Durante três décadas, o ensino musical ficou às margens do currículo escolar brasileiro. Esse hiato teve início no começo da década de 1970, quando a formação obrigatória em música passou a ser substituída pela disciplina de Educação Artística que englobava ainda temas de dança, teatro e artes visuais. Diante do vasto conteúdo, cada escola passou a ter autonomia para organizar as aulas como desejasse. E foi assim até 2008, ano em que foi sancionada a Lei 11.769, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e determinou que a música estivesse presente em aulas da educação infantil ao ensino médio.
Escolas públicas e particulares tiveram até 2011 para se adaptar às novas exigências. A professora do departamento de Artes da UFPR Rosane Cardoso de Araújo, especialista em Educação Musical, aprova a obrigatoriedade, mas diz ser difícil implantá-la por diversos motivos, como a formação dos professores, grades curriculares saturadas e falta de instrumentos e espaço adequados. "A lei foi uma grande conquista, mas é preciso lembrar que foram mais de 30 anos sem a música. Mais que uma geração para iniciar um trabalho", completa a professora da Licenciatura em Música da Unespar Margaret Amaral de Andrade.
Devido a essas dificuldades e à lei, que não exige a música como componente exclusivo da grade, as redes de ensino municipal e estadual continuam a desenvolver o conteúdo dentro da disciplina de Artes. Outras potencialidades são exploradas em projetos paralelos e dependem da capacitação dos docentes.
Apesar das dificuldades, Rosane acredita que a música passou por uma mudança de status. "Aconteceu uma valorização. A música não é mais vista somente com caráter lúdico e brincadeiras. Ela é um elemento importante para a formação das crianças."
Além da condição artística e da contribuição cultural, a música favorece a sociabilização e a formação cognitiva dos alunos. "A música, de maneira ativa [estudada ou praticada], estimula áreas do cérebro que influenciam o aprendizado", afirma a professora de Música da Escola Internacional de Curitiba, Marilene Arndt do Nascimento. Elementos como leitura, escuta, memória, concentração e repetição, envolvendo conteúdos de diferentes linguagens e matemática fazem parte do ensino musical.
Para os pais
Em casa, a introdução da música deve ser de forma espontânea, como o canto dos pais para o bebê e quando a criança começa a aprender a falar. É preciso ensinar e estimular a criança a encontrar a música em qualquer lugar, como em um molho de chaves. Cursos de musicalização são bem-vindos para todas as idades, inclusive com os pais junto. É recomendado que o ensino de instrumentos ocorra a partir dos 6 anos.