Hoje cerca de 13 mil candidatos encerram as provas do vestibular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), concorrendo a cerca de 8 mil vagas. Apesar de o número de vestibulandos ser maior que o de lugares disponíveis na instituição, quando o ano letivo de 2006 começar haverá muitas carteiras vazias: das 86 opções oferecidas aos candidatos (entre cursos, habilitações e turnos diferentes), 38 têm concorrência menor que 1 vestibulando por vaga ou seja, várias turmas já começarão desfalcadas. O caso da PUCPR é reflexo de um cenário ainda pior em todo o Brasil, incluindo o Paraná. No estado, metade das vagas oferecidas anualmente nos vestibulares de instituições privadas não são preenchidas. O vazio chega a 65 mil postos (há aproximadamente outros mil vagos em instituições públicas), de acordo com os dados divulgados anteontem pelo Ministério da Educação (MEC). A ociosidade nas particulares equivale a duas vezes o total de estudantes ativos (de graduação e pós) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
No caso da PUCPR, haverá como contornar parte do problema. O curso vespertino de Arquitetura, por exemplo, tem apenas 34 candidatos para 60 vagas, mas os lugares que sobrarem serão preenchidos com os vestibulandos que não passaram na opção matutina do mesmo curso e escolheram a tarde como segunda opção. Segundo a PUCPR, em 2004 um em cada cinco cursos começou com menos alunos que o possível.
No Paraná, em 1995, de cada dez universitários, seis estavam em instituições públicas e quatro estudavam em faculdade paga. Hoje, a relação já se inverteu. Para o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Curitiba (Sinepe-PR), José Manoel Caron Junior, havia uma demanda reprimida por vagas no ensino superior no começo da década de 90. "No governo Fernando Henrique Cardoso houve uma abertura indiscriminada de faculdades. A dose foi exagerada", afirma.
Já o vice-reitor do Centro Universitário Positivo (UnicenP), José Pio Martins, tem outra opinião. "Certamente hoje a oferta é maior que a quantidade de jovens que podem pagar pela faculdade, mas ainda é menor que o número de pessoas que deviam estar estudando", diz ele. "É uma vergonha que o Brasil tenha menos de um quinto dos seus jovens nas universidades."
De acordo com o MEC, 17,8% dos brasileiros entre 18 e 24 anos estão no ensino superior. "Sem um processo agressivo de educação, que inclui a existência de muitas vagas na faculdade, o Brasil não chegará a lugar nenhum", completa o professor José Campos de Andrade, reitor do Centro Universitário Campos de Andrade (Uniandrade).
Andrade acrescenta que o excesso de vagas pode ser proposital. "Faculdades isoladas não têm autonomia para abrir novas vagas ou cursos quando quiserem. Então, elas se aproveitaram da generosidade do governo e pediram muito, mesmo sabendo que não teriam tantos alunos assim. Elas contam que no futuro a renda da população vai aumentar", explica.
Caron usa uma metáfora para comentar o prejuízo que as faculdades têm com as vagas não-preenchidas. "Se um avião parte lotado ou vazio, o gasto com combustível, com o salário do piloto e da tripulação é o mesmo. Mas, com o avião cheio, o preço das passagens paga por tudo. Se ele for vazio, a companhia tem de arcar com os gastos", compara. "Com escola é a mesma coisa." Martins relativiza a comparação. "Depende do curso. Se ele exige apenas professor e quadro-negro, a perda é muito menor do que quando se constrói um laboratório de odontologia para 100 alunos que apenas 50 usam", argumenta. Segundo o raciocínio de Andrade, nem haveria prejuízo, pois as faculdades que deliberadamente oferecem mais vagas já contariam com um número menor de alunos.
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