Em busca da nova identidade
Para a secretária educacional da Associação dos Professores do Paraná (APP), Janeslei Aparecida Albuquerque, as mudanças que estão ocorrendo no antigo segundo grau refletem a busca por uma nova razão de ser para esse estágio da aprendizagem. "Essas mudanças são resultado de cinco anos de discussão do Fórum Nacional dos Educadores do Ensino Médio. Estamos em busca de uma identidade, que ainda não foi encontrada", diz.
Outras modificações ocorrem a partir de 2010, quando serão obrigatórias as aulas de Sociologia e Filosofia. "A única coisa que temos certeza é que, como está, não pode ficar. Qual é a função do ensino médio hoje? Não pode ser mais simplesmente passar no vestibular", sugere. Outra alternativa poderá ser ampliar as três séries de 2,4 mil para 3 mil horas, com disciplinas alternativas. Assim, a escola receberia dinheiro do Ministério da Educação para ofertar as matérias em contraturno. "Mas as mudanças não podem ser de supetão. Devem ser feitas devagar, após muita reflexão", aponta Janeslei. A indicação é de que a opção pelos blocos seja feita após um amplo debate com a comunidade escolar, inclusive pais e mães de alunos.
Como funciona
No ensino médio por blocos as disciplinas do ano são divididas em dois grupos. No primeiro semestre, é ministrada metade das matérias, sendo a outra metade no semestre seguinte. Dentro da escola, metade das turmas tem acesso ao bloco 1 nos primeiros seis meses e ao bloco 2 nos meses seguintes. Com a outra metade das turmas, ocorre o inverso. Quando o aluno conclui os dois, passa de ano.
O sistema pretende combater a evasão escolar, considerando ser mais difícil a desistência no modo por blocos semestrais. As séries continuam com 200 dias letivos, sendo 100 a cada seis meses. Em caso de haver número de turmas ímpar na escola, o colégio deve abrir uma turma a mais.
O número de colégios estaduais do Paraná que oferecem o ensino médio em blocos semestrais deverá passar de 111 para cerca 330 no próximo ano. E a tendência é de que, em alguns anos, todas as 1.225 escolas da rede, que têm ensino médio, adotem o sistema, considerado vantajoso pela Secretaria de Estado da Educação (Seed). Pelo modelo, os alunos têm contato com todo o conteúdo do ano de determinadas disciplinas no primeiro semestre e as demais ficam para o período pós-férias de julho.Conforme Edna Amâncio, técnica pedagógica do Departamento de Educação Básica da Seed, as escolas decidem se terão o currículo anual ou por blocos semestrais. "Vemos o programa como positivo. O aluno vai vencendo etapas de seis em seis meses. Se precisar sair ou ficar retido, não perde o ano inteiro", explica Edna.
As escolas estão recebendo equipes pedagógicas do estado e de colégios que já adotaram o sistema, que agora atuam como multiplicadores. "As escolas colocam o que vivem e aquelas que fazem a opção realizam comparações com os outros colégios e professores do seu núcleo", explica.
Segundo a secretaria, o melhor resultado é obtido pelos professores que organizam de forma diferente o seu planejamento, pois o prazo para ensinar o conteúdo cai para seis meses. Edna Amâncio acredita que há vantagens para os profissionais porque há um número menor de turmas por semestre, favorecendo um contato mais intensivo entre professores e alunos.
O Colégio Júlio Teodorico, em Ponta Grossa, adotou o sistema neste ano. Na análise do diretor auxiliar Josmael de Jesus Klazura, há mais efeitos positivos do que negativos. Entre os negativos está a imaturidade do aluno ingressante, que demora a perceber a dinâmica do semestre. "Deveria ser realizado um trabalho de conscientização na oitava série do ensino fundamental para preparar esse aluno", avalia. Ele também aponta que a perspectiva de reprovar apenas um semestre não parece tão ruim, de modo que alguns estudantes não se dedicam o suficiente para passar no bloco. Como consequência, foram constatadas 27 transferências para colégios que não adotam o sistema de blocos assim os alunos reprovados podem recuperar as notas e não precisam refazer o bloco. A prática causa problemas para os professores, que precisam dar mais atenção aos que tiveram apenas a metade das matérias.
Para as estudantes Caroline de Fátima Felipe, 18, e Jéssica Aparecida Galvão, 17 anos, a divisão é interessante, mas atrapalha para o vestibular. "Muita coisa a gente ainda não viu e as outras matérias ficaram lá para trás", diz Caroline. Jéssica aponta que as matérias poderiam ser divididas de forma diferente: "Poderiam colocar matérias teóricas com outras que usam cálculos".
EvasãoEmbora indique a adoção do ensino por blocos semestrais, a Seed ainda não pode avaliar a eficácia do sistema. Um dos principais itens, a queda na evasão escolar, só poderá ser avaliado ao final do ano. "Temos a perspectiva de que a reprovação e a evasão diminuíram, mas precisamos de um ano para avaliar os dados", comenta a técnica pedagógica Edna Amâncio.
"As análises pedagógicas das escolas indicam que é positivo. Os professores estão percebendo que o modelo apresenta resultados positivos porque os alunos já internalizaram a prática. No primeiro momento houve dúvidas, mas agora todos já estão mais habituados", acrescenta.