neles a curiosidade. A escola também tem papel fundamental nesse processo, pois é ela quem pode mostrar para a criança os diferentes gêneros textuais. "A pessoa é mais letrada quanto mais gêneros textuais ela domina", diz Sônia Madi, coordenadora da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, uma parceria do Ministério da Educação (MEC) com a Fundação Itaú Social e o Centro de Estudos e Pesquisas, Educação e Ação Comunitária (Cenpec). E ser mais letrada significa ser capaz de ler não apenas as palavras, mas sim o seu significado e o que está em suas entrelinhas.
Já a alfabetização é um processo com início, meio e fim, mas é condição essencial para haver o letramento. "O trabalho é desenvolvido no sentido de levar a criança a compreender o sistema alfabético de escrita", comenta a diretora do departamento de ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Nara Luz Salamunes. "A alfabetização termina quando a criança internaliza e domina o funcionamento do sistema alfabético. Quando a criança está começando a ler, ela usa estratégias para decifrar o que está escrito. Quando supera essa fase, o processo só avança se o mundo da escrita for se expandindo para ela. Diferentes leituras, gêneros textuais devem ser usados. Não depende só da escola, mas também da qualidade de bibliotecas, da televisão e dos jornais."
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