A qualidade do ensino médio piorou em dez unidades da federação, incluindo o Paraná, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC). A leitura dos dados mostra um desafio insistente no ensino brasileiro: a situação tem melhorado no início da educação básica, mas vai piorando com o passar dos anos e dos ciclos.
O próprio Paraná é um exemplo disso. Segundo dados do Ideb, a nota do ensino médio caiu de 4,2 em 2009 para 4,0 em 2011, o que fez o estado descer de 1.º para 3.º lugar no ranking dessa etapa do ensino. Já nos anos finais do fundamental (6.º ao 9.º ano) a nota se manteve em 4,3, enquanto nos anos iniciais (1.º ao 5.º ano) cresceu de 5,4 para 5,6. Com esse desempenho, o Paraná desceu de 4.º para 6.º lugar na lista dos últimos anos do ensino fundamental e permaneceu em 4.º nos primeiros anos.
Mesmo assim, a rede paranaense atingiu as metas definidas para 2011 em todas as etapas e as notas do estado continuam sendo bastante altas se comparadas ao resto do país.
Curitiba, embora não tenha o Ideb mais elevado do estado, ainda é, pela quarta vez consecutiva, a capital com maior nota nos anos iniciais do ensino fundamental, ao lado de Belo Horizonte, que ocupa essa posição pela primeira vez. No país, a nota nacional do Ideb nos anos iniciais teve o maior avanço e chegou a 5,0 todas as unidades da federação atingiram a meta (4,6). Já nos anos finais do fundamental, sete estados ficaram abaixo da meta (4,0).
Desafio
Apesar da meta nacional do ensino médio, de 3,7, ter sido atingida, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, admitiu que o fraco desempenho dessa etapa do ensino no Ideb é "um imenso desafio". Segundo ele, os problemas são conhecidos e o governo se prepara para enfrentá-los. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a rede estadual é responsável por 97% das matrículas do ensino médio na rede pública, o que torna a questão uma responsabilidade dos governos locais.
Para a superintendente de educação da Secretaria de Educação do Paraná (Seed), Meroujy Giacomassi Cavet, a queda no ranking do Ideb se deve a problemas estruturais que as escolas públicas enfrentaram em 2011, como a infraestrutura precária e a rotatividade de docentes. Outro fator foi o aumento do índice de reprovação no ensino fundamental que entra no cálculo do índice que foi de 12% em 2009 para 15%, o que puxou a nota para baixo mesmo que o desempenho em Português e Matemática tenha aumentado.
Já no ensino médio, a nota nessas disciplinas caiu, aliada às altas taxas de evasão e reprovação, que historicamente são mais altas nessa etapa. "Houve uma opção da secretaria em reduzir a carga horária do ensino médio e isso refletiu diretamente no desempenho dos alunos", explica Meroujy. Segundo ela a secretaria começou em 2012 a implementar medidas para reverter esses números, como abertura de concurso público para professores e uma avaliação própria para medir qualidade de desempenho de alunos e professores para diagnosticar as falhas.
Cai a diferença entre públicas e privadas
Diferentemente do Paraná, que manteve a mesma distância entre as notas das redes pública e privada, nas demais regiões do país essa diferença está menor. As escolas públicas cresceram mais do que as particulares e superaram, em todas as etapas da educação, a meta prevista para o ano passado. Algumas até atingiram as de 2013.
Embora a diferença das notas entre as duas redes ainda seja grande, 4,7 para a pública contra 6,5 para a privada nos primeiros anos do ensino fundamental (1.º ao 5.º ano), as particulares cresceram pouco desde a primeira edição da prova ou não atingiram a meta em algumas regiões, enquanto as públicas avançaram mais, como no Nordeste e no Sudeste, onde chegaram a dobrar o desempenho.
Para o doutor em educação, especialista em políticas públicas educacionais e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ângelo Souza, a estagnação da rede particular e o crescimento da pública se deve à taxa de reprovação e de evasão, que entram no cálculo da nota final do índice. Como nas privadas essas taxas são praticamente nulas, a variação depende apenas da nota da prova. "A lógica do Ideb é facilitar o crescimento inicial, faz parte da estatística. Como as particulares só dependem de um indicador para variar o rendimento, é normal que o aumento seja lento, diferente das públicas que ainda têm de superar reprovação e evasão."
Ele explica que é muito mais difícil melhorar a aprendizagem do que reduzir o abandono escolar. Por isso o maior aumento proporcional das públicas, mesmo tendo desempenho inferior, é mais fácil de atingir.
Dificuldades
Por causa das altas taxas de evasão e reprovação, os índices do ensino médio ainda são bem mais baixos que os do ensino fundamental. Uma das causas é a dificuldade de manter os alunos em sala, considerando que boa parte estuda à noite, além de haver grande número de matérias. "O rendimento é comprometido porque muitos deles trabalham e, com tantas disciplinas, eles ficam desestimulados", diz o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
Colaborou Fernanda Trisotto