O ensino médio público brasileiro teve a maior alta no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) desde que a avaliação começou a ser feita com a atual metodologia, em 2005. De 2017 a 2019, as escolas de ensino médio estaduais tiveram um salto de 0,4 ponto no índice – de 3,5 para 3,9. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (15) pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
O Ideb, que examina a qualidade de ensino das escolas no Brasil a cada dois anos, é obtido a partir de um cálculo que leva em conta dois fatores: uma avaliação dos alunos nas disciplinas de português e matemática, chamada Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), e a taxa de aprovação dos alunos informada pelas escolas.
Antes, o aumento mais expressivo registrado para escolas de ensino médio estaduais havia sido de 0,2 ponto (entre 2005 e 2007 e entre 2007 e 2009). Nos dez anos entre 2007 (quando o resultado foi de 3,2) e 2017 (com índice de 3,5) tomados em conjunto, o crescimento foi mais baixo, de apenas 0,3 ponto.
Goiás e Espírito Santo foram os estados com os melhores índices para o ensino médio estadual: 4,7 e 4,6, respectivamente. O Paraná foi o que teve o maior crescimento, de 0,7 ponto, passando de 3,7 para 4,4.
Explicações possíveis para a melhoria no Ideb
Para Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), o resultado é animador. Ela sugere que o empenho das escolas em se preparar para a adoção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) talvez possa explicar, em parte, esse aumento.
“O Brasil inteiro se mobilizou para elaborar o currículo nacional, a Base Nacional Comum Curricular, com todas as suas qualidades e defeitos, e a aprendizagem passou a ser um tema relevante”, diz.
Outra possibilidade, segundo ela, é que o aumento seja o reflexo da melhoria do ensino fundamental, que vem tendo desempenhos cada vez mais altos no Ideb desde 2005. O fluxo de alunos mais bem preparados do fundamental para o médio poderia justificar, em parte, a subida no índice.
O crescimento de 0,7 do Paraná, segundo Costin, pode ter a ver “com uma abordagem mais contemporânea” no âmbito da educação. “O Renato (Feder, secretário de Educação do Paraná) tem uma visão mais voltada para a juventude. Ele trabalhou muito com a questão da tecnologia, mas uma tecnologia muito voltada para o aprendizado, e não só dar computadores ou tablets para os jovens e pronto”, afirma. Segundo a especialista, o aumento de 0,7 ponto no índice do Paraná “mostra que a abordagem dele fez a diferença”.
Já o crescimento do Espírito Santo, que teve a melhor nota de português e matemática no ensino médio, pode ter relação com o bom trabalho do ex-secretário de Educação do estado, Haroldo Rocha, na avaliação da especialista. Rocha é hoje secretário executivo da Educação do Governo de São Paulo.
Região norte é a de pior desempenho
As regiões sul e sudeste do país foram as que tiveram o aumento médio mais significativo em relação ao Ideb 2017, com 0,5 ponto. Enquanto o aumento em todas as outras regiões foi de ao menos 0,4 ponto em relação ao último Ideb, o da região norte foi de apenas 0,2.
Para Costin, isso pode ser explicado, em parte, por problemas políticos. Ela cita o exemplo do Amazonas. “Ele teve, em cerca de dois anos, dez secretários de educação. Cada um que chegava mudava todos os diretores, porque a nomeação, lá, é política. Acho que isso explica, em parte, o que acontece no Amazonas e em outras partes da região norte.”
No fundamental, rede pública de alguns estados supera a privada de outros
Para os anos iniciais do fundamental, que vão do 1º ao 5º ano, a rede estadual do Paraná é a melhor do Brasil, superando inclusive a rede privada de nove estados. A rede privada do Rio de Janeiro teve a mesma pontuação no Ideb que a rede estadual do Paraná nesse quesito: 6,8.
Depois do Paraná, os estados com as maiores notas nos anos iniciais do ensino fundamental para a rede estadual foram São Paulo, com 6,6, e o Ceará, com 6,5.
As redes estadual e pública de São Paulo aparecem em primeiro lugar nos anos finais do ensino fundamental, que vão do 6º ao 9º ano, com pontuação de 5,2. Empatadas com a mesma pontuação ficaram a rede pública do Ceará e a rede estadual de Goiás.
MEC vai se sentar com Inep e outros órgãos para discutir novo Ideb
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez uma fala breve durante o evento de divulgação dos dados, na sede do Inep. Ribeiro anunciou que o MEC vai “ter uma discussão sobre salários de professores” em outubro. Segundo ele, há uma intenção de "mudar o eixo da atenção do MEC de alunos, estrutura e formas de ensino" para os professores. "Não posso entender um professor tendo que dar aula de manhã, de tarde e de noite para poder dar um sustento mínimo e digno para sua família”, afirmou.
Na mesa formada para a divulgação dos dados, além do ministro da Educação, estavam representantes da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e do Conselho Nacional de Educação.
Segundo o presidente do Inep, Alexandre Lopes, o órgão está criando um grupo de trabalho para discutir o novo Ideb, com a participação de representantes do MEC e de todas essas instituições.
Lopes também relembrou as alterações que o Saeb sofrerá nos próximos anos. “Todo ano, todos os anos da educação básica serão avaliados e todos os alunos, de forma censitária”, disse. Outra mudança é que diversas áreas do conhecimento serão avaliadas, e não só português e matemática.